Os noruegueses são grandes homens do mar, talvez porque o mar avance dentro de suas terras, através das centenas de fiordes que possui. Dos vikings a Roald Amundsen — o navegador que conquistou o POlo Sul —, sua história é uma sucessão de aventuras marítimas. Atle Brynestad, de 62 anos, é mais um empreendedor norueguês fascinado pelo assunto. Ele fez fortuna a partir de 1996 ao criar o Smart Club — um programa de múltiplas fidelizações que se espalhou pelo mundo. Depois, vendeu tudo em 2008 e pôs-se a pensar no ramo da navegação.
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Não como um hobby, mas como um negócio. No ano passado, dois de seus navios de cruzeiro, o Seadream I e o Seadream II, foram eleitos por FORBESLife como os melhores do mundo na categoria Navios Pequenos. Mais uma das muitas premiações e reconhecimentos que ambos vêm recebendo há anos por passageiros e especialistas no setor.
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Sim: eles são de fato pequenos (e exatamente iguais um ao outro). Basta ver um deles em um porto movimentado para se perceber como, ao lado dos gigantes do mercado de cruzeiros, o Seadream parece apenas um barco de serviço. Mas essa é apenas a primeira impressão. As embarcações de Brynestad, provavelmente o único proprietário particular de uma companhia de cruzeiros, são, na verdade, grandiosas em luxo e requinte.
“It’s yachting, not cruising”, diz o slogan da companhia, que seus clientes, quase sempre habitués, acostumaram-se a ler e ouvir. E não se trata apenas de uma sacada publicitária, mas da verdadeira identidade do Seadream.
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De muitas maneiras, é mais fácil compará-lo com os mais deslumbrantes iates do planeta do que com os navios que levam passageiros para passear. A começar pelo tamanho: o Seadream tEm apenas 104 metros de comprimento. Na lista dos 200 maiores iates do planeta, ele ocuparia apenas a 32ª colocação, logo atrás do Quantum Blue, pertencente ao empresário russo Sergei Galitskiy. E fica muitíssimo atrás dos dois maiores e mais luxuosos iates dos sete mares. O Azzam, do Khalifa bin Zayed al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos e emir de Abu Dhabi, com 180 metros de extensão, e o Eclipse, do bilionário Roman Abramovitch, dono do clube de futebol Chelsea, com 162.
Ambos, aliás, contam com opcionais que os Seadream não têm. Um submarino acoplado na base do Azzam e um sofisticado sistema de defesa antimísseis, presente tanto no Eclipse como em seu rival.
Mas para que um navio de cruzeiros precisaria desse tipo de acessório? O que existe em comum entre o espírito dos iates particulares e o Seadream é o prazer que oferecem. Com luxo na medida certa, gastronomia sofisticada, open-bar, serviço esmerado nos mínimos detalhes e… acredite… muita informalidade.
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Esqueça os jantares com o capitão e a obrigação de usar tuxedos em algumas ocasiões, exigida por nove entre dez navios, entre eles muitos de qualidade infinitamente mais baixa. Esqueça, também, o tilintar das fichas em volta de uma mesa de roleta ou os grandes espetáculos ao estilo da Broadway. Nem Abramovitch, nem Al Nahyan e tampouco os passageiros do Seadream estão interessados nesse tipo de diversão, digamos, mais escandalosa.
Viajantes de cruzeiros privativos e de navios pequenos preferem a paz, a discrição e a elegância de viver e vestir-se dignamente, sem seguir regras muito estritas.
Não há, é claro, turnos para comer. O jantar previsto para o restaurante de bordo pode ser transferido, sem aviso prévio, para os decks ao ar-livre, se a noite estiver quente e estrelada.
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Foi o que ocorreu, aliás, em quatro das sete noites em que estive a bordo do Seadream II, durante um cruzeiro pelo Caribe. Há outras liberdades concedidas apenas aos iates e aos navios pequenos. Quando o tempo e o mar permitem, o Seadream simplesmente transforma sua popa em uma plataforma aberta para o oceano. Nessas ocasiões, os viajantes podem praticar esportes náuticos — jet ski, caiaque, windsurf e stand-up paddle são alguns deles —, ou simplesmente mergulhar para um banho ou uma observação submarina com o apoio de snorkels.
A dimensão reduzida permite, também, que o eleito por ForbesLife explore baías e enseadas menores, não acessíveis aos gigantes do mar, como o Oasis of the Seas, da Royal Caribbean, quase cinco vezes mais longo e seis vezes mais alto.
