Naquela sexta-feira chovia muito e sai cedo de casa para chegar no horário marcado. Claro, quem não teria medo de irritar um dos maiores lutadores de todos os tempos com um atraso? Cheguei às 9h45 no apartamento onde ele mora sozinho na Barra da Tijuca e, com a pontualidade de um atleta, eis que ele surge, às 10 em ponto, na sala onde eu esperava. Grande. Mas com um sorriso no rosto, o rosto do Rodrigo. E não a cara séria do Minotauro. Comecei a entrevista mais aliviada.
Rodrigo se aposentou em agosto de 2014 do MMA mas não deixou o Ultimate Fighting Championship. Após a última luta da carreira, contra Stefan Struve, no Rio de Janeiro, um convite.
“Saí do octógono, fui andando, e já encontrei o Dana White. Ele me pegou pelo braço e perguntou: “e aí, tá preparado para trabalhar com a gente?”.
No mês seguinte, o ex-lutador foi anunciado como o Embaixador do UFC no Brasil e encarregado do relacionamento da entidade com os atletas no país.
Mas quem disse que a vida fora do tatame é fácil? Quando perguntei se a nova posição na organização era mais tranquila, Rodrigo foi direto: “Dá trabalho”.
Não que ele se incomode. Falou com muito entusiasmo das tarefas que desempenha e da rotina semanal de viagens a São Paulo.
Agora, que o maior campeão das artes marciais mistas continuasse de alguma maneira no UFC e usasse sua expertise para engrandecer o esporte, era de se esperar. Que se saísse bem como comentarista no canal de TV a cabo Combate, analisando modalidades nas quais é mestre há tantos anos, também era esperado. Mas, além de tudo isso, Rodrigo é ainda um Minotauro nos negócios.
Atualmente, em sociedade com o irmão gêmeo Rogério Nogueira, é dono da Team Nogueira. O empreendimento reúne 38 academias de artes marciais e fitness, inclusive uma em Dubai, cujo sócio é o Sheikh Tariq Bin Faisal Alqassemi; uma empresa de licenciamento; uma equipe de 45 atletas além de uma produtora de vídeo aula e documentários (TN TV).
O empresário se considera um homem de sucesso nos negócios. E não é pra menos. Em 1997 abriu dois tatames em Salvador. Depois, inaugurou uma academia em Fort Lauderdale, na Flórida, que foi a chave para o êxito do empreendimento.
“130, não me esqueço deste número. Era a quantidade de alunos que tínhamos e não conseguíamos passar disso. Ali perto tinha uma outra academia que fazia muito sucesso. Eram seis unidades e 850 alunos. Resolvi ir lá conhecer o dono, que era aluno do meu aluno e andava de Ferrari, para saber o que ele tinha que eu não. Eu era campeão pan-americano de Jiu-Jitsu, campeão mundial de MMA e não conseguia ter tantos alunos”, diz.
Foi daí que ele descobriu que o concorrente, como bom norte-americano, tinha desenvolvido uma metodologia. Fidelizava os clientes oferecendo um programa de evolução técnica ao longo dos anos, além das aulas práticas. A Team Nogueira desenvolveu sua própria metodologia e incrementou com marketing. Em 2012, com tudo pronto, iniciou sua rede de franquias. Cross Combat, programa Kids, Jiu Jitsu e Muai Thaí são o carro chefe, além da musculação, que foi incorporada depois. O Ladies Camp, baseado em um treinamento da marinha americana, também tem sido muito procurado pelo público feminino para entrar em forma e perder peso.
Um trabalho desenvolvido com Sérgio Lyra, que é o administrador das franquias, resultou na abertura de 20 unidades em 2012.
“O ano seguinte, 2013, foi perfeito, o ápice da franqueadora. Mas, sentimos uma queda em 2014, quando a crise começou a ficar mais intensa no país. Só que, com muito trabalho e estratégia, no ano seguinte, não só nos recuperamos como ainda crescemos 25%”.
Em meio à instabilidade econômica e política, Rodrigo percebeu que tinha dado mais um golpe certeiro.
“Cuidar do corpo e da saúde, deixou de ser supérfluo. As pessoas abrem mão de outras coisas, mas não da academia”.
Depois de uma hora e pouco de conversa, perguntei se tinha outro assunto para abordar. A resposta foi sim. Aliás, quando se fala em Rodrigo Minotauro, o que não faltam são assuntos interessantes. E esse desperta paixão no lutador.
“Estou desenvolvendo alguns projetos sociais”, disse. Um deles é uma parceria entre o Instituto Team Nogueira e a Legião da Boa Vontade, que desenvolve ações em sete comunidades do Rio de Janeiro. E o MMA Social é um crowdfunding, cujo primeiro objetivo é arrecadar fundos para centro esportivo de Mariana, em Minas Gerais. ”
Para 2016, ele tem muitos planos. Três novas academias abrindo ainda no primeiro semestre, em Manaus; Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e Campo Grande, no Rio de Janeiro, além de três unidades nos Estados Unidos e uma em Dubai. Rodrigo também vai abrir na Barra da Tijuca, em sociedade com Marcelo Serrado, uma franquia do Skipper, bar temático para esportes de vela e do mar em geral.
Os objetivos são revelar novos atletas, inclusive através da realização da Copa CUFA de MMA, expandir os negócios no exterior e apostar no sistema de franqueados master, com parceiros de peso para trabalhar o mercado cada região.
“Esses parceiros serão encarregados de espalhar nossa metodologia pelo Brasil a fora. A nossa receita de sucesso”.
Letícia Wiermann é apresentadora dos Canais Fox Sports Brasil. Estreou no jornalismo esportivo na cobertura da Copa do Mundo de 2014. Antes de se tornar jornalista, morou em 7 países trabalhando como modelo, sendo eles Chile, África do Sul, Alemanha, França, Itália, EUA e México.