Enquanto a Covid-19 se espalhava pelo mundo em meados de março, forçando o fechamento da economia dos Estados Unidos, o desemprego norte-americano atingiu um recorde de 14,7%. Milhões de norte-americanos, então, se depararam com a realidade de que talvez não conseguissem pagar mais o aluguel. Mas Ankur Jain, fundador e CEO da firma de risco Kairos, já tinha um plano de ajuda em andamento.
Jain, que fez parte da lista Under 30 em 2015, preparou uma proposta de política pública para ajudar a arrecadar US$ 16 bilhões, a soma que pesquisadores do Urban Institute estimaram para fornecer alívio de aluguel a cada mês. A proposta foi baseada no modelo de negócios que ele cocriou para a Rhino, uma startup imobiliária e empresa do portfólio da Kairos, que ele fundou em 2017 para revolucionar o mercado de aluguel de imóveis nos Estados Unidos de quase US$ 183 bilhões. Ao permitir que inquilinos paguem US$ 5 por mês para fazer seguro de seus apartamentos em vez de US$ 1 mil em depósitos de segurança, ele procurou desbloquear US$ 45 bilhões.
LEIA MAIS: Batalha dos bilionários: Bezos e Ambani disputam liderança do varejo na Índia
Em 7 de maio, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, endossou a proposta e o governador Andrew Cuomo a aprovou. Desde então, ele reuniu uma coalizão bipartidária de mais de 20 prefeitos, governadores e legisladores locais para ajudar a levar seu plano adiante. “Nosso plano de desbloqueio de depósito se tornou a maior solução individual de alívio de aluguel realizada desde o início da pandemia”, disse Jain.
A habilidade do CEO em lidar com problemas do mundo real, ainda, não passou despercebida. “Jain tem uma habilidade rara para lidar com questões sociais complexas e apresentar soluções simples e práticas que fazem você se perguntar como ninguém fez isso antes”, diz Richard Branson, empresário bilionário e fundador do Virgin Group.
A Rhino, que arrecadou US$ 37,7 milhões em financiamento, também chamou a atenção de alguns dos maiores titãs do setor imobiliário. “Jain e a equipe da Kairos estão transformando uma prática desatualizada no mercado de aluguel com a Rhino”, diz Barry Sternlicht, bilionário presidente e CEO da Starwood Capital, que também é investidor na Rhino. “É uma maneira fácil para os líderes políticos ajudarem a tornar a habitação mais acessível e a colocar bilhões de volta na economia, especialmente durante a pandemia da Covid-19.”
Mas a Rhino é apenas uma parte da maior ambição de Jain com a Kairos, que significa “o momento oportuno e decisivo” em grego. Em 2016, logo após vender sua primeira startup, o concorrente do LinkedIn, Humin, para o Tinder, Jain percebeu que, enquanto o Vale do Silício estava se concentrando em experiências como plataformas de namoro e alimentação, muitos millennials viviam de salário em salário: nos anos que se seguiram à Grande Recessão, a média da geração Y perdeu cerca de 13% de seus ganhos, segundo o estudo do Census Bureau. Em comparação, os membros da geração X viram os lucros recuar 9%, e os baby boomers perderam 7%. “Depois de se formarem durante a crise de 2008, os millennials passaram os últimos dez anos tentando se recuperar”, diz Jain. Então, em 2017, ele fundou a Kairos, por meio da qual criou as empresas que sentia que sua geração realmente precisava.
A Kairos busca cuidar de problemas reais, sem ser filantropia. A situação ganha-ganha, como Jain vê, é que a empresa pode enfrentar grandes problemas para os quais o mundo dos investimentos não está olhando e ainda lucrar no processo. “Os maiores obstáculos dos Estados Unidos também são algumas das maiores oportunidades”, diz ele. “Basta pensar nisso –habitação e saúde são mercados de vários trilhões de dólares.”
Ao contrário das empresas de capital de risco tradicionais, que injetam dinheiro em firmas externas, a Kairos constrói seus próprios empreendimentos. Seu financiamento é uma mistura de capital direto e mais de US$ 100 milhões levantado por meio de fundos da holding para diminuir a necessidade de recorrer a investidores externos. Roger Goodell, da NFL, vê sabedoria na estratégia de longo prazo. “Jain é um exemplo brilhante de como ajudar os outros também pode ser bom para os negócios”, diz Goodell, que também faz parte do conselho da Kairos. “Construir um negócio em torno da melhoria da sociedade é um modelo que precisamos encorajar mais no universo corporativo dos Estados Unidos.”
VEJA TAMBÉM: O mistério de US$ 2 bilhões por trás da posse da fintech Kaspi, listada em Londres
Segundo Jain, a Rhino devolveu US$ 100 milhões em 2019 e US$ 200 milhões para seus mais de um milhão de clientes até o momento, a partir do primeiro semestre de 2020. No entanto, enquanto a empresa e o plano de estímulo de aluguel que a inspirou podem parecer a salvação, como para o prefeito de Miami, Francisco Suarez, não há como verificar a eficácia geral do programa, uma vez que a adoção não é monitorada pelo proprietário.
Kellie McElhaney, professora de negócios e fundadora do Centro de Igualdade, Gênero e Liderança da Universidade da Califórnia em Berkeley, levanta possíveis preocupações sobre a capacidade do programa de ajudar aqueles que mais precisam. “Muitas vezes, as estratégias para servir comunidades de baixa renda são concebidas por indivíduos da alta sociedade em um vácuo, sem uma noção clara das necessidades reais e das soluções desejadas dos membros da comunidade”, diz ela. “Esses planos apresentam alto risco de falha ou geralmente apenas disfarçar o problema em vez de chegar a uma mudança sistêmica.”
Segundo especialistas do setor imobiliário, embora a Rhino seja um avanço para lidar com as preocupações imediatas dos locatários, também há obstáculos que ainda precisam ser enfrentados. “Em um estado estável, o locatário médio enfrenta vários desafios, principalmente em torno do fluxo de caixa. No atual cenário, essas barreiras são exacerbadas”, diz Jeffrey Berman, sócio da Camber Creek, uma empresa de capital de risco focada em investir em empresas de tecnologia imobiliária. “Nos próximos trimestres, continuaremos a ver startups emergentes abordando alguns dos problemas mais incômodos da indústria, incluindo acessibilidade e gestão de fluxo de caixa.”
Mas isso não dissuadiu alguns dos líderes empresariais mais influentes do mundo de apoiá-lo. O conselho da Kairos –que inclui o ex-CEO do “New York Times”, Mark Thompson, o vice-presidente sênior de Relações Públicas da “Hearst Magazines”, David Carey, a personalidade da televisão Mehmet Oz e o ex-presidente do México, Vicente Fox– não estaria fora de lugar em nenhuma grande empresa de capital aberto e supera de longe os diretores da maioria das empresas tradicionais de capital de risco.
“Jain é uma força única da natureza”, diz um amigo de Tony Robbins. “Ele tem um jeito de enfrentar problemas globais complexos com uma mistura de habilidade política e empresarial. Seja você um chefe de estado ou um CEO veterano, é difícil não ficar animado em fazer parte de seus planos.”
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.