O volume de recursos em poder das mulheres deve somar os US$ 93 trilhões em 2023, resultado do crescimento a taxas recordes de capital nas mãos do público feminino, em US$ 5 trilhões ao ano, segundo relatório do Boston Consulting Group. Os números são promissores e acompanham a evolução da participação feminina na Bolsa de Valores brasileira.
De acordo com dados da B3 compilados pela XP Inc., em 2020, as mulheres representaram 26,2% dos 3,2 milhões de pessoas físicas cadastradas na Bolsa ao longo do ano. O destaque, segundo o relatório, fica por conta da taxa de crescimento das mulheres: 118,1% na comparação ano a ano, muito à frente da evolução de 84,3% do público masculino na B3.
A estudante Maria Fernanda Vieira, de 19 anos, é uma das mulheres que entraram na Bolsa em 2020. Ela conta que começou a estudar sobre os investimentos em dezembro de 2019 e, em fevereiro de 2020, fez o primeiro investimento em ações. “Veio a pandemia e eu perdi muito dinheiro. Desisti. Mas depois acreditei que seria possível, me reorganizei e voltei em abril.”
Apesar da resiliência para voltar à Bolsa após o tombo dos ativos do mês de março, quando o Ibovespa despencou próximo dos 60 mil pontos, Maria Fernanda optou em setembro por se desfazer dos ativos e investir em ações através de fundos de investimentos. “Eu percebi que não tinha como acompanhar as empresas, então eu optei por vender todos os meus papéis e fiquei apenas como fundos e criptos”, conta a investidora que tem na carteira fundos ESG e de tecnologia, segmentos que ela acredita poderão crescer muito em longo prazo.
Aos 55 anos, Liliane Fagundes Lopes também fez o primeiro investimento em ações no ano passado. Vivendo no Rio Grande do Norte, mas apoiada pelo filho que trabalha como assessor de investimentos em São Paulo, a pensionista decidiu deixar o medo de lado e encarar a renda variável em agosto. “Eu entrei na Bolsa achando que fosse algo arriscado, mas passou. Hoje, eu tenho total segurança de que é bem simples para quem quiser investir. Eu recomendaria para todas as mulheres, desde que tenham alguém que as assessore elas da melhor forma possível, igual o meu filho faz comigo”, conta.
Segundo o estudo do BCG, o crescimento da presença feminina nos investimentos e acumulação de capital é reflexo da maior participação das mulheres na força de trabalho e avanço na educação financeira, mas as motivações que orientam as mulheres são diferentes das que movem os homens. Na hora de investir, o público feminino busca vincular as aplicações financeiras a propósitos e valores, não apenas à rentabilidade.
A tese é referendada pela estrategista-chefe da Rico, Betina Roxo, que precisou adaptar a linguagem do seu conteúdo nas redes sociais para dialogar melhor com o público feminino. “Os homens se atraem mais pelo discurso de rentabilidade, enquanto mulheres se movem mais pelos sonhos. Elas estão mais interessadas nos sonhos do que em ganhar mais. É um discurso diferente”, comenta.
Ainda segundo Betina, outros fatores que diferenciam as mulheres dos homens na hora de investir é o fato de que as mulheres buscam entender melhor os produtos, riscos e vantagens dos produtos financeiros. “As mulheres têm uma cautela maior, mas isso não significa que são conservadoras”, avalia Betina.
Embora o cenário da taxa de juros tenha impulsionado o crescimento da Bolsa brasileira no último ano, as barreiras para igualar o número de investidoras ao de investidores passam por desafios como a representatividade das mulheres no mercado financeiro. Sócia da XP Inc, Ana Laura Magalhães Barata acredita que a diversidade de gênero e de raça é fundamental para o diálogo e expansão da presença feminina. “Se eu sou uma mulher negra e vejo só homens brancos, eu acho que aquilo não serve para mim. É preciso fazer com que os interlocutores sintam-se representados. Enquanto a mulher olhar para os investimentos como algo masculino, será mais difícil que algumas sintam-se confortáveis para entrar nesse universo”, avalia.
Dar voz às mulheres que trabalham no mercado financeiro é, segundo as especialistas, uma das formas para aproximar o público feminino do mercado, superando obstáculos culturais e incentivando que mais mulheres se interessem por sua educação financeira, auxiliando o mercado brasileiro a acompanhar essa e outras tendências globais no mercado de capitais.
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