Sentados lado a lado em um moderno café em Manhattan, saboreando um suco de abacaxi com cenoura que custou US$ 9, os cofundadores de 29 anos da empresa de investimento cripto Multicoin Capital contam quantas moedas digitais gastaram. E eles podem ganhar milhões de dólares se elas se valorizarem. “Daqui a dois anos, ‘zcash’ não vai valer nada”, disse Kyle Samani, falando sobre a criptomoeda focada em privacidade que já existe há três anos. Atualmente, um zcash vale US$ 66.
Pesquisas mostram que poucos usuários do zcash realmente aproveitam suas características de privacidade. Pior ainda: outras criptomoedas, como o Ethereum, estão copiando essas tecnologias. Um representante do zcash defende que “se você quer uma exchange com privacidade, não tem nada como o zcash”.
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Tushar Jain, também cofundador da Multicoin, aponta outra criptomoeda para a qual ele não vê um futuro. “Vemos uma queda pública do XRP”, diz ele, referindo-se à moeda cripto que é usada pelo banco de São Francisco Ripple para transações internas.
De escritórios em Austin, no Texas, eles gerenciam um fundo cripto de US$ 100 milhões apoiado por investidores de risco, incluindo a empresa de investimentos de Marc Andreessen e Fred Wilson, a Union Square Ventures. A Multicoin concentra suas apostas – altas ou baixas – em 11 criptomoedas encontradas em exchanges públicas. Eles também investem em 20 startups cripto de capital privado.
Em um mercado onde se manter público é opcional e tendências têm um grande papel no valor das moedas, os dois cofundadores usam análise de dados e pesquisas para informar suas transações. Acima de tudo, Samani e Jain obtiveram sucesso porque eles questionam todas as informações que recebem. “Na comunidade cripto, algumas coisas são vistas como religião. Eles dizem: ‘Acredite, acredite nisso para sempre’”, conta Samani. “Nunca aceitamos de cara que o que eles falam é verdade.” Essa abordagem cética vem dando certo. De acordo com os resultados da Multicoin, seu fundo deu um retorno de 143% nos últimos dois anos.
Ao controlar suas moedas e apostar no gerenciamento ativo, a Multicoin tem se saído melhor que a média do mercado nos últimos 24 meses.
Jain nasceu na Índia e cresceu em Astoria, no Queens, em Nova York. Seus pais tinham uma loja de roupas em Manhattan. Já Samani cresceu em Austin, no Texas, em um bairro tranquilo. Os dois se conheceram na Universidade de Nova York em 2008, onde estudavam finanças e se tornaram melhores amigos mesmo com a grande diferença de personalidade. Wilson disse que Samani pode ser “um pouco controverso e agressivo”, enquanto Jain é reservado e quieto.
Quando se formaram, em 2012, os dois trabalhavam na companhia de relatórios médicos do pai de Samani até estruturarem suas próprias startups. Samani fazia aplicativos para o Google Glass – iniciativa que não evoluiu – e Jain criou um negócios de dados que ajudavam médicos a acharem pacientes para testes. Mas, no meio de 2016, os dois começaram a aprender sobre blockchain. Eles se juntaram e, em maio de 2017, criaram a Multicoin, no auge da febre cripto. Conseguiram US$ 2,5 milhões quase que imediatamente. Seu portfólio dobrou no fim de 2017.
Além de usarem redes sociais – Samani tem 36 mil seguidores no Twitter -, a dupla também começou a publicar longos artigos que explicavam por que criptomoedas feitas para serem o meio de pagamento de um só produto não valiam a pena. “Às vezes, as respostas das pessoas têm mais de mil palavras”, conta Jain, referindo-se aos feedbacks sobre seus posts. “Temos um time de 14 pessoas, mas o investimento é o de uma equipe de 50.”
Os posts no blog da Multicoin também servem de propaganda para novos investidores e empreendedores que procuram investimentos. Em julho de 2018, a empresa já tinha arrecadado US$ 70 milhões de David Sacks (que faz parte da chamada “máfia do PayPal”), Wilson e outros investidores. O ano foi péssimo para criptomoedas – o bitcoin, por exemplo, caiu 74%. Mesmo assim, as perdas da Multicoin de limitaram a 33% em função da quantidade de litecoin, XRP e ethereum que detinha.
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Lucrando no caos
Jain e Samani gostam de apostar nas altas do bitcoin. Eles monitoram o número de contas que têm mil ou mais bitcoins, avaliadas em, aproximadamente, US$ 9 milhões em valores atuais. Esse número subiu e, agora, investidores seguram seus bitcoins por mais tempo. Esses fatores, somados ao “halving”, iniciativa que cortará o número de bitcoins criados por dia pela metade, os convenceu a buscar mais opções de compra de bitcoins.
Além de suas apostas em exchanges cripto, a Multicoin investe também diretamente em startups como a Helium, que vende hotspots de internet de US$ 495 que permitem que seus donos compartilhem sua rede com pessoas ao redor – ganhando criptomoedas enquanto fazem isso. Com o Helium, a empresa de patinetes elétricos Lime conseguiu controlar seus veículos sem precisar pagar as taxas de wifi da Verizon. “Estamos esperando um retorno dez vezes maior”, disse Jain, que conheceu o CEO da Helium graças a um post no blog.
Um investimento da Multicoin que não funcionou foi o EOS, um token criado pela startup Block.one que conseguiu US$ 4 bilhões em uma operação de oferta inicial em moedas (ICO). O token começou a US$ 11,60, mas hoje, é vendido a US$ 4.
“Queria que tivéssemos desenvolvido um relacionamento melhor com o time do EOS para entender a visão que eles tinham para o protocolo e como eles pretendiam desenvolvê-lo”, disse Samani, soando como um investidor que calculou mal sua capacidade de gerenciamento.
Se existe uma lição desses três anos de transações em cripto, é que não existe lugar para investimento passivo com bens digitais. “Os mercados cripto são os menos eficientes que eu já vi na vida, e isso significa que gerenciamento ativo é a chance de brilhar.”
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