O crescente investimento de fundos de venture capital em startups latino-americanas está financiando a expansão internacional dessas empresas na região e até para a Europa e Estados Unidos, com modelos de negócio que não exigem muitos ativos, ajudando startups a expandirem fora dos países de origem.
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Os investimentos de venture capital quadruplicaram na região nos últimos dois anos, para um recorde de US$ 2 bilhões no ano passado, segundo dados da Associação de Capital Privado na América Latina (Lavca), um total já alcançado nos primeiros sete meses de 2019, segundo dados de mercado.
Analistas afirmam que o volume levantado nas rodadas de investimento neste ano poderá novamente dobrar, graças à ousada aposta do japonês SoftBank Group, que lançou em março um fundo de US$ 5 bilhões para investimento em startups na América Latina —o maior investimento de venture capital da história da região.
Os investimentos do SoftBank neste ano ajudaram a formar uma nova onda de unicórnios, como são conhecidas as startups que alcançam um valor superior a US$ 1 bilhão, com boa parte das expectativas de crescimento focadas no potencial regional.
André Maciel, sócio-diretor do fundo SoftBank Latin America, vê um grande potencial para as empresas de tecnologia melhorarem a baixa produtividade comum a vários países da região. “Com o avanço da inovação, há uma grande oportunidade para startups locais que tentam reduzir esse gap com tecnologia”, disse Maciel em uma entrevista recente à Reuters na sede do SoftBank Group, em São Paulo.
Investidores globais que não prestavam muita atenção a startups da região passaram a olhar América Latina de outra maneira no ano passado, depois de duas ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) bilionárias de fintechs brasileiras nas bolsas norte-americanas.
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As listagem atribuíram às processadoras de cartões StoneCo e PagSeguro Digital valores próximos a US$ 10 bilhões para cada uma, um marco para o mercado brasileiro de tecnologia.
Os IPOs estimularam novas rodadas de investimento de investidores procurando sinergia nos seus portfólios globais. “Nossas empresas na América Latina, por exemplo, podem aprender e se beneficiar da expertise de empresas asiáticas”, afirmou Maciel.
Expansão internacional
As startups latino-americanas surfando uma nova onda de capital também estão ansiosas para entrar em novos mercados e manter altas taxas de crescimento.
Enquanto para os bancos brasileiros a expansão internacional sempre trouxe desafios, as fintechs, como são chamadas as startups financeiras, estão contando com a facilidade de adaptar suas plataformas digitais fora do Brasil.
O Nubank, uma das fintechs brasileiras mais bem-sucedidas, iniciou operações no México e na Argentina, enquanto a fintech de empréstimos Creditas, que levantou US$ 231 milhões em uma rodada liderada pelo SoftBank no mês passado, também anunciou planos para expansão no México.
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O Rappi, aplicativo de entregas fundado na Colômbia, já mobiliza um exército de entregadores de motos e bicicletas na América Latina, contando com características comuns a capitais na região, como o trânsito difícil e baixo custo da mão de obra. O Rappi já tem operações no México e Argentina e deve usar a maior parte do US$ 1 bilhão levantado com o Softbank para expandir as operações no Brasil.
A startup brasileira Gympass, que vende pacotes flexíveis em academias para que empresas ofereçam como benefício aos funcionários, foi levada ao exterior por clientes multinacionais, que a encorajaram a operar também na Europa e nos Estados Unidos, segundo o executivo Marco Crespo.
A startup, que tornou-se um unicórnio em junho, com uma rodada de investimento de US$ 300 milhões liderada pelo Softbank, opera em 14 países europeus, incluindo o Reino Unido e Alemanha, e várias cidades norte-americanas, atendendo a funcionários de clientes como Unilever e Volkswagen AG. A maior parte das academias filiadas ao aplicativo está fora do país: 22 mil academias no Brasil e 47 mil no mundo.
Outras empresas estão contando com soluções tecnológicas únicas para atender a preocupações globais, como a questão da privacidade no uso de dados.
In Loco, uma startup de serviços de localização indoor fundada por estudantes de computação em Pernambuco, está abrindo um escritório em Nova York e vendendo serviços aos clientes nos Estados Unidos. A empresa anunciou na quarta-feira a captação de US$ 20 milhões para financiar a expansão para os EUA.
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Um dos principais argumentos para venda de serviços a bancos, seguradoras e outros aplicativos é que a In Loco analisa os dados de localização sem identificar os clientes, o que reduz preocupação com privacidade. “Soluções desenvolvidas no Brasil para problemas locais estão encontrando uma demanda global, e o país está se tornando um mercado beta para o mundo”, afirma Scott Sobel, fundador do fundo Valor Capital, investidor na Gympass e In Loco.
Mesmo investidores menores estão incentivando a expansão internacional das empresas em seu portfólio. Pedro Sirotsky Melzer, fundador da E.bricks Ventures, que já investiu cerca de R$ 300 milhões, diz que a Infracommerce, empresa brasileira que provê soluções que incluem pagamentos e logística para operações de e-commerce no Brasil, já está expandindo as operações para a Argentina.
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