Em 1974, Ray Dalio, bilionário e fundador da Bridgewater Associates —uma das maiores gestoras de hedge funds do mundo— pisou pela primeira vez no Brasil. Seu sentimento era de euforia em meio a um país em ascensão. “Os brasileiros eram muito diferentes. Diziam que Deus era brasileiro e estavam em desenvolvimento. É claro que você queria investir nessa terra”, relembrou durante sua palestra do evento online “Expert XP”, da XP Inc., na noite de ontem (14).
Sua memória, porém, não foi contada aos espectadores como forma de introduzir uma análise da situação financeira brasileira atual, mas sim do mundo. Da nova ordem global, que assim como o bilionário fez nos anos 1970, tende a direcionar mais atenção a países em desenvolvimento nos próximos anos, impulsionando a diversidade no mercado de investimentos.
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De repente, a ordem global que se mantém mais ou menos intacta desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, está sendo movimentada. A descentralização de poder dos Estados Unidos e do dólar como moeda universal pode se tornar realidade, tendo sido acelerada pela pandemia de coronavírus. Tal cenário, segundo Dalio, tem como base três questões cíclicas da história da humanidade, embora redesenhadas sobre uma realidade completamente atípica.
A primeira delas é a impressão de moeda e a distribuição de dinheiro nos EUA. “Em março de 1933, o mercado de ações subiu durante a depressão. A mesma coisa aconteceu em março desse ano, elevando o preço dos ativos. Com isso, todos os investimentos concorrem entre si e há maior liquidez do mercado, fazendo com que as taxas de juros se elevem”, explica. Com o mais profundo declínio do PIB desde 1900, esse é o cenário norte-americano atual, distante de sua melhor fase.
Toda essa turbulência financeira gera ainda mais desigualdade, o que configura o segundo fator de destaque para o mundo pós-pandemia. Em períodos de recessão e grandes disparidades de riqueza, a tendência é o surgimento de conflitos. “O sistema não é justo e isso se manifesta no populismo que estamos vivendo em diversos países, por exemplo.” Como um emaranhado de setores que formam uma sociedade e uma organização mundial, essas políticas oferecem implicações econômicas e de mercado, além de sociais e políticas, afetando a forma como os países se relacionam entre si.
Isso se encaixa perfeitamente com o último tópico: o crescimento de uma nova e desafiadora grande potência, a China. Donos de uma singularidade reconhecida no setor tecnológico —tão importante para o futuro— os EUA estão precisando lidar com a força da vizinha asiática no mercado de inovação digital. Para muitos, esse seria o princípio de uma segunda “Guerra Fria”. Mas, para Dalio, a questão é completamente atípica. “A Rússia nunca foi uma potência econômica como a China”. O conflito atual é exclusivo e historicamente inovador. “Estamos vivendo quatro ‘guerras’ atuais: comercial, tecnológica, geopolítica e de capital.”
O novo normal pode estar longe da normalidade, mas é realmente um recém-nascido misterioso. Com incertezas sobre o poder dos EUA e a ascensão de potências como a China, o bilionário revela que, na área financeira, o “cálice sagrado para ganhar dinheiro é a diversidade de investimentos não correlacionados.”
“Só para simplificar: imagine um investimento que te dê 10% de retorno, com uma volatilidade de 10% também. Como o risco poderia diminuir? Acrescentando um segundo ou terceiro investimento, também com o mesmo retorno e volatilidade, mas com nenhuma correlação. Assim, caso você erre, isso não vai custar muito caro”, exemplifica. Na visão de Dalio, a diversificação de ativos, países e moedas deve ser o primeiro passo de uma carteira de investimentos atual, antes de qualquer aposta tática.
“Novo mundo e novas tecnologias, países em desenvolvimento. A China é parte disso, mas muitos outros também. Então, tenha reservas de riqueza em muitos cantos do mundo”, diz o especialista, destacando a importância de poder mover esse dinheiro, já que, em muitas nações, você estará lidando com moedas completamente novas em sua carteira de investimento, além de serem locais, diferente do dólar. “É importante saber que o dólar permite comprar no mundo todo. As locais não. Os EUA são privilegiados, mas estão abusando desse privilégio imprimindo a moeda que é vinculada pelo mundo todo. Não se prenda em apenas um investimento.”
Para Ray Dalio, que se entusiasmou com um Brasil iniciante em 1974, a regra para o futuro é clara: não existem fronteiras para os investimentos.
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