Embora as impressoras 3D ainda não sejam comuns em residências, é preciso saber o quanto elas têm auxiliado no dia a dia da medicina. Objetos impressos com essa tecnologia estão sendo transformados em perfeitos encaixes para implantes, por exemplo. E isso foi demonstrado com excelência por alguns médicos australianos.
No final de 2015, Ralph Mobbs, um neurocirurgião do Prince of Wales Hospital, em Sidney, encontrou um paciente que sofria de uma forma bastante violenta de câncer, conhecida como cordoma. O homem de 60 anos tinha “um tumor particularmente difícil de ser alcançado”, disse Mobbs ao veículo “Mashable”.
LEIA MAIS: Impressão 3D recria orelha e dá esperança à medicina
“Na parte superior do pescoço existem duas vértebras extremamente específicas, que são responsáveis pela flexão e rotação da cabeça. O tumor envolvia essas duas partes”, explicou. “Sem tratamento, o tumor pode lentamente comprimir o tronco cerebral e a medula espinhal, o que pode ter como consequência a tetraplegia”.
Anteriormente, as tentativas de tratamento deste tumor de forma cirúrgicas eram raras, devido a sua localização e risco. Cirurgiões tinham que tentar reconstruir as vértebras com ossos de outras partes do corpo do paciente, “mas é extremamente difícil fazer o ajuste perfeito”, disse Mobbs, que, pela primeira vez, decidiu usar a impressão 3D a seu favor. “Enxerguei uma grande oportunidade”, explicou. “Com a impressão 3D, pode-se fornecer ao paciente uma parte do corpo personalizada, o que facilita o alcance de metas da cirurgia e a faz funcionar muito melhor”.
E MAIS: 19 países que mais terão prejuízo com o zika vírus
Para que a cirurgia fosse possível, Mobbs trabalhou com uma empresa australiana de artigos médicos, a Anatomics. Esta, além de construir o implante de titânio, também fez uma peça semelhante ao corpo do paciente para que o cirurgião pudesse treinar a inovação antes de entrar na sala de operação. Apesar de implantes em 3D já ser utilizado há anos, a equipe acredita que esta tenha sido a primeira impressão 3D a substituir uma vértebra, ainda mais do pescoço. “É preciso ser feito com perfeição”, disse Mobbs.
Por fim, a cirurgia levou mais de 15 horas para ser concluída. O paciente, de acordo com o médico responsável, está se recuperando bem, mas tendo que lidar com alguns obstáculos, já que a incisão precisou ser feita por meio da boca. “A alimentação tem sido um obstáculo, mas a recuperação tende a ser gradual”, explicou Mobbs.
VEJA TAMBÉM: Como um grupo de médicos criou uma das empresas mais inovadoras do Brasil
O cirurgião acredita que a impressão 3D crescerá na medicina exponencialmente. “Não há dúvida de que este é o próximo grande passo. Salvará vidas, articulações, ossos e muito mais”.
Mas Mobbs não está completamente satisfeito, acredita que ainda há muito a evoluir. “Titânio não é o melhor dos materiais. É preciso algo muito mais semelhante as células do corpo dos pacientes, um órgão completamente personalizado”. Este pode não ser um futuro tão distante. Se vértebras têm sido impressas, logo mais um diabético poderá receber um novo pâncreas.