A favela está de pé e continuará em pé. Com mais de 120 anos, os assentamentos informais da cidade do Rio de Janeiro são alguns dos mais antigos do mundo moderno. A informalidade possui uma história surpreendentemente rica, onde sua gente se orgulha cada vez mais e mantém o instinto de preservação, crescimento e desenvolvimento econômico.
Essa visão das favelas como comunidades dignas de reconhecimento e preservação contrasta fortemente com as presunções negativas comumente feitas sobre elas, seja pela mídia, organizações de desenvolvimento, governos locais, investidores ou acadêmicos, entre outros.
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No entanto, a má compreensão das favelas no meio das organizações de desenvolvimento, dos investidores e dos governos locais é a mais prejudicial de todas, porque essas são as instituições que de fato têm um impacto direto nas políticas que afetam os moradores, seu desenvolvimento, sua sensação de segurança e sua mobilidade ascendente, diz o economista peruano Hernando de Soto.
Com o passar dos anos, os assentamentos informais de algumas regiões do Brasil deixaram de ser favelas caracterizadas principalmente por condições de miséria e insalubridade, ou por construções precárias e moradias improvisadas. De geração em geração, os moradores, em sua maioria, suplantaram o que antes eram condições de vida mínimas e investiram o máximo possível em suas casas e bairros, gerando uma economia própria e bastante dinâmica.
Isso significa que as favelas vivem em um estado de limbo, em teoria reconhecidas como merecedoras de direitos e investimentos, mas não na prática – trazendo de volta a terminologia da informalidade.
É bom que se diga que na diversidade dos aglomerados urbanos no Brasil, há uma distinção clara entre favela e asfalto. O termo local para as áreas atendidas – tipicamente de classe média e alta – da cidade é asfalto (isso, literalmente, “asfalto”), que é justamente o oposto a “favela”.
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Dentro da dualidade de visão de mundo, conceituar “asfalto” como substituto da cidade formal implica duas coisas: (1) formal é investimento em infraestrutura; e (2) infraestrutura, particularmente o asfalto, é inerentemente boa.
Por sua própria natureza e por estarem justapostas ao asfalto, as favelas são caracterizadas pela ausência de serviços, e seus moradores são condicionados a acreditar que o investimento em infraestrutura, principalmente o asfalto, é um ideal a ser buscado.
É nesse ponto que nasce a Expo Favela, uma iniciativa ousada e inovadora de um dos maiores empreendedores sociais do Brasil, Celso Athayde, CEO da Favela Holding. Será um evento disruptivo, um encontro de oportunidades para as favelas e o asfalto.
Durante três dias – 15, 16 e 17 de abril – cerca de 300 representantes de fundos de investimentos devem conhecer os 350 empreendedores selecionados em favelas de todo o Brasil. Assim, conectar investidores com os empreendedores da favela é o objetivo da primeira edição da Expo Favela.
Em outras palavras, a Expo Favela irá trazer a favela para o asfalto. Como? Com uma feira de negócios cujos expositores são empreendedores e startups da favela. O propósito maior é dar visibilidade aos negócios de impacto e, assim, promover um palco para o encontro com investidores que possam acelerar os negócios.
Para Celso Atahyde, a favela não é carência, mas uma grande potência, uma forma de corrigir o olhar recheado de compaixão equivocada e preconceito com uma região que produz e consome R$ 120 bilhões por ano. Para colocar na agenda a favela e sua movimentação, o local escolhido para o evento foi o WTC, espaço que está no epicentro econômico de São Paulo, onde circula boa parte do PIB brasileiro.
Ainda como destaque, logo no primeiro dia, haverá a divulgação de uma pesquisa inédita realizada pelo Data Favela sobre o cenário do empreendedorismo na favela, com dados apresentados por Celso Athayde e Renato Meirelles.
Há uma certeza antecipada: as favelas são locais produtivos, vibrantes, únicos e emocionantes, de produção cultural e bem-estar social. E isso não acontece apesar de sua natureza informal, mas por causa da sua gente.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
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