Um levantamento realizado pela Economática a pedido da Forbes aponta que os papéis do Pão de Açúcar (PCAR3) foram os mais voláteis de 2021, considerando o intervalo entre 1º de janeiro de 2021 e último 8 de outubro. Durante o período, a volatilidade das ações foi de 131,61% e a rentabilidade, de 57,86% negativos.
Isso significa que o investidor que detinha uma ação do Pão de Açúcar em 31 de dezembro de 2020 viu a cotação diminuir de R$ 75,09 para R$ 24,60. O valor vai a R$ 28,87, se considerado o fechamento da Bolsa de quarta-feira (20).
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Para calcular a volatilidade, os especialistas consideram o desvio padrão com base na maior e menor cotação atingida por um papel durante um determinado intervalo de tempo. Quanto maior for essa porcentagem, maior é a oscilação do ativo.
Altas volatilidades podem assustar os investidores. Paula Zogbi, analista da corretora Rico, explica que o termo é utilizado para caracterizar ações que sobem e descem com muita força e frequência. “Isso vale para todos os tipos de ativos, desde cotas em fundos de investimento à marcação a mercado [variação nos preços dos títulos dos tesouros públicos] na renda fixa”, diz.
Ser volátil não significa produzir retornos maiores, mas gerar mais risco, já que as oscilações podem gerar resultados positivos ou negativos. Zogbi afirma que, ainda que os papéis com maiores variações não rendam necessariamente mais, o investidor aceita a volatilidade em sua carteira porque busca de uma rentabilidade maior.
As ações da Méliuz (CASH3), por exemplo, ficaram em segundo lugar no ranking das mais voláteis do ano, com variação de 90,90%. Sua rentabilidade, porém, foi de 126,10% no mesmo período em que os investidores enfrentaram as fortes perdas do Pão de Açúcar.
Os papéis do Banco Inter, BIDI11 e BIDI4, ocupam, respectivamente, o terceiro e quarto lugar na lista dos ativos de maior volatilidade, e, a exemplo das ações da Méliuz, registraram rentabilidade positiva. BIDI11 oscilou 72,52% e teve retorno de 52,5%, enquanto BIDI4 teve volatilidade de 72,1% e valorização de 53,3%.
Segundo Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo, a volatilidade está relacionada à liquidez. Ou seja, quanto menos líquido é um ativo, mais volátil ele tende a ser. Isso acontece porque quando há baixa liquidez há menos compradores para os possíveis vendedores. Assim, o papel oscila mais após negociações de grandes volumes.
O especialista cita como exemplo os papéis da Petrobrás, que apresentam alta liquidez e têm muitos compradores interessados. Sendo assim, caso um investidor queira vender grandes quantidades dos ativos, acaba fazendo isso sem baixar muito o preço das ações, pois há demanda.
Já em papéis de baixa liquidez, há menos investidores aguardando uma oportunidade de compra. Então, para vender grandes quantidades de ações, cada papel pode ter a cotação desvalorizada em muitos centavos. É essa redução de preço que causa as grandes oscilações.
“O mercado brasileiro não é grande comparado com mercados globais. Por isso um ativo que tem baixo volume de negociação tem maior volatilidade”, afirma. No caso do Pão de Açúcar, por exemplo, Madruga relembra mudanças na gestão da empresa e saída do Grupo Casino como investidor como alguns dos motivos para a grande volatilidade do papel neste ano. Esses acontecimentos podem ter feito outros investidores desejarem liquidar grandes quantidades de ações, afetando a cotação do papel e tornando-o mais volátil, diz ele.
Madruga afirma que os papéis costumam ter maiores oscilações nos primeiros anos após um IPO. “Nesse período, o mercado ainda está entendendo os resultados [da companhia]. Empresas mais velhas na Bolsa costumam ter maior previsibilidade de preços”, diz.
As mais voláteis de 2021
Varejistas e bancos compõem a lista de papéis que tiveram as maiores oscilações no período analisado pela Economática.
Para Zogbi, no caso das varejistas, a volatilidade está relacionada com a alta da inflação e a escassez global de insumos. “As varejistas estão com pouco estoque e há resquícios da pandemia, como muitas pessoas desempregadas e muitos que não consomem no mesmo patamar de antes”, diz ela.
Resultados negativos atribuídos a este cenário podem ser observados nas ações das Americanas (AMER3) e das Lojas Americanas (LAME4) entre janeiro e início de outubro. Ambos os papéis integram o ranking dos dez mais voláteis da Bolsa, com oscilação de 54,1% e 53,46%, respectivamente, e rentabilidade negativa de 55,38% e 53,61.
Por outro lado, a Locaweb (LWSA3) conseguiu garantir aos investidores retorno positivo de 10,1%, apesar de ter apresentado 61,41% de volatilidade.
Já no caso dos bancos, Madruga, da Monte Bravo, aponta que as grandes oscilações estão relacionadas com mudanças no setor. “Como estamos passando por uma crise que afetou a vida financeira da população, os bancos tiveram que se planejar para um cenário em que as pessoas não paguem seus empréstimos”, diz. “Isso afeta seus resultados e balanços e diminui a atratividade para os investidores, principalmente para os fundos de investimentos.”
Vale ressaltar que, com os sucessivos aumentos da taxa básica de juros, os ativos de renda fixa vêm se tornando mais atrativos e fazendo com que parte dos investidores busque liquidar investimentos na Bolsa de Valores, aumentando a volatilidade do mercado doméstico.
Para o próximo trimestre, Madruga acredita em resultados positivos e recuperação do Ibovespa. “Nessa época, teremos o rali de alta de final de ano. Com o inverno no Hemisfério Norte o petróleo passa a ter melhores resultados, e as datas comemorativas puxam o consumo no varejo”, afirma ele.
Como administrar a volatilidade na carteira
Os especialistas afirmam que os investidores em renda variável não precisam fugir da volatilidade, mas ela deve estar adequada ao perfil de investimentos e apetite ao risco de cada um.
“A oscilação em virtude da volatilidade gera boas oportunidades. O que é importante é definir o objetivo de cada escolha financeira”, diz o especialista da Monte Bravo. Para o investidor que enxerga as ações como ganho de capital, por exemplo, a aquisição de ações voláteis pode não ser a melhor opção no curto e médio prazo.
Já no longo prazo, o especialista acredita que as oscilações podem ser aproveitadas como oportunidade de compra para os que querem adquirir mais papéis da mesma empresa.
Zogbi também pontua que, para aqueles que trabalham com day trade, a volatilidade é muito importante. Já no longo prazo, quando o resgate é feito a partir de cinco ou seis anos após o investimento, essa característica pode ser diluída no tempo. “Pouco importa o tamanho da volatilidade se a estratégia for consistente e se a empresa tem potencial de retorno no longo prazo”, afirma.