Resumo:
- Os números de receita da Saudi Aramco são atrativos para investidores, mas histórico de insegurança governamental preocupa;
- O príncipe Mohammad bin Salman já mostrou que pode abrir mão das leis do país caso elas não sejam de seu agrado;
- O país se encontra em um momento complicado do ponto de vista geopolítico e foi alvo de ataques há pouco mais de um mês;
- O fato de a empresa ser controlada pelo Estado traz um histórico negativo na projeção de seu futuro.
A Saudi Aramco pode ser a empresa mais lucrativa do mundo, com mais de US$ 200 bilhões de receita bruta no último ano. Mas mesmo que o IPO da companhia saia, investidores prudentes deveriam evitar as ações a qualquer custo.
Veja na galeria a seguir 10 razões para não investir:
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GettyImages/StanislavKrasilnikov 1. Risco geopolítico
Um ataque de mísseis no dia 14 de setembro desabilitou duas das maiores joias da Saudi Aramco, a planta de estabilização de petróleo Abqaiq e o campo petrolífero Khurais. Já se foi o tempo em que as ameaças ao fluxo de petróleo na Arábia Saudita seriam o suficiente para aumentar o preço do produto. Depois de saltar 20% com o ataque a Abqaiq, o petróleo bruto caiu para US$ 60, mais baixo do que antes. Em meio a tensões, o presidente norte-americano Donald Trump parece estar cansado de proteger o país, e a batalha do Iêmen mostra que os sauditas não conseguiriam se defender em uma guerra contra o Irã. Amrita Sen, da consultoria Energy Aspects, afirma: “A possibilidade de ataques no futuro é real e afeta o mercado”.
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GettyImages/StanislavKrasilnikov 2. Crescimento zero
Na área de commodities, é preciso ter escala para competir. Mas, quando você consegue atingir essa escala, o crescimento fica travado pela lei dos números grandes. Uma empresa pequena pode rapidamente dobrar de tamanho e valor, mas a Aramco não pode. Sua produção está estagnada ao redor dos 10 milhões de barris por dia desde 2014. E, mesmo antes dos ataques a Abqaiq, a empresa era obrigada a usar menos de 90% de sua capacidade para satisfazer um acordo de redução de volumes da Opep, a Organização dos Países Produtores de Petróleo. No primeiro semestre de 2019, a renda líquida e investimento de capital da Aramco caíram 12%, para US$ 47 bilhões e US$ 14,5 bilhões, respectivamente. De acordo com a análise da Bernstein Research, a Aramco não terá fundos suficientes neste ano para pagar dividendos vindos de fluxo de caixa, então, terá de fazer empréstimos para honrar os pagamentos.
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GettyImages/ChungSung-Jun 3. Nenhuma autonomia
“A empresa, ativa ou não na Opep, age como uma ferramenta primária da política de petróleo saudita, com o rei, não o conselho, tomando as decisões”, afirma Bill Farren-Price, diretor da RS Energy Group. Na preparação para a abertura de capital, o rei Salman diminuiu os níveis de impostos da Aramco de 80% para 50% em 2017, fazendo com que a companhia tivesse de pagar “apenas” US$ 100 bilhões em tributos ao reinado em 2018. A Aramco promete dividendos de pelo menos US$ 75 bilhões por ano aos acionistas assim que suas ações forem a público, mas, com os problemas orçamentários da Arábia Saudita, esses números podem ser cortados por decreto real.
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GettyImages/StanislavKrasilnikov 4. Dúvidas sobre a avaliação
O príncipe Mohammad bin Salman regularmente avaliava a Aramco em US$ 2 trilhões. Esse valor sempre foi alto demais. As maiores e mais bem geridas empresas de petróleo do mundo fazem negócios com rendimento de dividendos perto dos 5% (Exxon 5%, Chevron 4%, Shell 6,5%,Total 5,6%, Sinopec 8%). Para gerar um rendimento de 5% nos US$ 75 bilhões de dividendo, a avaliação do valor de mercado deve chegar na ordem do US$ 1,5 trilhão. Em uma base de preço/rendimento, aplicar a mega taxa sobre P/R de 15 ao rendimento líquido de aproximadamente US$ 100 bilhões chega no mesmo valor de US$ 1,5 trilhão.
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GettyImages/StanislavKrasilnikov 5. Alternativas em excesso
Até mesmo US$ 1,5 trilhão deve ser um valor muito alto, considerando que o mundo não precisa de mais nenhuma petroleira gigante, controlada pelo Estado e com capital aberto. Por exemplo, a Gazprom, a PetroChina e a Petrobras sofreram com escândalos de corrupção e perderam pelo menos 40% de valor na última década. A Equinor, gigante norueguesa conhecida anteriormente como Statoil, é considerada a gigante petrolífera estatal mais bem administrada. Ela perdeu apenas 20% de valor na última década e fez grandes avanços na redução da intensidade de carbono em suas operações, uma clara vantagem competitiva.
