Mojaher Akil tem 26 anos de idade e já é dono de uma famosa startup de tecnologia: seu primeiro aplicativo já foi baixado mais de 40.000 vezes apenas em dispositivos Android. Além de bem-sucedido, Akil também é um refugiado sírio.
Em sua terra natal, Alepo, ele era dono de uma pequena desenvolvedora de aplicativos de celular. Porém, quando a Primavera Árabe chegou à Síria, ele se envolveu com protestos anti-Bashar al-Assad (presidente da Síria desde 2000), organizando encontros e protestos. Seu ativismo o tornou um alvo do regime vigente no país e ele foi preso e torturado.
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Ele foi solto posteriormente, mas quando os agentes do governo começaram as seguí-lo de novo, o sírio soube que era hora de partir.
Akil escapou para a Turquia, onde vive hoje, junto com aproximadamente 2,7 milhões de refugiados sírios. Assim como vários de seus conterrâneos, ele se deparou com vários obstáculos em sua vida: o processo de asilo, a busca por um emprego e por uma moradia, sem contar com a barreira linguística.
Depois de trabalhar em uma firma de tecnologia por um ano, Akil conseguiu guardar dinheiro o suficiente para abrir sua própria companhia e lançar um aplicativo que promete ajudar milhões de refugiados no país. Gherbtna, que significa “solidão no exílio”, é um app para smartphones criado para situar sírios na sua nova vida.
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Ele contém quatro serviços: informação sobre asilo político via infográficos e animações; notícias; oportunidades, que disponibiliza informações sobre apartamentos disponíveis e trabalhos legalmente apropriados para refugiados; e ajude-me, onde refugiados podem fazer perguntas sobre saúde, educação e outros serviços legais.
Com mais de 40.000 downloads, 90.000 curtidas no Facebook e uma média de 3.000 visualizações diárias no site oficial, Gherbtna se tornou um sucesso. Akil foi até convidado a dar uma palestra via teleconferência no encontro de desenvolvedores de aplicativos da Google, em Mountain View, na Califórnia.
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Em entrevista ao Mashable, Akil disse que já ouviu várias histórias de sucesso de sírios que conseguem achar emprego e acomodações através do aplicativo, e também que já lançou outro aplicativo para ajudar os sírios com tradução do sírio para o turco. Ele afirmou que quer expandir o alcance dos aplicativos para países como Alemanha e Suécia, nova casa de vários outros refugiados da Síria.
Competindo com a EduApp4Syria
Enquanto isso, na Noruega, foi lançado a EduApp4Syria, uma competição que promete “desenvolver um app de código aberto cujo objetivo é ensinar crianças sírias a ler em árabe e melhorar seu bem-estar psicossocial.” Setenta e oito ofertas vindas de 31 países já foram feitas e, em abril, cinco ofertas de companhias de países como EUA, Alemanha, Noruega, Itália e Israel foram selecionadas. Serão oferecidos contratos para três fornecedores para a nova fase do projeto e dois vencedores serão anunciados em dezembro desse ano ou início de 2017.
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“Um total estimado de 2,8 milhões de crianças sírias estão fora das escolas, e, por meio desse app, queremos incentivá-las a continuarem seus processos de aprendizado onde quer que estejam”, disse Børge Brende, ministro norueguês de relações exteriores. “Quase todos os sírios têm smartphones. Queremos tirar vantagem dessa situação e tornar nossos jogos educativos acessíveis para todos.” Como parte da pesquisa, o júri do concurso foi para Gaziantep, na Turquia – a cidade onde Mojahed Akil vive e o Gherbtna foi desenvolvido.
Aplicativos em toda a Europa
Pode haver uma certa competição entre os países da Europa, porém, programadores, desenvolvedores e governantes estão trabalhando juntos para criar vários aplicativos a fim de ajudar refugiados em suas jornadas pelo continente.
Na Alemanha, o Escritório Federal de Migração e Refugiados, em colaboração com a Agência de Admissão Federal e o Goethe-Institut, desenvolveram Ankommen, ou chegada na Alemanha.
O app, disponível para iOS e Android, inclui três funções interativas: uma seção sobre a língua alemã, desenvolvida pelo Goethe-Institut, que ensina o básico da língua alemã para que os refugiados consigam se comunicar no dia a dia; a seção “Asilo, Aprendiz, Trabalho”, que provê infirmações do procedimento de asilo e também oferece informações sobre estudos; e a seção “Vivendo na Alemanha”, que dá informações práticas sobre a cultura e os valores alemães.
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O aplicativo pode ser utilizado no modo offline e está disponível em árabe, francês, alemão, inglês e persa.
Madod Haidar, 23, é uma das 160.000 pessoas que baixou o Ankommen. Ele fugiu da Síria e foi para a Turquia. Porém, como disse, “não havia futuro lá” e ele foi para a Alemanha há um ano, onde seus pais moravam.
Haidar baixou o Ankommen e o utilizou para aprender o básico da linguagem, como frases simples. Com esse conhecimento, ele se matriculou em um curso de alemão na Universidade de Kiel. O jovem sonha se tornar médico como seu pai.
Novos refugiados como Haidar também podem se beneficiar do aplicativo Love-Europe para andar pela Alemanha. Ainda em desenvolvimento, o Love-Europe mostra locais úteis, como campos de refugiados, locais com wi-fi grátis, transportes públicos, hospitais. Também mostra eventos interessantes e vídeos sobre linguagem e cultura.
Criado na Holanda, Love-Europe também está sendo desenvolvido por grupos na Alemanha, na Grécia e na França e, de acordo com desenvolvedores, vai, eventualmente, operar em todos esses países.
Lisa Kreuter e Frauke Scharrenberg fazem parte do time de desenvolvedores na Alemanha. Scharrenberg espera que o aplicativo “ajude os refugiados a se adaptarem o mais rápido possível.”
“Queremos fazer com que eles se sintam em casa”, diz Lisa. Ela espera que Love-Europe seja lançado oficialmente em agosto.