Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A exportação de café verde brasileiro somou 2,56 milhões de sacas de 60 kg em abril, queda de 24,3% ante o mesmo mês de 2021, com o resultado refletindo o pico da entressafra no maior produtor e exportador global, além de desafios logísticos e a guerra no Leste Europeu, informou nesta quarta-feira o conselho de exportadores Cecafé.
Os embarques da variedade arábica atingiram 2,4 milhões de sacas em abril, recuo de 20,4% na mesma comparação, enquanto os de robusta somaram 134,5 mil sacas em abril, queda de 60% ante o mesmo mês de 2021, com a indústria nacional disputando esses grãos com exportadores, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil.
Considerando o café solúvel e industrializado, os embarques acumularam 2,8 milhões de sacas no mês passado, queda de 24,1% ante 2021.
Segundo o presidente do Cecafé, Nicolas Rueda, o declínio no volume embarcado reflete uma conjunção de fatores, entre os quais a aproximação do encerramento da temporada cafeeira 2021/22 e um rearranjo observado nos blends das indústrias brasileiras.
“O mês de abril é o ápice da entressafra de um ciclo produtivo inferior, havendo menor disponibilidade de cafés. Além disso, a disparada muito maior no preço do arábica em relação ao do conilon (robusta) fez com que o setor industrial ampliasse o percentual da segunda variedade nos preparos de seus cafés, reduzindo significativamente as remessas de canéfora ao exterior”, afirmou Rueda, em nota.
Ele comentou também que o cenário marítimo global segue desafiador aos exportadores, com os gargalos logísticos sendo intensificados pela guerra na Ucrânia.
“A Rússia, que usualmente figurava no sexto lugar no ranking dos principais destinos do café brasileiro, desceu ao 10º posto no acumulado de 2022”, destacou.
As importações do produto nacional pela Rússia recuaram 35,2% de janeiro a abril deste ano em relação ao mesmo período de 2021, saindo de 421.382 sacas para as recentes 273.151 sacas”, comentou.
“Isso implica diretamente nas remessas do Brasil ao Leste Europeu, que registra queda de 35,6% em semelhante intervalo”, afirmou.
O presidente do Cecafé acrescenta, ainda, que os entraves logísticos foram agravados com a situação da Covid-19 na China.
“Com o preocupante desencadeamento de inúmeros casos de coronavírus no país asiático, o porto de Xangai, o maior do mundo, teve suas operações limitadas devido ao decreto de lockdown imposto na cidade, gerando, como consequências, uma tensão em todas as cadeias de suprimento, fluxo lento de importações, congestionamento marítimo na China…”
Rueda cometou que o problema no porto chinês ampliou os gargalos no que se refere à disponibilidade de contêineres e à menor oferta de navios, decorrente do congestionamento marítimo, antes na costa oeste americana e, agora, também na China, mantendo o preço dos fretes em níveis historicamente altos.
“Esse cenário traz grandes desafios ao setor e onera sobremaneira os exportadores como um todo, que precisam se desdobrar para consolidar seus embarques em razão da menor oferta de contentores e de espaço nas embarcações.”
ACUMULADOS
Com a performance em abril, os embarques no acumulado do ano civil chegam a 13,585 milhões de sacas, ficando 10,6% aquém do primeiro quadrimestre de 2021.
Já a receita avançou 56,3% no mesmo intervalo de comparação, para 3,138 bilhões de dólares, resultado do patamar elevado nas cotações internacionais e internas do produto, assim como do dólar valorizado frente ao real no mercado cambial, “o que incrementa o ingresso de recursos no país”.
No intervalo de julho de 2021 a abril de 2022, o desempenho das exportações brasileiras de café é semelhante ao registrado no ano civil, com os envios recuando 16,7%, para 33,251 milhões de sacas, e a receita cambial evoluindo 30,9%, a 6,616 bilhões de dólares.
(Por Roberto Samora)