O governo argentino informou ontem (24) aos demais países do Mercosul que não irá participar das negociações em andamento para futuros acordos comerciais do bloco, mantendo apenas as que já estão em conclusão com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), disseram autoridades.
O comunicado da Argentina foi feito durante a reunião por videoconferência dos coordenadores nacionais do Mercosul, na tarde de ontem, quando os argentinos informaram os demais países do bloco – Brasil, Uruguai e Paraguai – que não poderiam mais acompanhar as negociações extrarregionais, disse à Reuters o secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, embaixador Pedro Miguel Costa e Silva.
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“As negociações com UE e EFTA eles vão concluir com a gente porque já estão fechadas. No caso das demais – Coreia do Sul, Singapura, Canadá, Líbano, e íamos iniciar outras -, eles abandonam o barco”, disse o embaixador. “Não foi uma surpresa. Desde que mudou o governo sabíamos que iam mudar a linha”.
O EFTA é formado por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.
A alegação do governo argentino é que a situação interna e externa da sua economia, a situação social do país e o que esperavam que o mundo vá se tornar depois da epidemia de coronavírus o levam a outra opção econômica.
Em um anúncio oficial, a chancelaria do Paraguai – que ocupa a presidência pró-tempore do bloco – informou que a “Argentina informou que adotou essa determinação em atenção a prioridades de sua política econômica interna, agravada pela pandemia de Covid-19, e indicou que não será obstáculo para que os demais Estados-membros prossigam com os diversos processos negociadores.”
O Ministério das Relações Exteriores da Argentina disse separadamente que já havia comunicado preocupações ao bloco sobre acordos de livre comércio com Coreia do Sul, Singapura, Líbano, Canadá e Índia, entre outros.
“A Argentina deixou claro que a incerteza internacional e o estado de nossa economia sugerem interromper o progresso nessas negociações”, disse o ministério das Relações Exteriores da Argentina em comunicado divulgado também ontem.
A Argentina confirmou que continuará trabalhando com o Mercosul para avançar com acordos com a UE e EFTA.
Segundo o negociador brasileiro, os demais países vão agora informar aos parceiros com que há negociações em curso ou conversas iniciais sobre a decisão argentina e trabalhar os mecanismos que permitam as negociações seguirem sem a Argentina.
“Vamos começar um trabalho para encontrar os mecanismos que vão permitir os outros três continuarem as negociações e a Argentina ficar de fora. Ainda estamos debatendo isso”, disse Pedro Miguel. “Não tem risco de judicialização. É uma conversa técnica, precisamos de um tempo para trabalhar. O Mercosul é uma construção de muitos anos, o bloco é muito flexível e criativo. Sempre tem espaço para encontrarmos soluções.”
Essa não seria a primeira vez que um dos países do bloco fica de fora da negociação de um acordo comercial. Quando as conversas com a UE foram retomadas em 2012, ainda no governo Dilma Rousseff, a Venezuela – então recém-admitida no bloco – preferiu ficar de fora por considerar que não teria condições de aderir ao Mercosul e participar de uma negociação deste porte ao mesmo tempo. O país acabou nunca cumprindo os requisitos de adesão e foi suspenso do Mercosul. (Com Reuters)
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