Fernando Simões lidera a JSL, maior operadora logística do Brasil. Ele conta nessa entrevista que o setor de transporte local foi impactado pela crise, mas começa a se recuperar.
1. Quando você acha que a economia brasileira vai sair da crise em que está mergulhada?
Tenho a sensação de que as coisas pararam de piorar. Se pararam de piorar – falando sem otimismo irreal, mas com muita responsabilidade – eu diria que isto já é um sinal, uma tendência de melhora. O que está acontecendo no Brasil, na verdade, é um grande freio de arrumação. Durante muito tempo a economia nacional cresceu de formas que não eram sustentáveis, ao menos em alguns setores. Agora, ela está voltando ao seu patamar correto. E eu entendo que, se a economia parou de piorar, isto abre a oportunidade para que comece a melhorar.
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2. Então, a crise também tem seu lado positivo?
Acho, na verdade, que todo momento de dificuldade econômica pela qual o País já passou acabou redundando também em algum bem para o Brasil. Estas crises contribuíram para que erguêssemos, após elas, uma outra base econômica, diferenciada. Então espero que este momento ruim, mais uma vez, acabe por trazer algo de bom. Acho que a gente parou de cair e temos aí uma boa equipe econômica no governo, além de vários profissionais em grandes companhias estatais de enorme qualidade.
3. Fala-se muito no uso de aplicativos para o transporte de cargas. A empresa teme a concorrência desses apps?
De fato, tem-se divulgado muito a possibilidade do uso de aplicativos como o Uber para o transporte de cargas – mas tem-se praticado muito pouco. Eu até acredito nos aplicativos para o transporte de cargas, mas isso ainda vai levar tempo e só vai funcionar em alguns segmentos. As operações da JSL, em sua grande maioria (mais de 50% do total), são de serviços dedicados. São serviços que você fica indo e voltando, não precisa de app. Nós também temos aplicativos, mas não desse tipo. Nós temos aplicativos que facilitam a vida do caminhoneiro. A questão da melhor rota, o posto com preço mais barato, e temos o cartão do caminhoneiro, com que fazemos o pagamento dos fretes.
4. Como a crise afetou a quantidade de volume transportado nas estradas?
Bem, dizem que o movimento de caminhões na Via Dutra caiu 8%. Em compensação, se você pegar o agronegócio ele não teve queda e se você pegar a parte de alimentação, é muito pequena a queda. Há uma economia real que continua existindo de maneira muito menos impactada que o resto do País. Mas sem dúvida teve queda em volume transportado, em especial na indústria automobilística, na siderurgia e nos eletrodomésticos da linha branca.
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5. E, por fim, como vem sendo o desempenho da própria JSL em 2016?
Graças a Deus nossa companhia atua em setores e serviços bastante diversificados. Isso, em um momento como este, faz uma grande diferença. Nós atuamos na siderurgia, na linha branca e na indústria automobilística, mas fazemos também muitos negócios no transporte de alimentos, na parte florestal, que é a parte de celulose… essas operações compensam o que as outras tem sofrido. Divulgamos no começo desse ano que nossa previsão de crescimento é de 12% da receita em 2016 sobre 2015. E temos isso como meta. Isso é reflexo de novos contratos que abrimos no ano passado e também reflexo do que a empresa construiu durante sua história. A companhia faz 60 anos nesse ano.