Resumo:
- Após dez anos de operação, empresa de compartilhamento de viagens não gera lucros e é considerada um péssimo negócio;
- Uber vive em guerra de preços constante com outros aplicativos de carona;
- No Brasil, a Uber absorve 80% do mercado, mas trava batalha com a chinesa DiDi.
“Nunca entre em carros com estranhos.” Seus pais lhe disseram isso quando você era criança?
Hoje em dia, as pessoas andam de carro com estranhos o tempo todo. A diferença é que usam um aplicativo de smartphone para combinar combinar os detalhes com um estranho específico. Como você deve ter notado, estamos falando da Uber, a maior empresa de compartilhamento de viagens do mundo.
É como uma empresa de táxi, mas que não possui carros nem emprega motoristas. Em vez disso, um aplicativo conecta motoristas e pessoas que precisam de uma carona.
Desde 2009, a Uber cresceu e se transformou em uma empresa de US$ 100 bilhões. Tornou-se tão grande e popular que é difícil imaginar o mundo sem ela.
Dificilmente as pessoas ainda pegam um táxi. Grande parte opta pelo Ubers.
O IPO mais especulado desde o Facebook
Após anos de crescimento extraordinário, a Uber fez seu IPO 10 de maio. Um IPO, como você deve saber, é quando uma empresa estreia na venda de ações na bolsa de valores. Marca a primeira vez que investidores individuais podem comprar os papéis da companhia.
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A estreia da Uber no mercado de ações foi um dos eventos financeiros mais especulados desde que os Facebook estreou na bolsa de valores em 2012.
A notícia se espalhou por todos os canais financeiros de TV. As manchetes diziam “o próximo Facebook”. Todos falavam sobre o assunto. Ouvi até histórias de pessoas que colocaram metade de suas economias no lançamento.
É compreensível, a Uber é uma empresa colossal de tecnologia que se tornou parte do cotidiano das pessoas. Ela mudou a forma como nos locomovemos. Causou uma disrupção cultural. Quem um dia poderia pensar que pegaríamos carona com estranhos em seus carros pessoais regularmente?
Mas na mesma proporção em que a Uber é uma companhia disruptiva, ela também é um péssimo negócio: suas ações são um terrível investimento. Não é necessário um mestrado em negócios para entender isso. Toda empresa precisa, eventualmente, ganhar mais dinheiro do que gastar. Ponto.
Sim, você pode sacrificar o lucro para conquistar clientes no início, mas, eventualmente, vai precisar ganhar fundos para cobrir suas despesas e recompensar os investidores. O problema é que, após 10 anos, a Uber ainda não é uma empresa lucrativa. Pior, suas perdas crescem em níveis astronômicos.
No ano passado, a companhia perdeu US$ 1,8 bilhão, enquanto no somente no último trimestre o valor chegou a US$ 5 bilhões. Para colocar isso em perspectiva, em seu IPO a Uber levantou US$ 9 bilhões. Cinco dos quais já foram queimados em um único trimestre.
A Uber perde 25 centavos de dólar para cada US$ 1, e uma média de US$ 1,20 a cada viagem realizada. A empresa queima dinheiro tão rápido que perdeu mais nos nove meses que antecederam o IPO do que a Amazon nos primeiros sete anos.
Uma conta de matemática básica.
Se você está perdendo dinheiro enquanto empresa, tem duas opções: cortar suas despesas ou aumentar os preços. A maior despesa da Uber é o pagamento de motoristas -cerca de 80% do dinheiro gerado é destinado a eles.
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Para gerar lucro a Uber precisa cortar o pagamento dos motoristas ou aumentar suas tarifas. E como será explicado adiante, nenhuma das duas opções é possível.
Dias antes do IPO da Uber, os motoristas boicotaram a empresa ao desligar o aplicativo e marchar pelas ruas em protestos por salários mais altos e melhores condições de trabalho.
Os motoristas da Uber ganham em média de US$ 10 a US$ 12 por hora nos EUA com dedução de despesas, segundo pesquisadores. Não é surpresa que estejam infelizes. O salário atual é quase equivalente ao salário mínimo federal.
A Uber não tem espaço para cortar os salários dos motoristas porque eles acabariam migrando para aplicativos concorrentes.
Se você está perdendo dinheiro e não pode cortar suas despesas, a única opção é aumentar os preços. O problema é que a Uber está em uma posição de impasse e não pode aumentar suas tarifas: uma guerra interminável de preços com a Lyft.
Os EUA são o maior e mais lucrativo mercado da Uber. Mas o país também representa um grande desafio.
Você provavelmente já ouviu falar sobre a Lyft, o maior concorrente da Uber nos EUA. Essas duas empresas brigam entre si há anos para manter as tarifas abaixo dos valores cobrados pelos táxis e roubar clientes umas das outras. Estima-se que combinadas as companhias tenham perdido US$ 13 bilhões e nenhuma tem um caminho traçado para a lucratividade.
No momento em que a Uber aumentar as tarifas, seus clientes devem mudar para a Lyft ou outro concorrente. Mas os problemas com a concorrência não terminam por aí. A empresa não consegue acompanhar o ritmo das companhias em outros países.
Uma forma para Uber aumentar seus lucros seria crescer globalmente. Mas as perspectivas são ainda mais sombrias.
A Bolt, uma empresa de compartilhamento de viagens sediada na Estônia, tem crescido rapidamente na Europa. Em muitas cidades europeias, já é o aplicativo número 1 de caronas. É um duro golpe, e uma barreira para o potencial de crescimento da Uber no Velho Continente.
Por exemplo, Londres tem sido um dos maiores e mais rentáveis mercados para a Uber. Durante anos, a empresa não teve nenhuma concorrente séria na cidade. Agora tem a Bolt.
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Em outros lugares, a Uber já perdeu a batalha para a concorrência local:
Deixou a Rússia depois de perder a batalha com o Yandex.
Saiu da China depois de ser deixado para trás pelo didi DiDi.
Deixou o sudeste da Ásia depois de perder a batalha com o Grab e o Go-Jek -a região corresponde a mais de 70% do mercado global de compartilhamento de viagens.
E esses concorrentes não são apenas um problema local. Assim como a Uber, eles estão de olho no mercado global.
No Brasil, a Uber possui uma participação de mercado de 80%. Poderia ser uma máquina de fazer dinheiro para a empresa, mas ela está sangrando por uma guerra de preços com a gigante chinesa DiDi.
É uma corrida para o fundo que força a Uber a manter os preços baixos e as despesas de marketing altas.
Os clientes da Uber não se preocupam com a Uber. Você pegaria carona pelo aplicativo se custasse o dobro do proposto pela Lyft? Esse é o quanto a empresa precisa aumentar suas tarifas para começar a ganhar dinheiro. Provavelmente não.
Isso ocorre porque o aplicativo da Uber não é diferente de seus concorrentes: não existe fidelidade.
De fato, mais de 34% dos norte-americanos que usam serviços de carona optam por um dos dois aplicativos, Lyft e Uber. O que representa um aumento de 50% em relação a dois anos atrás, segundo a Vox.
Muitas pessoas alternam entre Uber e Lyft, escolhendo o aplicativo que oferece o melhor valor no momento. E com a concorrência feroz cobrando tarifas iguais ou mais baixas, é impossível para a Uber aumentar os preços.
Novamente, essa é uma corrida para o fundo do poço.
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