Pertencer à família real britânica pode significar uma vida de prestígio e privilégio, mas não garante fortuna. Até quem faz parte da “The Firm” – como os membros do alto escalão da realeza são conhecidos desde os dias do rei George VI (1895-1952), que assumiu o trono em 1936 entre – costuma depender dos mais velhos para mesadas e presentes. Mesmo assim, ser o rei (ou rainha) da Inglaterra ainda é um bom negócio.
Depois de treinar para o cargo por mais de 70 anos, o rei Charles III, cuja coroação está marcada para o sábado (6), herdou grandes extensões de terra, propriedades reais, joias raras, pinturas e outros bens pessoais – alguns datando de séculos atrás – de sua mãe, a rainha Elizabeth II.
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Ele agora supervisiona o portfólio de ativos de US$ 46 bilhões da falecida monarca mantidos em custódia para o reino, incluindo bilhões em investimentos – e outros palácios, joias brilhantes e arte inestimável, mas que ele nunca possuirá de fato, nem poderá vender.
O testamento de Sua Majestade deve ser selado por pelo menos 90 anos, para que a distribuição exata de seus bens não seja conhecida por várias gerações. Porém, como filho mais velho, Charles herdou as propriedades particulares da rainha. Por exemplo, seu amado castelo em Balmoral, na Escócia, onde ela morreu, bem como Sandringham, no leste da Inglaterra, onde são criados os cavalos puro-sangue conhecida como Royal Studs.
Espera-se também que o rei Charles herde sua enorme coleção particular de joias, arte, selos raros e quaisquer investimentos pessoais. Ao todo, a Forbes avalia esses ativos pessoais em US$ 500 milhões. E Charles não terá que pagar um centavo de imposto sobre herança, graças a um acordo de 1993 com o governo britânico que isenta as transferências de propriedade de um soberano para outro.
O monarca de 73 anos também ascende ao trono com recursos próprios, em grande parte por meio da lucrativa renda anual de cerca de US$ 27 milhões que recebeu do Ducado da Cornualha neste ano. O Ducado é um conglomerado com US$ 1,2 bilhão, com ativos que incluem o campo de críquete Oval em Londres, a antiga residência de Charles em Highgrove House e as Ilhas Scilly. Tudo isso agora passa para seu filho mais velho, o príncipe William.
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A doação não vai transformar o novo rei em um sem-teto. Nos US$ 46 bilhões em ativos que herdou da mãe estão incluídas as joias da coroa e alguns dos palácios mais famosos do mundo: o Palácio de Buckingham, o Castelo de Windsor e a Torre de Londres. Eles não pertencem a Charles, mas podem ser usados pelo monarca reinante durante o reinado. São mantidos “em custódia” por seus sucessores e pela nação – o que significa que não podem ser vendidos.
Os bens da Coroa
Diferente de empresas que divulgam relatórios anuais, os palácios e as joias são considerados inestimáveis. Então, o que vale tudo isso? O ativo mais valioso é o Crown Estate, um portfólio imobiliário de US$ 17,5 bilhões. As propriedades incluem a Regent Street, o principal destino de compras de Londres, bem como o Hipódromo de Ascot (um dos favoritos da rainha) e praticamente todo o fundo do mar do Reino Unido.
A família real também recebe uma mesada do Tesouro conhecida como “Subsídio Soberano”, igual a 25% do lucro líquido de dois anos antes do Crown Estate. Em 2022, o Subsídio Soberano totalizou cerca de US$ 100 milhões, considerando-se um lucro de US$ 400 milhões. Porém, 10% do lucro líquido (US$ 40 milhões em 2022) vai para a manutenção do Palácio de Buckingham.
Um adicional de 15% é usado para financiar as viagens anuais da família real, eventos formais, limpeza e folha de pagamento. E essas contas aumentam rapidamente. Em 2022, a viagem real mais cara foi a visita de nove dias do príncipe William e Kate a Belize, à Jamaica e às Bahamas em março. O custo foi de US$ 260 mil, incluindo planejamento antes da visita.
O Subsídio Soberano não é a única fonte de renda de Charles. Como rei, ele também ganha o controle do Ducado de Lancaster, uma propriedade privada com US$ 753 milhões em patrimônio líquido que pertence ao monarca. As receitas líquidas do ducado vão diretamente para o rei como um subsídio chamado Privy Purse, que cobre quaisquer outras despesas oficiais. O Subsídio Soberano é isento de impostos, mas em 1993 a Rainha concordou em pagar imposto de renda sobre a parte do Privy Purse não usada para fins oficiais, e Charles vai manter essa política.