A pequenice (não confundir com pequenez, que é insultuosa) propicia outras vantagens que atraem certos tipos de público. Se no citado Oasis, uma cidade no mar, há lugar para 5.400 passageiros e 2.500 tripulantes, o Seadrem tem apenas 56 cabines. Ou seja: se estiver completamente lotado, serão 112 passageiros a bordo, tão pouco que, em uma semana, você certamente saberá um pouco sobre cada um deles.
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Essa privacidade é procurada por casais em lua de mel e para encontros românticos em geral. Não há atrações para crianças, que, portanto, não costumam estar a bordo. Mas o espírito mais aventureiro — sim, o navio balança um pouco mais nas noites de mar enfurecido — não atrai tantos idosos quanto outros navios de luxo de maior porte. De modo que quase todos os passageiros têm entre 30 e 50 anos, são pessoas bem-sucedidas e compartilham o gosto pela exclusividade.
São 95 tripulantes de nacionalidades diversas, quase um para cada passageiro. Todos treinados para tornar cada cruzeiro uma experiência de yachting, not cruising. Em outras palavras: em menos de dois dias a bordo, todos serão capazes de chamá-lo pelo nome e uma grande parte deles saberá quais são as suas preferências em termos de drinques nos bares ou vinhos nas refeições. Diz a lenda que, em seu headquarter de Oslo, mr. Atle Brynestad acompanha, de perto, a performance de cada um de seus tripulantes. E chega a ter o retrato de cada um deles pendurado nas paredes.
Os pequenos detalhes de requinte também chamam a atenção: qualquer mulher a chegar ao restaurante, acompanhada ou não, receberá o braço do maître para conduzi-la à mesa de jantar. As bebidas e iguarias servidas nos coquetéis quase diários são as mais sofisticadas, das melhores procedências.
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O mesmo ocorrerá nas refeições: a gastronomia requintada e variada é um ponto de honra para o Seadream. Novamente em função do número reduzido de passageiros, o chef e seus assistentes são capazes de fazer compras diariamente nos mercados locais, para garantir produtos frescos e especialidades regionais.
Os apreciadores dos grandes shows oferecidos pelos cruzeiros maiores não terão grande prazer. O máximo que se vê são alguns raros músicos, produzindo som de fundo nos ambientes mais frequentados. Fato que, por outro lado, evita distúrbios auditivos, em geral provocados pelo alto volume dos cantores de congas, merengues e salsas que se esgoelam nos navios de grande porte. Para os jogadores compulsivos, a ausência de um cassino é parcialmente aliviada por uma única mesa de black-jack. Há, também, biblioteca e um equipado spa. Aos que querem mais da noite, os Seadreams são os únicos navios a oferecerem, em suas plataformas, as chamadas camas balinesas, em geral cobertas por leves dosséis. De dia, elas são procuradas por casais em busca de paz que não foram passear nas ilhas (no caso do Caribe, é claro). À noite, desde que reservadas com antecedência, podem servir para o pernoite romântico dos casais — nesse caso, as camas serão devidamente preparadas pelas camareiras.
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Como os outros navios, o Seadream oferece passeios em cada destino, bem como uma quantidade limitada de bicicletas reservadas aos passageiros que preferem explorar os lugares pedalando.
A experiência de yachting é amplamente multinacional. Há passageiros de todo o mundo, tripulantes de diversas nacionalidades e detalhes igualmente cosmopolitas. Além das camas balinesas, as toalhas e robes são de origem turca; as roupas de cama vêm da Bélgica e os copos são da marca Hadeland, de cristal norueguês. As amenities, todas, são da marca Bvlgari. E para eliminar de vez a chance da impessoalidade, cada passageiro recebe um pijama com seu nome bordado à mão.
Possivelmente, nem Abramovitch, nem o grande califa tenham pensado em um detalhe tão exclusivo.
Sim: eles são de fato pequenos (e exatamente iguais um ao outro). Basta ver um deles em um porto movimentado para se perceber como, ao lado dos gigantes do mercado de cruzeiros, o Seadream parece apenas um barco de serviço. Mas essa é apenas a primeira impressão. As embarcações de Brynestad, provavelmente o único proprietário particular de uma companhia de cruzeiros, são, na verdade, grandiosas em luxo e requinte.
“It’s yachting, not cruising”, diz o slogan da companhia, que seus clientes, quase sempre habitués, acostumaram-se a ler e ouvir. E não se trata apenas de uma sacada publicitária, mas da verdadeira identidade do Seadream.