Quatro décadas atrás, Yoshiko Shinohara – cuja formação e experiência se resumiam a um diploma do ensino médio e ao trabalho como secretária em dois continentes diferentes – começou uma empresa de recursos humanos especializada na oferta de pessoal temporário em seu apartamento de apenas um quarto, em Tóquio. Agora, aos 82 anos, ela se tornou a primeira bilionária do Japão a fazer a sua própria fortuna.
Yoshiko aposentou-se recentemente do cargo de chairman da Temp Holding, que registrou uma receita de US$ 4,5 bilhões em 2016. As ações da companhia subiram 11,5% no mês passado, o que fez com que os 25% das ações que ainda pertencem à fundadora – além dividendos acumulados no decorrer do ano – valessem mais de US$ 1 bilhão. Um porta-voz da Temp Holding confirmou a participação de Yoshiko na empresa como acionista.
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A principal acionista da gigante de recursos humanos faz parte de um seleto grupo formado por outras 26 bilionárias que fizeram sua própria fortuna na Ásia – todas elas são da China ou de Hong Kong. Empreendedoras de países como Coreia do Sul e Cingapura, por exemplo, ainda não ultrapassaram a linha do bilhão.
A jornada de Yoshiko não foi fácil. Nascida em 1934, ela cresceu durante a Segunda Guerra Mundial. Seu pai, que era diretor de escola, morreu quando ela tinha apenas oito anos. A mãe, que nunca se casou novamente, trabalhava como parteira para sustentar, sozinha, a filha. Ela terminou o ensino médio, casou-se cedo (aos 20 anos) e logo se divorciou. Em vez de continuar no Japão, passou a década de 1960 entre a Inglaterra e a Austrália, trabalhando como secretária.
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Pouco depois de voltar à capital do Japão, em 1973, Yoshiko iniciou sua pequena agência de recursos humanos no apartamento de 24 metros quadrados. “Educação e mulheres no mercado de trabalho são duas coisas que sempre foram meu foco”, afirmou ela à FORBES Ásia em 2015. “A importância da mulher ser capaz de trabalhar e ainda criar seus filhos deixou uma impressão indelével.” Os negócios de Yoshiko começaram devagar e ela precisou dar aulas de inglês à noite para complementar a renda. Depois de cinco anos, a empresa finalmente ganhou seu primeiro escritório.
Segundo Yoko Somura, porta-voz da Temp Holding, o negócio de Yoshiko levantou uma questão importante na sociedade japonesa, acostumada a ver as mulheres abandonarem suas carreiras após o casamento. “Muitas delas, principalmente as mais velhas, se sentiam ‘desconfortáveis’ em continuar sua vida profissional”, lembra, explicando que as que decidiam seguir em frente eram obrigadas a disputar as poucas boas oportunidades disponíveis. “Nossa empresa conseguiu crescer justamente por atender à motivação das mulheres japonesas.”
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No início, Yoshiko só contratava mulheres, mas o volume de negócios começou a diminuir. “Todos as trabalhadoras temporárias eram mulheres no começo, e as nossas gerentes eram recrutadas entre as antigas funcionárias temporárias. Hoje, as executivas japonesas são um pouco diferentes, mas, naquela época, elas nem sempre estavam dispostas a correr atrás de novas oportunidades. Costumavam adotar uma postura mais defensiva, protegendo os ganhos da empresa em vez de avançar na carreira. E isso não é saudável”, disse a bilionária à revista “Harvard Business Review” em 2009. No final dos anos 1980, apesar da preocupação de suas gerentes, Yoshiko contratou mais homens para balancear os negócios e as vendas aumentaram.
Durante os anos 1990 – conhecidos no Japão como a “década perdida” em função do marasmo econômico -, a Temp Holdings decolou, já que, ao promover o corte de custos, muitas empresas optavam pela contratação de funcionários em tempo parcial. Em 2008, a companhia abriu seu capital e foi listada na Bolsa de Valores de Tóquio. Em um período de dois anos, comprou 4% da empresa americana de recursos humanos Kelly Services e fez uma parceria estratégica – que se expandiu para uma joint venture em 2012 – para oferecer mão-de-obra na China, Hong Kong e Coreia do Sul.
Atualmente, a Temp Holdings oferece recrutamento, terceirização, consultoria e desenvolvimento de sistemas. Entretanto, a oferta de funcionários em tempo parcial continua sendo sua principal área de atuação, responsável por 78% da receita de US$ 2,4 bilhões do último trimestre. A companhia tem contratos com 27.000 empresas no Japão e em 13 outros países, incluindo Estados Unidos, China, Índia e Austrália.
O impacto da Temp Holdings tende a crescer ainda mais no Japão na próxima década. A área de pesquisa da empresa prevê que o envelhecimento da população pode gerar grandes oportunidades. Segundo prognósticos, a força de trabalho do país vai enfrentar uma deficiência de 5,83 milhões de pessoas em pouco tempo – e funcionários de período parcial podem ajudar a combater o problema.
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Yoshiko, que se tornou chairman emérita em abril de 2016, nunca se casou novamente e não tem filhos. Em 2014, ela cedeu cerca de 5% das ações da companhia para criar a Yoshito Shinohara Memorial Foundation, que fornece bolsas para estudantes interessados em se tornarem enfermeiros, funcionários de creches e assistentes sociais.