Assim como a ciência, a economia nem sempre é bem-sucedida ao prever o comportamento humano. A disciplina assume um nível de racionalidade e uma habilidade de processar informações complexas que excedem a capacidade humana. Mas pode fornecer lições.
Considere o princípio econômico da coerência em transações finais. Se você está comprando algo em uma franquia, por exemplo, e descobre que o produto custa R$ 50 a menos em uma loja do outro lado da cidade, a escolha racional seria ponderar se o tempo e a distância até a outra loja valeriam a economia. Essa escolha seria muito mais óbvia se a diferença de preço fosse de R$ 100 ou de R$ 1000.
Mas é claro que quando confrontadas com esse cenário, as pessoas não são economicamente ou logicamente consistentes. Muitas delas escolheriam ir ao estabelecimento mais longe para economizar, qualquer que fosse a quantia.
Ao se perguntar se pessoas que fazem essa opção são incoerentes, devemos lembrar que, na realidade, elas podem não entender o valor do tempo ou do dinheiro ou até mesmo ter muito dinheiro e não se importar com a coerência.
De acordo com um artigo escrito pelo psicólogo Anuj Shah em conjunto com alguns colegas, o raciocínio econômico das pessoas melhora quando elas são expostas a dificuldades financeiras. Eles descobriram que indivíduos com menos dinheiro são mais coerentes na hora de tomar decisões financeiras.
Imagine que você está em uma praia. Um amigo oferece uma cerveja que pode ser comprada na mercearia mais próxima. Como não sabe quanto custa, ele pergunta quanto você está disposto a pagar. De acordo com o estudo de Shah, nos EUA, as pessoas estão dispostas a gastar por uma cerveja algo em torno de US$ 5,50 ou menos. Mas a coisa muda de figura com uma alteração no cenário: se o amigo oferecesse uma cerveja do bar ao lado, as pessoas concordariam em pagar cerca de US$ 7. Há nessa situação uma inconsistência.
Este estudo é bem conhecido em economia comportamental, e mostra que existem fatores que influenciam a maneira como as pessoas pensam sobre preços e padrão de consumo. Mas a probabilidade de uma pessoa demonstrar tal inconsistência depende, em partes, de quão rica ela é. As pessoas no estudo de Shah que possuíam renda abaixo da média não aumentaram o valor que estariam dispostas a pagar quando o cenário mudou da mercearia para o bar.
Shah e seus colegas acreditam que o medo da falta de dinheiro é o responsável por essa coerência. “Em vez de olhar para fatores externos, as pessoas com renda menor pensam em seus padrões internos que fornecem uma solução mais estável.”
LEIA MAIS: 5 tendências que vão mudar para sempre o jeito de fazer compras
Talvez você não esteja convencido. Talvez as pessoas mais ricas saibam que o preço da mercearia pode ser diferente do preço do bar, mas isso não justifica a disposição para pagar mais caro apenas pela mudança de estabelecimento. Se beber uma cerveja vale US$ 7 para você, então você deveria ter sugerido US$ 7 logo no início.
Além disso, as pessoas mais ricas no estudo de Shah mostraram inconsistência econômica em vários cenários que não requerem conhecimento exato dos valores. A mesma questão dos R$ 50 de desconto.
Isto não significa que as pessoas mais ricas sejam mais burras sobre dinheiro do que as menos ricas. Na verdade, esse tipo de estudo mostra que nossas decisões dependem de forças conscientes e inconscientes. A qualidade das nossas decisões surge, em parte, com a nossa habilidade e inclinação de considerar os problemas que enfrentamos.