Confirmando as expectativas da grande maioria do mercado, o Fed (Federal Reserve), o banco central americano, elevou hoje (21) as taxas de juros em 0,75 ponto percentual para a faixa entre 3,00% e 3,25% ao ano. Mais importante do que isso, a autoridade monetária americana indicou que as taxas seguirão subindo e vão permanecer elevadas por um bom tempo.
Na avaliação dos especialistas, o Fed deverá aumentar os juros até a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano. A expectativa do mercado para esse teto, conhecido pelo nome técnico de “taxa terminal”, estava ao redor de 3,75% a 4% ao ano na reunião anterior, de agosto.
O Fed elevou os juros para o nível mais alto desde o início de 2008. Foi o terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual. A alta começou em março, quando os Fed Funds, as taxas referenciais, estavam praticamente a zero.
Uma elevação do zero para 3% ao ano foi o aumento mais agressivo desde que o Fed começou a usar os Fed Funds para definir o custo do dinheiro, em 1990. A única comparação ocorreu em 1994. Naquele ano, as taxas subiram 2,25 pontos percentuais, mas a alta durou poucos meses.
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Esse aumento dos juros já era esperado. O que não estava nas previsões é a discordância das expectativas entre os participantes do Federal Open Market Committee (Fomc), a versão americana do Comitê de Política Monetária (Copom). Há uma grande dispersão das expectativas: parte dos membros do Fomc espera que a taxa de juros comece a recuar no fim de 2023, e parte dos participantes acha que só será possível aliviar a pressão da política monetária no fim de 2024.
Revisão das expectativas
Ao atualizar as estimativas, o Fomc definiu esperar que o desemprego americano subiria dos atuais 3,7% para 4,4% em 2023. Isso indica uma retração da economia. O comitê também espera que o Produto Interno Bruto (PIB) americano desacelere para um crescimento de apenas 0,2% neste ano. Deverá haver outra retração no segundo trimestre, após dois trimestres consecutivos de queda, algo que os economistas consideram recessão técnica.
Junto com isso, os membros do Fomc veem o crescimento do PIB desacelerando para 0,2% em 2022, aumentando ligeiramente nos anos seguintes para uma taxa de longo prazo de apenas 1,8%. A previsão revisada é um corte acentuado da estimativa de 1,7% em junho e vem após dois trimestres consecutivos de crescimento negativo, uma definição comumente aceita de recessão.
Os prognósticos são de que a inflação caia para 5,4% este ano, segundo o índice Personal Consumption Expenditure (PCE), o indicador preferido pelo Fed. Nos 12 meses até agosto, o PCE mostrou inflação de 6,3%. A meta de inflação é 2%.
Impacto no mercado
O impacto da decisão foi imediato. O índice Dow Jones caiu cerca de 240 pontos logo depois do anúncio, o S&P 500 caiu 0,8%, e o Nasdaq, que concentra as ações de empresas de tecnologia, perdeu 1%. As taxas de juros americanas de dois anos tiveram um salto, saindo de 3.99% para 4,12% ao ano pouco menos de 10 minutos após o anúncio.
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, o aumento de juros veio em linha com o esperado e não representa em si uma surpresa. “No entanto, as demais projeções realmente surpreenderam e apresentaram uma perspectiva bastante negativa, com inflação maior e mais permanente, com juros que devem se manter altos por um período prolongado e com projeção de menor crescimento para economia americana”, diz ele.
Segundo o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, isso indica que vai demorar para a situação dos juros americanos se normalizar. “O mais provável é que só em 2025 veremos uma taxa de juros neutra” diz Lima. Juros “neutros” são os que mantém a inflação estável e não são estimulam nem esfriam o crescimento econômico.
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