A moagem de cana do centro-sul do Brasil acumula uma queda de 12,7% na safra 2022/23, enquanto a principal região produtora de açúcar e etanol do país também enfrenta uma redução na qualidade da matéria-prima medida pelo ATR, informou a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) hoje (28).
O processamento de cana somou 145,7 milhões de toneladas até 16 de junho, versus 166,9 milhões no mesmo período do ano passado, resultando em queda na fabricação de açúcar de 23,6% na safra, para 7,19 milhões de toneladas, e recuo de 8% no caso do etanol, para quase 7 bilhões de litros.
O diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, disse em nota que “a redução da moagem registrada até o momento é decorrência de condições climáticas adversas, que afetaram principalmente os Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul”, mas chamou a atenção também para a queda no Açúcar Total Recuperável (ATR).
“Quanto à qualidade da matéria-prima, com cerca de um terço da safra já transcorrida, deve-se observar ao final desse ciclo agrícola uma redução superior a três quilos de ATR por tonelada de cana processada”, destacou.
Na safra até agora, a Unica registrou redução de 4,76% no ATR, para 124,49 quilos por tonelada de cana.
O setor, que vislumbra uma recuperação na moagem após baixas produtividades agrícolas registradas na temporada passada, também está sendo desafiado no campo.
Informações do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) publicadas pela Unica indicam queda de 1,4% no rendimento agrícola da lavoura em maio, para 76 toneladas por hectare. No acumulado do atual ciclo agrícola, o indicador registra 74,8 toneladas por hectare (-1,58%).
Quinzena abaixo do esperado
Os dados quinzenais foram vistos como altistas pelo mercado de açúcar, que registrou recuperação de preços ante uma mínima próxima de quatro meses vista na sessão anterior na bolsa de Nova York. O açúcar bruto subia cerca de 1% por volta das 13h (horário de Brasília).
Na primeira quinzena de junho, a produção de açúcar do centro-sul recuou 3,81% ante o mesmo período do ano passado, para 2,14 milhões de toneladas, apesar de um aumento da moagem quinzenal, enquanto a fabricação de etanol também subiu, com usinas direcionando mais matéria-prima para o biocombustível, informou a Unica.
A moagem de cana do centro-sul avançou 5,76% na primeira parte de junho, para 38,6 milhões de toneladas, ficando abaixo da expectativa de uma pesquisa da S&P Global Commodity Insights (42,18 milhões de toneladas). A produção de açúcar também ficou inferior à expectativa (2,4 milhões de toneladas).
O diretor da Unica disse que a queda na produção de açúcar se deve a dois fatores.
“O primeiro refere-se à menor disponibilidade de cana-de-açúcar até 16 de junho, que explica a retração em 1,20 milhão de toneladas do adoçante (no acumulado da safra). O segundo à queda na qualidade da matéria-prima e mudança do mix de produção por decisão das unidades produtoras, que reduziram a fabricação do produto em adicionais 1,03 milhão de toneladas para viabilizar uma maior produção de etanol”, disse Padua.
A produção de etanol do centro-sul avançou 6,3% na primeira quinzena de junho, para 1,8 bilhão de litros, enquanto a destinação da matéria-prima para o biocombustível atingiu 55,56%, ante 53,76% no mesmo período da safra passada.
Apesar da maior produção do biocombustível na quinzena, as vendas estão em baixa.
Na primeira quinzena de junho, as unidades produtoras do centro-sul comercializaram 1,15 bilhão de litros de etanol, retração de 5,08% em relação ao mesmo período da safra 2021/22.
No mercado interno, o volume de etanol hidratado comercializado foi de 682,17 milhões de litros, com uma queda de 5,59% em relação ao ciclo anterior. As vendas domésticas de etanol anidro, por sua vez, totalizaram 420,53 milhões de litros, volume equivalente ao observado nos primeiros 15 dias de junho de 2021.
No acumulado da safra, a comercialização de etanol no mercado interno somou 3,46 bilhões de litros de hidratado domesticamente (-6,80%) e 2,00 bilhões de litros de etanol anidro (+5,59%).