Poderosos players do segmento de jogos, como a MGM Resorts International e a Caesars Entertainment, além de representantes de entidades nacionais e internacionais ligadas ao setor, debateram durante três dias, em São Paulo, as condições para investir na construção e operação de grandes cassinos no país. No Brazilian Gaming Congress, realizado no hotel Tivoli Mofarrej entre os dias 20 e 22 de novembro, eles se mostraram confiantes na entrada em vigor do marco regulatório dos jogos no Brasil, que inclui bingos, jogos online e loterias, além de grandes hotéis-cassinos. Essa foi a segunda edição do evento no país em 2016 (a primeira foi realizada em maio, em Brasília).
Dois projetos tramitam simultaneamente na Câmara e no Senado: o texto discutido pelos deputados (PL 442/91) e o do Senado (PLS 186/2014), com votação no plenário marcada para o início de dezembro. As chances de aprovação são grandes, apesar de alguns argumentos contrários – como o risco de usuários desenvolverem o vício no jogo. Se aprovado, o marco regulatório deverá ser rapidamente sancionado por Michel Temer. “O presidente tem mais pressa que nós. Ele precisa arrecadar”, disse o deputado federal Nelson Marquezelli (PTB-SP), membro da Comissão Especial do Marco Regulatório dos Jogos no Brasil. A estimativa é de que, quando estiver operando plenamente, o setor gere cerca de R$ 20 bilhões anuais em impostos (os primeiros hotéis-cassinos devem entrar em operação, na melhor das hipóteses, dois anos depois da regulamentação).
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A preocupação dos potenciais investidores é quanto à estabilidade jurídica e tributária que o marco será capaz de garantir. Superadas as desconfianças, cada grupo – que precisa obrigatoriamente ser formado por um braço hoteleiro e outro ligado à operação internacional de cassinos – poderá disputar até três concessões de cassinos (cada uma em um estado diferente) entre as 35 que serão oferecidas em grandes cidades do país. As licenças serão leiloadas – cada uma deverá custar entre R$ 100 milhões e R$ 300 milhões. O braço hoteleiro se faz necessário porque, nas grandes cidades, os cassinos só poderão operar em hotéis com pelo menos mil quartos, sejam eles já existentes ou erguidos do zero.
Uma prova de que a indústria internacional do jogo está muito atenta ao mercado brasileiro foi a presença de Jan Jones Blackhurst ao evento paulistano. Ex-prefeita de Las Vegas por dois mandatos (1991-1999), hoje ela é vice-presidente de relações governamentais e de responsabilidade corporativa da Caesars Entertainment Corporation, maior operadora de cassinos do mundo (o grupo mantém 50 cassinos em seis países, com faturamento de US$ 9 bilhões anuais).
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Veja abaixo os principais trechos da entrevista que Jan Blackhurst concedeu a FORBES pouco antes de voltar aos EUA.
FORBES Brasil: No Brasil, algumas leis vêm e vão (o bingo, por exemplo, foi proibido em 1946, permitido em 1993, proibido de novo em 2004). Isso a preocupa?
JAN JONES BLACKHURST: Claro que sim. Foi uma das primeiras questões que eu levantei. O marco regulatório terá que ser muito transparente e dar a segurança jurídica necessária para que possamos determinar se de fato viremos e com que peso. Acredito que o governo brasileiro entende que, se mudar as regras no meio do jogo, os grandes parceiros internacionais não vão mais querer operar aqui.
No Brasil, fala-se muito do risco de dependência ligado ao jogo e pouco sobre geração de empregos e renda, como vocês apregoam. Como vai lidar com isso?
O jogo sempre despertou controvérsias. Mas a legalização não cria viciados, a dependência já existe, já está lá de alguma forma. Por isso, é importante que a regulamentação garanta a implantação de programas que lidem com essa questão. Parte do dinheiro arrecadado deve ser usada para ajudar pessoas que precisam. As pesquisas mostram que jogadores compulsivos nos Estados Unidos, na Austrália e no Reino Unido representam menos de 2% dos frequentadores, e essa incidência vem caindo justamente em função dos programas de recuperação financiados pela indústria do jogo. Por falta de informação, pouco se divulga que os benefícios são muito maiores que essas questões negativas.
Quantos empregos um hotel-cassino do porte estabelecido no Projeto de Lei (de mil quartos) pode gerar?
Durante a construção, de 2 mil a 4 mil empregos. Quando já estiver em funcionamento, os serviços de hotelaria, alimentação, lazer, marketing, administração etc. demandam cerca de 3 mil trabalhadores diretos e 5 mil indiretos. Além disso, toda a economia ao redor – fornecedores de alimentos, de móveis, de produtos e serviços de limpeza – movimenta por ano algo entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões.
E quanto custa construí-lo?
Se formos aproveitar a estrutura de algum resort já existente, é preciso avaliar em que medida suas instalações e serviços precisam ser alterados até se ajustarem ao nosso padrão. Talvez uns US$ 800 milhões. Partindo do zero, entre US$ 1 bilhão e US$ 5 bilhões.
No total, quanto o grupo Caesars está disposto a investir no Brasil?
Dependendo da segurança jurídica que a legislação nos oferecer, da transparência dos termos e dos parceiros envolvidos, investiremos o que for necessário.