Além do Crown Estate e do Ducado de Lancaster, o novo rei também detém o Crown Estate Scotland, um portfólio com cerca de US$ 570 milhões em ativos líquidos, incluindo o fundo do mar escocês, propriedades rurais e os direitos de pescar salmão selvagem e extrair ouro natural e prata na Escócia.
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O restante das participações da Coroa – pelo menos 11 residências reais anteriores e atuais e a Coleção Real, que inclui as joias da coroa – são os mais difíceis de avaliar porque nunca chegariam ao mercado e não apresentam relatórios anuais.
As joias da coroa são talvez o bem mais identificável associado à família real britânica. Como parte da Royal Collection, eles são “guardados pelo monarca para a nação”. A Royal Institution of Chartered Surveyors estimou seu valor em US$ 4 bilhões em 2019, usando a venda das joias da coroa francesa em 1887 e a venda das joias da falecida princesa Margaret em 2006 como comparação.
O valor global da Royal Collection, que inclui obras de Rembrandt, Vermeer, Caravaggio e Leonardo Da Vinci, é muito maior. De acordo com um relatório de 2017 da Brand Finance, uma empresa de avaliação de marcas com sede no Reino Unido, a Royal Collection – incluindo as joias da coroa – é estimada em US$ 12,7 bilhões.
Palácios, carros e joias
Há também pelo menos 11 palácios, castelos e residências de propriedade do rei como soberano ou “por direito da coroa”. A Forbes estima o valor combinado dessas propriedades em US$ 9,5 bilhões.
A propriedade mais valiosa da coleção é o Palácio de Buckingham, residência oficial do rei em Londres, estimado em US$ 4,9 bilhões. A menos valiosa é a Clarence House, residência oficial de Charles em Londres quando ele era príncipe de Gales, avaliada em US$ 72 milhões. Balmoral e Sandringham valem US$ 118 milhões e US$ 73 milhões, respectivamente.
Há também uma vasta coleção de carros, relógios e outros brinquedos mantidos pelo rei e pela família real. No domingo, no primeiro dia completo de seu reinado, o rei Charles apareceu para cumprimentar a multidão no Palácio de Buckingham usando um relógio Parmigiani Fleurier Toric Chronograph de ouro 18 quilates que ele possui desde meados dos anos 2000, disse o relojoeiro suíço à Forbes. A Parmigiani Fleurier não produz mais o Toric Chronograph, mas um modelo semelhante foi vendido na Christie’s por US$ 8.125 em 2019.
O veículo escolhido pelo rei para sua estreia em Londres foi o Rolls Royce Phantom VI de sua mãe, que foi apresentado a ela em seu Jubileu de Prata em 1977. Embora o carro não esteja à venda, um modelo semelhante de 1976 pode ser adquirido por US$ 225 mil. Charles também herda a Bentley State Limousine, originalmente projetada para o Jubileu de Ouro da Rainha em 2002 para comemorar seu meio século no trono.
Recursos próprios
Em seus 64 anos como Príncipe de Gales, Charles também aprendeu como construir sua própria fortuna. Grande parte da renda vinha do Ducado da Cornualha, que se expandiu sob seu mandato para US$ 1,2 bilhão em ativos líquidos, incluindo quase US$ 400 milhões em propriedades comerciais e mais de 52 mil hectares de terra, um terço do tamanho da Grande Londres. Entre 2011 e 2022, o patrimônio líquido do Ducado cresceu 51%.
Os lucros desses ativos forneceram a Charles renda suficiente para ser independente do Subsídio Soberano: no ano fiscal encerrado em 31 de março de 2022, ainda como Príncipe de Gales, ele ganhou cerca de US$ 26,6 milhões (antes dos impostos) do Ducado da Cornualha, em comparação com para US$ 1,2 milhão do Subsídio Soberano. Esse bem valioso está agora nas mãos de William, que sucedeu seu pai como Príncipe de Gales. Com Cornwall, ele não terá mais que pedir mesada ao pai.
Apesar de um estilo de vida obviamente luxuoso com acesso a vários castelos, frotas de carros, aviões particulares e uma grande coleção de tiaras e outras joias, há uma coisa que o rei Carlos III compartilha com todos os plebeus – a morte e (alguns) impostos.