Quando Adriana Barbosa alugou o imóvel no Vale do Anhangabaú, no coração de São Paulo, para instalar a Casa PretaHub, em novembro de 2019, não imaginava que a reinvenção do espaço viria antes mesmo de sua inauguração, em setembro de 2020. A fundadora do evento de cultura e empreendedorismo negro Feira Preta, eleita uma das Mulheres Mais Poderosas do Brasil pela Forbes, enfrentou as mudanças trazidas pela Covid-19, abraçou a transformação digital e agora planeja replicar seu novo projeto, bem como ampliar acesso a crédito para afroempreendedores.
O espaço na capital paulistana, que atraiu o investimento de um grupo de pessoas não negras – além de grandes marcas como Extra (por meio do Instituto GPA), Facebook, Fundação Tide Setubal e Mercado Livre –, tem o objetivo de equipar empreendedores negros para a economia digital, bem como apoiar empresas que queiram passar por processos de letramento racial de forma intensiva.
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Adriana começou o ano preparando a versão física da iniciativa em que trabalha há quase duas décadas, que funcionaria como um coworking. Com a pandemia, a proposta da casa de 530 metros quadrados na Avenida Nove de Julho evoluiu para abrigar um espaço de produção de conteúdo voltado a empreendedores negros, que usam as instalações por um limite de tempo sem custo, mas pagam se quiserem esticar a estadia ou usar seus serviços.
Em sua versão atualizada, a Casa inclui um estúdio para gravação de podcasts, cozinha industrial para criação de programas de gastronomia e um portfólio de serviços relacionados, como técnico de som e produção de vídeo, oferecidos por outros profissionais negros. “A Casa funciona segundo o conceito de bioma, com empreendedores ajudando outros empreendedores”, diz Adriana.
Como parte de seus objetivos de impacto social, ela quer contribuir para a revitalização do Centro de São Paulo e causar uma “transformação sistêmica” para criar e desenvolver mais empreendedores negros à frente de negócios de base tecnológica. “Queremos oferecer uma garantia em letramento digital para os empreendedores negros: ‘ecossistema’, ‘startup’, ‘unicórnio’ são termos de um grupo muito fechado e precisam ser decodificados. Além disso, oferecemos acesso a infraestrutura, como internet de boa qualidade, e exposição à cultura digital.”
Além da Casa, que deve ganhar franquias no Recôncavo Baiano e no Rio de Janeiro nos próximos meses, Adriana trabalha na digitalização de seus programas de formação empreendedora e prepara o Festival Feira Preta – realizado pela primeira vez online, entre 20 e 28 de novembro –, além do lançamento da versão digital da Feira Preta em janeiro em parceria com o Santander. A aproximação com o banco também visa projetos em serviços financeiros que atendem às necessidades específicas de empreendedores negros. “Um público investidor negro precisa ser formado, e é preciso ter equidade racial nos investimentos, com ações afirmativas voltadas a iniciativas lideradas por pessoas negras. Além disso, instituições financeiras também precisam ficar de olho nos algoritmos, que podem limitar as possibilidades para esses empreendedores.”
Reportagem publicada na edição 81, lançada em outubro de 2020
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