Marco Dorigon, empresário fundador da butique de M&A Unio Partners, pensa que para empreender de forma bem sucedida no Brasil é preciso ter uma coleção de características muito específicas. Em 2023, o seu negócio faturou pouco menos de R$ 50 milhões, o que significa que ele deve ter uma boa quantidade desses quesitos. Porém, boa parte do que ele aprendeu não veio do mercado financeiro e sim do Kart, esporte que chegou ao nível profissional.
“A minha vida foi pautada por competição, desde que me conheço por gente. Meu pai sempre esteve ligado nos esportes e, para mim, a prática deles molda o caráter”, diz Dorigon. “Ele pode não ser o fim do caminho para a maior parte dos brasileiros, mas é o meio e faz toda a diferença no desempenho profissional das pessoas.”
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Nascido em Curitiba, no Paraná, Dorigon precisou se mudar para o interior do estado ainda muito novo, acompanhando a família em um novo emprego do pai. Na cidade nova, na qual residiam 15 mil pessoas, não existiam muitas opções de entretenimento. Assim, os moradores acabavam se unindo para criar campeonatos de esportes como futebol de salão e outras modalidades. Em um desses eventos, no feriado do dia do trabalho, a fábrica onde seu pai trabalhava trouxe 15 karts para os funcionários e suas famílias se divertirem e alí começou a sua história.
Logo após a primeira experiência, Dorigon já sabia o que queria fazer na vida. Aos nove anos decidiu que queria começar a competir. Os pais autorizaram, desde que ele não descuidasse dos estudos. Em menos de um ano, Dorigon ganhou o campeonato paranaense e, aos poucos, o automobilismo foi tomando uma proporção imensa em sua vida.
“Eu comecei a faltar toda quinta e sexta na escola para poder treinar, mas como tinha que ir muito bem nas matérias, passava o tempo que não estava nas pistas apenas estudando. Aquilo pra mim era a minha profissão, minha paixão”, afirma o empresário.
Aos poucos, as faltas foram aumentando e os troféus também. Ele foi três vezes campeão brasileiro em sua categoria, ganhou o campeonato paulista e também o pan americano e chegou ao mundial, onde correu ao lado de Lewis Hamilton.
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Porém, o preço de chegar longe no esporte é caro. Ele conta que para entrar em categorias superiores é preciso começar do zero, seja no quesito treinamento ou mesmo no financeiro, indo além das capacidades apenas do piloto. Assim, o sonho chegou ao fim aos 17 anos.
“Nós não tínhamos condições para bancar todo esse novo investimento, então precisei parar ao chegar na idade de entrar na faculdade”, afirma Dorigon. “Eu lembro que aquele momento foi um abismo. Eu perdi o que amava fazer e senti um vazio enorme.”
O aprendizado não foi em vão. “O kart me ensinou tudo o que eu sei”, diz ele. A necessidade de ser resiliente, de saber competir de forma saudável, de transitar com tranquilidade entre diversos meios e pessoas, de trabalhar bem em equipe, tudo foi aprendido dentro do esporte.
Com esses ensinamentos, ele entrou em duas faculdades ao mesmo tempo, sendo elas Administração e Direito. “Se eu não ocupasse meu tempo, eu ficaria louco”, conta. Assim, começou a trabalhar, mas faltava algo. Após alguns estágios, decidiu empreender pela primeira vez aos 23 anos, no setor de energia.
A empresa foi um sucesso e foi vendida em pouco tempo para a Renova Energia, que hoje é listada na bolsa de valores. Com essa empresa, ele voltou a sentir um traço daquela felicidade que sentia ao correr. “Saber que eu consegui conquistar algo legal me trouxe vontade de continuar”, conta Dorigon. Foi quando ele entendeu que sua vida deveria ser movida a conquistas.
Após a venda, ele decidiu fazer seu mestrado em Harvard, nos Estados Unidos. Ao voltar, em 2010, encontrou um Brasil bastante promissor, com destaque internacional e economia forte. Por aqui, conseguiu um emprego no Credit Suisse, já com foco em transações de compra e venda de empresas. Depois de ajudar a desenvolver a área no banco suíço, decidiu voltar a empreender, com foco em M&A.
“Trabalhar diretamente com empreendedores é muito parecido com o que eu vivia no kart. Eu tenho uma exposição a empresários de muitos perfis diferentes, todos de muito sucesso, e isso me ensina muita coisa diariamente”, diz o empresário.
Nesse momento surge a Unio Partners, que tem a intenção de replicar o que era feito por ele no Credit, só que de uma forma independente e voltada para famílias empreendedoras brasileiras. Desde 2020 a empresa assessorou R$ 3,86 bilhões em 14 transações. A área responsável por Wealth Management atingiu R$ 48,9 bilhões sob gestão. “Meu objetivo não é só fazer uma transação com o cliente e sim ajudar em todos os problemas financeiros que ele tiver, gerando uma relação de confiança”, diz Dorigon.