A Vale registrou seu segundo prejuízo líquido trimestral seguido, com perdas de US$ 133 milhões no segundo trimestre, devido aos impactos relacionados ao rompimento de uma de suas barragens em Brumadinho (MG), informou a empresa. O resultado veio abaixo da expectativa do mercado, que esperava um lucro líquido de US$ 2,8 bilhões, em meio a um aumento nos preços do minério de ferro, segundo pesquisa realizada pela Refinitiv. A perda, contudo, foi menor do que a vista no primeiro trimestre, quando o prejuízo somou US$ 1,642 bilhão. No segundo trimestre do ano passado, a mineradora havia registrado lucro líquido de US$ 76 milhões.
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“Conforme progredimos para uma reparação completa e efetiva, o segundo trimestre foi um trimestre de transição para o negócio, com o rompimento da barragem em Brumadinho ainda impactando volumes, custos e despesas”, disse o diretor-presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo, no relatório trimestral. O resultado foi impactado principalmente em função de uma provisão adicional decorrente da ruptura da barragem, de US$ 1,5 bilhão.
Com o desastre, a empresa também foi levada a acelerar o descomissionamento da barragem de Germano, em Mariana (MG), causando um provisionamento de US$ 257 milhões. Uma terceira provisão, de US$ 383 milhões, também foi reportada pela mineradora, relacionada à Fundação Renova, criada para reparar os danos causados pela ruptura de barragem em 2015 da Samarco, joint venture da Vale com o Grupo BHP. No primeiro trimestre, a Vale havia feito um provisionamento de US$ 4,5 bilhões devido à tragédia de Brumadinho.
O rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro, deixou até o momento mais de 240 mortos confirmados, grande parte de funcionários da própria Vale, além de atingir regiões de mata, comunidades e rios da região.
Scott Schier, analista de mineração da Clarksons Platou, disse que, apesar do “resultado fraco”, está encorajado pelos planos da Vale de reiniciar capacidade adicional de minério de ferro. “A conclusão é que, dada a contínua incerteza que pesa sobre a Vale após o desastre devastador da barragem no fim de janeiro, nós mantemos nossa classificação neutra… por enquanto”, disse Schier.
Operacional
Maior produtora global de minério de ferro, a empresa teve um resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de US$ 3,098 bilhões entre abril e junho, também abaixo das expectativas do mercado, contra US$ 3,875 bilhões no segundo trimestre do ano passado. A expectativa do mercado era um Ebitda de US$ 5 bilhões, segundo pesquisa Refinitiv.
O desastre levou à paralisação de diversas atividades da Vale, para uma revisão de segurança, reduzindo o volume de produção. Chuvas atípicas na região Norte também prejudicaram o resultado da empresa. As vendas de minério de ferro da companhia caíram 15,5% entre abril e junho ante mesmo período de 2018, para 61,9 milhões de toneladas. Já a produção atingiu 64,057 milhões de toneladas, recuo de 33,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
O movimento e uma redução da oferta de minério de ferro da Austrália acabaram contribuindo para uma alta dos preços do minério de ferro no mercado global.
O preço médio realizado da Vale para finos de minério de ferro no segundo trimestre foi de US$ 94,6 por tonelada, cerca de 51% superior ao registrado um ano antes e 16,6% acima do realizado no primeiro trimestre, quando os preços já haviam reagido a uma menor oferta da Vale. Os prêmios de qualidade de finos e pelotas de minério de ferro alcançaram US$ 11,4/tonelada no segundo trimestre contra US$ 10,7/tonelada no primeiro, principalmente devido à maior contribuição do negócio de pelotas.
Para o futuro, a Vale afirmou que dados do mercado imobiliário chinês no primeiro semestre sugerem que a demanda por metais permanecerá alta, “com a expectativa de o governo chinês anunciar estímulos ao longo do resto do ano, o que criaria um suporte para o consumo de commodities no país em meio à guerra comercial entre China e EUA”.
“Além disso, preços do aço nos EUA e em outras regiões estão se recuperando, com sinais de tendência a permanecer em patamares elevados no segundo semestre em relação ao primeiro”, disse a empresa.
A dívida líquida da empresa recuou em US$ 2,305 bilhões ante o final do primeiro trimestre, para US$ 9,726 bilhões em 30 de junho, após o Tribunal de Justiça de Belo Horizonte autorizar a Vale a substituir R$ 5 bilhões bloqueados por outras garantias financeiras.
Além disso, a companhia explicou que houve ainda a liberação de R$ 1,6 bilhão do montante bloqueado, depois de um acordo firmado com o Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais. A liberação dos recursos, segundo a Vale, deverá ocorrer até agosto.
Em comunicado separado, a Vale ressaltou que atualizou projeções para o terceiro trimestre em comparação ao segundo: redução em torno de US$ 2,5/tonelada no custo caixa unitário C1 do negócio do minério de ferro; redução em torno de US$ 1,5/t em despesas unitárias de parada relativa a Brumadinho.