Warren Meyer, empresário da indústria de viagem e lazer, olha com pena sua indústria. “Existem restaurantes que estão fechando para sempre”, diz ele. “As companhias aéreas não enchem metade de seus assentos.” Mas em termos relativos, ele está prosperando. Na época do Memorial Day (celebrado em 25 de março), um terço de seus 150 locais estavam se preparando para abrir. E Meyer prevê que ainda vai igualar sua receita neste ano, o que é uma grande vitória em um segmento muito prejudicado em 2020.
Tudo se resume a máxima imobiliária de localização. Embora possa demorar anos até que as pessoas se amontoem novamente no saguão de um hotel, elas ainda querem entrar nos estabelecimentos dele: a Recreation Resource Management (RRM) de Meyer administra acampamentos e trilhas em parques públicos em oito estados. Com grande clientes como o Serviço Florestal dos EUA, os departamentos de parques de estados e municípios e proprietários de barragens como a Tennessee Valley Authority. Mas, às vezes, eles são clientes relutantes, um reflexo da crença entre ambientalistas e políticos de que é errado que um capitalista lucre com terras públicas. Mas, previsivelmente, agências governamentais com pouco dinheiro querem discutir o arrendamento.
Segundo Meyer, porém, em todos seus locais, ele paga mais em aluguel ao governo do que em lucro. Além disso, a maioria dessas agências já estava perdendo dinheiro nos acampamentos antes de entregá-lo à RRM.
A pandemia é uma ameaça mortal para a indústria de viagens, mas não para a RRM. A maioria de seus visitantes (2,4 milhões no ano passado) vive dentro dos famosos trailers. E, para os Estados Unidos em lockdown, o ar livre nunca pareceu tão atraente. Em um de seus acampamentos no Arizona, diz Meyer, cem clientes frustrados saltaram sobre portões fechados para usar um parque ilegalmente. “Muitos acampamentos do governo foram construídos com o distanciamento social como uma de suas éticas”, diz Meyer. O preço de estacionamento também é justo: geralmente entre US$ 22 e US$ 26 por noite, com um desconto de 50% para os visitantes do Serviço Florestal, aproximadamente um terço deles, com um passe de idosos. E um local com uma conexão elétrica, água e sistema de esgoto custam alguns dólares a mais.
A crise econômica, paradoxalmente, pode até ajudar Meyer a se expandir. Na recessão, uma década atrás, quando as verbas legislativas para manutenção e melhorias dos parques nacionais acabaram, os departamentos de parque estaduais imploraram para que Meyer assinasse e pagasse por adequações necessárias, como cabines e banheiros novos. O que ele está disposto a fazer de novo, se o contrato for grande o suficiente (seus contratos vão de 5 a 50 anos).
Pergunte a Meyer qual a mágica ele fez para transformar um prejuízo governamental em um lucro privado, e esse libertário de 58 anos lhe dará uma resposta muito espirituosa. Tudo se resume ao seguinte: uma concessionária com fins lucrativos é motivada a tornar uma operação mais eficiente. E uma agência governamental é motivada para torná-la menos eficiente. No governo, ele diz, “o pagamento e o prestígio se baseiam no tamanho e na equipe”.
Um departamento de parques governamentais contrata profissionais das ciências ambientais que recebem salários em tempo integral e benefícios custosos. Com raras exceções, a RRM contrata aposentados que vivem em seus próprios trailers em um de seus acampamentos. Muitos deles são casais que dividem tarefas. A maioria deles está no Medicare (sistema de seguro de saúde norte-americano). Eles trabalham meio período e começam com um salário mínimo.
Exploração? Talvez não. A maioria dos 400 trabalhadores retorna para a próxima temporada. Meyer recebe 5.000 candidatos para 50 a 100 vagas.
Foram as falas sobre economia de esquerda que colocaram Meyer no gerenciamento de parques. Há duas décadas, ele publicou um post sobre privatização de serviços governamentais. Um leitor que possuía uma empresa de concessão quis saber se Meyer tinha coragem de suas convicções: “Compre-me!”. E Meyer fez justamente isso.
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E assim, aos 40 anos, Meyer deixou a consultoria e se graduou em engenharia em Princeton e administração de empresas em Harvard, para tornar os visitantes do parque confortáveis. É uma linha de trabalho muito perigosa. Por exemplo, um urso já machucou um campista (Meyer resolveu com uma reivindicação de dano); e um jacaré passou a frequentar um lago na Flórida usado por crianças. Mas, para Meyer, os bichos mais assustadores andam com duas pernas.
A RRM assumiu um parque na Califórnia, que passava por um caso grave de manutenção atrasada. Inspetores do governo entraram e condenaram o uso de um convés antigo com madeira podre. Meyer obedientemente removeu o convés. Em seguida, ele foi processado por remover este convés sem uma permissão de “remoção de convés”. “Eu pensei que ia para a cadeia”, diz ele.
Ele escapou desse contratempo, mas logo em seguida teve mais problemas com as autoridades da Califórnia por colocar um quiosque em uma área de estacionamento. A ofensa: “deixar de fazer uma análise do solo”. Para satisfazer os burocratas, a RRM teve o asfalto aberto, coletou uma amostra de solo e substituiu o asfalto.
Advogados ferozes estão por toda parte, especialmente na Califórnia. Por exemplo, uma lei estadual exige um intervalo de almoço não remunerado de meia hora, e alguns trabalhadores pediram a Meyer, por escrito, uma permissão para trabalhar durante o intervalo para que pudessem ganhar meia hora extra de pagamento. Ele concordou. Então, um advogado apareceu com pedidos de indenização. O arranjo era inválido porque deve haver um documento de almoço separado para cada dia, em vez de um documento para todos os dias.
Ele se recusou a resolver o processo de uma de suas trabalhadoras da Califórnia, que alegou ter sido intimidada por sua gerente –que, por acaso, era a própria irmã dela. Mas o caso custou a Meyer US$ 20 mil.
O absurdo de disputar com governo, que é dono das terras e também serve de regulador e de adjudicador, esgotaria a paciência da maioria dos empresários. Para aqueles que podem suportar o tormento, porém, as recompensas são suficientes. Meyer diz que, em um bom ano, a RRM tem margem de lucro com uma receita média de US$ 14 milhões.
Meyer tem 6.000 acampamentos que fazem parte de seu império. Existem outros 380 mil locais em terras públicas que ele poderia procurar, e ele ainda pretende dobrar o tamanho de sua operação dentro de alguns anos. “Se eu quisesse sentar na praia e relaxar, poderia vender por três vezes mais o Ebitda”, diz ele. “Mas eu não seria capaz de colocar o dinheiro no Tesouro e obter o mesmo fluxo de dinheiro”. Ele planeja continuar, enfrentando todos empecilhos.
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