O mercado financeiro acordou em alvoroço com a nova campanha publicitária do Itaú Unibanco. Nela, a quase centenária instituição financeira confronta o posicionamento das corretoras independentes de investimento, que proliferaram nos últimos anos e têm feito frente a um serviço até então só oferecido pelos bancos. Sobrou até para a XP, corretora com US$ 38 bilhões em ativos sob gestão, criada por Guilherme Benchimol, em 2001, e da qual o Itaú é dono de 49,9%.
Na campanha publicitária do Personnalité, segmento de alta renda do banco, a instituição coloca em xeque o discurso das concorrentes. O comercial estreou na noite de ontem, no intervalo do “Jornal Nacional”, da Rede Globo.
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“A moda aqui, em 2019, é ter conta em corretora”, começa o ator do filme de 30 segundos. “Assessor também tá na moda. Insiste o tempo todo: ‘Investe nisso, investe naquilo. Não tem risco’. Estou me sentindo o rei de Wall Street.” Na sequência, o mesmo ator, mas agora em 2020, supostamente depois de uma queda nos mercados, comenta: “Aqui, em 2020, deu pra ver que não tinha risco para ele [o assessor], que ganha comissão por tipo de investimento. Ainda bem que você deixou o dinheiro no Itaú Personnalité, que tem especialistas isentos”.
Com uma única tacada, o banco atacou três pilares nos quais os agentes independentes se apoiam para enfrentar a concorrência bancária e abocanhar uma fatia do mercado de investimentos. Um deles é a diversidade de produtos. As corretoras afirmam trabalhar com uma variedade muito maior de opções de investimentos do que os bancos, acusados de oferecerem apenas os seus próprios produtos. A segunda é o sistema de comissionamento. Como os independentes são comissionados, o banco questiona se eles seriam realmente isentos nas ofertas feitas aos clientes. E, por fim, a agilidade tecnológica apregoada pelos corretores como vantagem na hora de definir uma carteira.
Em meio à repercussão da nova campanha, André Rodrigues, diretor-executivo de varejo do Itaú, disse à imprensa que os assessores das corretoras independentes são remunerados de acordo com o rendimento dos produtos oferecidos aos clientes e que, como uns oferecem rebates maiores do que os outros, a recomendação não seria totalmente imparcial. E ainda explicou que, no caso dos bancos, os agentes e assessores possuem uma remuneração fixa, modelo que contribui para indicações totalmente isentas.
A resposta de Benchimol
Benchimol usou as redes sociais para se manifestar. “Estamos há 20 anos lutando contra um sistema financeiro concentrado que nunca inovou e nunca se preocupou com o que realmente importa: o cliente. Tenho certeza que os bancos preferem o Brasil do passado, com juros altos e baixa concorrência, explorando ainda mais os empresários e os investidores individuais”, escreveu em um post no Linkedin.
“Quem nunca recebeu uma oferta do seu banco com um cheque especial abusivo, um empréstimo com as mais altas taxas de juros do mundo, um ‘investimento’ na caderneta de poupança, um título de capitalização desnecessário, um fundo com taxas exorbitantes, um consórcio para bater a meta do fim do mês e assim por diante?”, perguntou.
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O proprietário da XP, que hoje é um dos 20 brasileiros mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 3 bilhões, continua a mensagem lembrando suas origens e os investimentos em informação. “Desde o início, levamos educação financeira para as pessoas e mostramos que investimento se faz com visão de longo prazo e transparência.”
No post, Benchimol aborda, ainda, a crítica feita ao sistema de comissionamento. “A nova campanha do Itaú ataca o comissionamento dos assessores na distribuição de produtos financeiros, como se ganhar dinheiro com o trabalho fosse errado. Sempre fomos transparentes nisso. O assessor é um empresário, um empreendedor que tem a sua própria empresa e somente sobrevive se a visão for de longo prazo, com um cliente realmente satisfeito e muita ética em todas as suas atitudes. Se ele falhar, não poderá mudar de emprego, mas, sim, fechará o seu negócio”, escreveu, dizendo, em seguida, que o índice de satisfação dos clientes da XP é o mais alto do sistema financeiro.
“A campanha do Itaú só reforça que estamos no caminho certo. Para o maior banco do país, com mais de 90 anos de tradição, ir a público e ofender uma profissão tão fundamental para o desenvolvimento financeiro dos brasileiros é porque realmente percebeu que não consegue mais competir colocando o cliente em primeiro lugar. Tenho uma certeza: se tem algo que o banco não é, nem nunca foi, é ser feito para você. Apesar de toda a nossa história, estamos só no começo. Podem ter certeza de que não descansaremos enquanto todos os abusos dos bancos não acabarem”, finalizou.
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