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GettyImages/AnadoluAgency 6. Erros no tratamento do capital
No final de 2017, o príncipe prendeu dezenas de bilionários e magnatas sauditas e os instalou em uma prisão extravagante no The Ritz-Carlton, em Riyadh. Dentre os presos, estavam capitalistas famosos, como o príncipe Alwaleed bin Talal, conhecido há tempos por seus investimentos astutos nas últimas décadas. Mohammad bin Salman retirou ativos no valor de US$ 100 bilhões deles sem nenhum precedente legal. Não há mais sauditas na lista de bilionários globais da Forbes. O príncipe Alwaleed declarou que o preço de sua liberdade foi de US$ 6 bilhões. Antes figura conhecida na CNBC, ele pouco tem sido visto. Se esse é o tratamento que empreendedores de sucesso recebem na Arábia Saudita, existe razão para ser um? Capital apenas flui para lugares onde é bem tratado e protegido pela lei. Em 2016, a Arábia Saudita atraiu US$ 7,4 bilhões em investimentos estrangeiros diretos. Em 2017, o FDI afundou para US$ 1,4 bilhão, recuperando-se apenas em 2018 para US$ 3,2 bilhões. O Grupo Banco Mundial coloca a Arábia Saudita como o país 92 entre 190 no quesito facilidade de fazer negócios. Existem muitos outros lugares para investir.
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GettyImages/Pool 7. Poder dos perfuradores norte-americanos
Se é absolutamente necessário para você possuir ativos de petróleo e gás, não é melhor que estejam em lugares politicamente estáveis como Texas ou Novo México, onde os direitos de propriedade são sacrossantos, contratos são mantidos pelo Estado de Direito e a probabilidade de ataques irreparáveis de mísseis são ironicamente baixos? Perfuradores norte-americanos descobriram enormes reservas na última década que agora estão à venda, com preços 50% ou mais baratos do que no ano passado. A Apache Corp. caiu 50%, a Occidental Petroleum 44%, e a EOG Resources 17%, em relação aos níveis do ano anterior. Todos têm muito mais espaço para crescer do que a Aramco e não são sobrecarregados com a pressão de ser um cofrinho real.
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GettyImages/StanislavKrasilnikov 8. Que direitos humanos?
O assassinato do colunista do “Washington Post” Jamal Khashoggi no ano passado ainda ganha manchetes, mas não se pode acreditar por um segundo que ele foi o primeiro dissidente morto e desmembrado por uma equipe de assassinos sauditas. Ao mesmo tempo que o príncipe MbS acha que pode aplacar a liberalização concedendo às mulheres permissão para dirigir, ele aprisiona o ativista Loujain al-Hathloul por mais de um ano. As mulheres continuam sendo cidadãs de segunda classe e devem cobrir a cabeça em público. Não há pluralismo religioso, liberdade de reunião ou expressão. O álcool é proibido. Mas agora você pode obter um visto de turista para ver como essa monarquia absoluta mantém seus 30 milhões de súditos alinhados.
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GettyImages/StanislavKrasilnikov 9. Poder absoluto corrompe
Em um país que proíbe toda oposição política, quando a mudança finalmente chegar ao reino, não será ordenada. Em uma conversa no final de 2017, Khashoggi me disse que não era um revolucionário. “Eu não sou contra o sistema. Sem a monarquia, o país inteiro entraria em colapso”, afirmou. O que ele mais queria para a Arábia Saudita eram as liberdades que se tem como garantidas nos Estados Unidos. “Gostaria de ter liberdade de expressão.”
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GettyImages/Reza 10. A era do petróleo está no fim
O mundo nunca usou mais petróleo. São cerca de 101 milhões de barris por dia. E há muito mais de onde isso veio, graças aos avanços na perfuração direcional e no fraturamento hidráulico. O mundo está cheio de petróleo agora mesmo após o quase total colapso da Venezuela (que tem ainda mais matéria-prima do que a Arábia Saudita) e o bloqueio ao petróleo iraniano. Quando o “pico petrolífero” chegar nos próximos 25 anos, será por conta não de suprimento inadequado, mas de demanda sem brilho, impulsionada pela adoção de veículos elétricos. Isso estripará o preço do petróleo e, com ele, o valor das reservas da Aramco. Considerando que, atualmente, a Aramco bombeia cerca de 4 bilhões de barris por ano, as reivindicações sauditas de há 260 a 300 bilhões de barris em reservas comprovadas de petróleo devem ser vistas com dúvidas. Não há valor em um barril de petróleo de um solo que ninguém conseguirá perfurar por 50 anos.
1. Risco geopolítico
Um ataque de mísseis no dia 14 de setembro desabilitou duas das maiores joias da Saudi Aramco, a planta de estabilização de petróleo Abqaiq e o campo petrolífero Khurais. Já se foi o tempo em que as ameaças ao fluxo de petróleo na Arábia Saudita seriam o suficiente para aumentar o preço do produto. Depois de saltar 20% com o ataque a Abqaiq, o petróleo bruto caiu para US$ 60, mais baixo do que antes. Em meio a tensões, o presidente norte-americano Donald Trump parece estar cansado de proteger o país, e a batalha do Iêmen mostra que os sauditas não conseguiriam se defender em uma guerra contra o Irã. Amrita Sen, da consultoria Energy Aspects, afirma: “A possibilidade de ataques no futuro é real e afeta o mercado”.
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