Indicado para investidores experientes, o mercado de opções costuma ser utilizado para proteger a carteira de investimentos das oscilações da Bolsa e fazer alavancagem financeira. Embora nele possam ser negociados diversos ativos, como ouro ou café, as ações são os mais comuns. Analistas consultados pela Forbes explicam mais sobre como esse mercado funciona e quais são os riscos envolvidos.
Ao contrário do mercado à vista, em que o investidor paga pelas ações no momento em que elas são adquiridas, o mercado de opções leva em consideração um tempo futuro. Nesse sentido, as opções representam um contrato que dá ao seu titular o direito de comprar ou vender um ativo por um valor pré-determinado em uma data posterior. Esse ativo recebe o nome de “ativo-objeto”.
“É chamado assim pois é um ativo que não entra na carteira do investidor”, explica Carlos Castro, planejador financeiro da Planejar. “Para o caso de renda variável, significa que o investidor não investe na ação diretamente, e sim detém o direito de comprar ou vender o ativo-objeto.”
Essas operações são vantajosas nos casos em que o investidor acredita que aquele ativo poderá se valorizar ou desvalorizar. Assim, se ele adquiriu uma ação a R$ 20, mas tem razões para acreditar que ela poderá cair no futuro, ele adquire opções de venda com preço de R$ 17. Se, na época de venda – também chamada de “exercício” – essas mesmas ações estiverem cotadas a R$ 14, ele ainda poderá vendê-las a R$ 17, reduzindo suas perdas.
Da mesma forma, se esse mesmo investidor deseja adquirir uma ação de R$ 20 em um momento futuro, mas tem razões para acreditar que ela poderá se valorizar a R$ 25, o investidor pode adquirir opções de compra por R$ 22. Assim, na data de exercício, se a sua previsão tiver se concretizado, ele poderá comprar a ação por um preço mais baixo. Daí surge a função de “hedge”, ou de proteção da carteira, das opções.
No jargão do mercado, as opções de compra são chamadas de “call”, e as opções de venda são chamadas de “put”. O “titular” é quem compra a opção, ganhando o direito de comprar ou vender o ativo-objeto, e o “lançador” é quem vende a opção para o titular, assumindo, assim, a obrigação de comprar (no caso de put) ou vender (no caso de call) o ativo-objeto. O “strike” é o valor prefixado pelo qual o ativo-objeto pode ser negociado no exercício.
Além disso, cada transação vem com um custo adicional para o titular, que é o chamado “prêmio”. Esse é o preço pago ao lançador e permite ao titular ganhar o direito de comprar ou vender o ativo-objeto da opção. O prêmio não representa o valor do ativo-objeto em si é mais baixo do que ele.
As opções são negociadas na B3 e seus códigos são formados por uma combinação de cinco letras e dois números. As quatro letras iniciais indicam o ativo–objeto; a letra do meio indica se a opção é de compra ou de venda e o mês do seu vencimento (A a L indicam compra, enquanto A é vencimento em janeiro, B em fevereiro, e assim por diante; M a X indicam venda, seguindo a mesma lógica). Os dois números finais representam o preço de strike. Exemplo: PETRA30, opção de compra da Petrobras, com vencimento em janeiro e preço de strike de R$ 30.
Ariane Benedito, economista da CM Capital, frisa que o mercado de opções é mais indicado para investidores experientes e com perfil agressivo: “O mercado de derivativos, em geral, detém uma linguagem específica e as terminologias confundem o investidor. Por isso, operar esse mercado exige muito estudo e conhecimento que o investidor poderá adquirir com o tempo e experiência em operações mais simples, como o mercado à vista, por exemplo.”
Para quem está começando a operar no mercado de opções, Castro recomenda utilizá-las para proteger a carteira de investimentos, principalmente em momentos de alta volatilidade no mercado, como se verifica hoje. Ele lembra que, por ser um investimento de renda variável, o risco de perda é elevado, especialmente fora das estratégias de proteção.
Especificidades das operações
“O que confunde muitos investidores é que você pode comprar uma opção de venda ou vender uma opção de compra, e o contrário também é possível”, aponta Benedito. “O mais importante de lembrar é: o titular tem sempre o direito de comprar uma call ou vender uma put no preço do exercício, enquanto o lançador tem sempre a obrigação de vender a call ou comprar a put.”
É importante ressaltar que o titular pode deixar a opção expirar, ou “virar pó”, se o negócio não se mostrar vantajoso da maneira que ele esperava. Em uma opção de venda, se o preço de strike for menor do que o preço do ativo-objeto, ou então, em uma opção de compra, se o preço de strike for maior do que o preço do ativo-objeto, o investidor pode optar por operar no mercado à vista normalmente.
Nesses casos, é necessário considerar o valor do prêmio, que não retornará ao titular se ele desistir do negócio. Porém, como indicado anteriormente, esse valor costuma ser pequeno, ficando na casa dos centavos por papel. O prejuízo máximo que o titular pode ter é o preço do prêmio.
Por outro lado, como explica a economista, o mercado de opções costuma apresentar mais riscos para o lançador, que tem a obrigação de concluir o negócio se o titular assim decidir e pode ter prejuízos “ilimitados”. Um exemplo seria se o lançador se comprometesse a entregar títulos que não possui, e fosse obrigado a comprar ações a um valor acima do preço de strike para cumprir o negócio. A depender da disparidade, o lançador pode afundar no negativo.
Ambos analistas lembram que o mercado de opções também pode ser utilizado para outros propósitos além da proteção da carteira de investimentos, embora essas operações apresentem riscos ainda maiores. Uma é a alavancagem, que permite ao investidor ganhar lucros muito maiores que o valor investido.
“O investidor possui R$ 10 mil investidos e pode alavancar os ganhos em até sete vezes no mercado de opções, ou seja, poderá obter rentabilidade sobre um valor de até R$ 70 mil”, explica Castro. “No caso de obter rentabilidade de 1%, o investidor ganhará R$ 700 e, portanto, alavancou R$ 700 para um investimento de R$ 10 mil. Por outro lado, poderá ter prejuízo de R$ 700 se a rentabilidade for -1%.”
Outra estratégia é a arbitragem, que visa o lucro sobre a diferença de preços do mesmo ativo em mercados diferentes – esses podem ser o mercado de opções, à vista, futuro e até o aluguel de ações. Porém, como apontam os analistas, essa é uma estratégia que tem se tornado cada vez mais difícil, tendo em vista que, quando identificada uma disparidade, rapidamente há investidores prontos para aproveitá-la, fazendo com que ela tenha seus valores imediatamente corrigidos.