“Se você pode sonhar algo, você pode realizá-lo” é a frase de Walt Disney que estampa, no idioma original, uma das paredes de vidro de um elegante conjunto comercial na Marginal Pinheiros, próximo ao clube Hebraica, região nobre de São Paulo. O ambiente – bem decorado e repleto de funcionários, em sua maioria muito jovens – é sede da Act10n e da Agência Spark, duas das seis empresas atualmente comandadas pelo capixaba Marcus Buaiz. “Atualmente” porque a história do empresário é prolífica quando o assunto é empreender – e ninguém, nem ele, sabe se esse número pode aumentar ou diminuir de uma hora para outra.
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“Eu jamais pensei: Ah, se esse negócio der errado, eu sou herdeiro de um grupo empresarial. Minha vida está aqui. Claro que o futuro a Deus pertence, mas meu pensamento é no presente”, diz Buaiz em uma das várias salas do conjunto comercial.
O grupo empresarial a que ele se refere é o que leva o sobrenome da família em Vitória. O Grupo Buaiz foi fundado em 1941 por Américo Buaiz, avô de Marcus, e se divide em quatro pilares: Buaiz Alimentos, Rede Vitória de Comunicação, Shopping Vitória e, mais recentemente, Instituto Américo Buaiz. Se o empresário fosse seguir a tradição libanesa da família, estaria neste momento em Vitória, em algum cargo executivo logo abaixo do seu pai, Américo Buaiz Filho. Mas, aos 18 anos, iniciou uma trajetória que o levaria para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo. “Eu sou o neto homem mais velho. As filhas do meu avô não trabalhavam no grupo, então havia uma expectativa. E o neto mais velho do seu Américo decide ir embora. Foi difícil”, lembra o empresário.
Na época, cheio de vontade de meter a mão na massa, propôs ao pai que estagiasse no grupo – ideia logo rechaçada, acompanhada pelo conselho de privilegiar os estudos. Teimoso, levou a ideia ao avô, que ainda comandava a empresa, e saiu de lá com o plano aprovado: passar por todas as áreas, sem se fixar em nenhuma, e não ter nenhuma função executiva. Claro que o plano durou pouco.
“Percebi que todo mundo, nas reuniões, falava da televisão do grupo, mas a rádio era o patinho feio. Éramos uma afiliada da Transamérica, último lugar no Ibope. Capixaba olha muito para o carioca, é sua referência mais próxima. E a Transamérica era uma rádio muito paulista até na forma de se comunicar. Era estranho mesmo. Fui olhar o negócio mais de perto.” O então jovem empreendedor fez uma pequena revolução logo de cara: “Primeiro: vi que as pessoas não sabiam como se faz uma rádio, e decidi fazer um estúdio em algum lugar público. Segundo: precisávamos de talentos. Então convenci o diretor do shopping do grupo a montar a rádio num estande e fui atrás do principal locutor da cidade, que era a voz da Globo local e da nossa maior concorrente, a Jovem Pan. Eu, com 18 anos, fui atrás dele e contei o plano. Ele gostou da ousadia e topou, saiu da Globo. Foi um barulho! Aí, quando botamos a rádio no shopping e uma programação regional, em cinco meses fomos para o primeiro lugar”, lembra.
O rapaz tomou gosto pela capacidade de “fazer barulho”. Descobriu que as grandes rádios do país trabalham em conjunto com empresas de eventos. Começou então a propor sociedade com os promotores de shows locais.
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Numa madrugada insone, aos 20 anos, Buaiz desenhou seu primeiro grande evento – aquele que, sem que ele pudesse imaginar, ditaria os rumos de sua carreira: o Vitória Pop Rock. “Desenhei o projeto com 12 horas de música – com Cassia Eller, Jota Quest, O Rappa, Skank, Charlie Brown Jr. e duas bandas locais. Eu tinha uns R$ 6 mil na conta e gastei tudo com o desenho do projeto”, conta. “Fui até a Globo e um diretor que havia acabado de chegar da TV Bahia acreditou em mim, achou minha proposta fantástica. Era um investimento de R$ 1,5 milhão e eu não tinha nada… Ele quis ser sócio da ideia, e assim saí de lá com o projeto de pé”, lembra, entusiasmado. Nascia a MBuaiz Entretenimento, sua primeira empresa e seu passaporte para um novo mundo. “Atingimos 28 mil pagantes e conquistei minha independência financeira.”
Depois de uma passagem pelo Rio para estudos, um amigo paulistano o procurou contando que o piloto Pedro Paulo Diniz estava de volta ao Brasil e tinha trazido com ele a Fórmula Renault. Mais: o filho de Abilio Diniz queria fazer uma etapa capixaba do campeonato. “A gente conseguiu realizar a prova num circuito de rua, à beira-mar. Deu certo. Quando o Pedro quis me pagar, propus abrir uma empresa de eventos em São Paulo tendo esse pagamento como investimento inicial e como sócios ele, eu e esse amigo que nos apresentou, o Edsá Sampaio”. Criaram a Host, que Buaiz considera sua primeira empresa consistente, na qual pôde aproveitar tudo o que aprendeu e colocar em prática um conceito que preza até hoje: a sociedade complementar – na qual os sócios devem ter habilidades diferentes. “Se eu quero abrir um restaurante japonês e tenho o Bruno Setubal como sócio, eu tenho o chef Fabrizio Matsumoto, que é o complementar”. Os três de fato tocam o Geiko-San, no bairro dos Jardins, em São Paulo.
Bye, NIGHT!
“O Zé Vitor Oliva diz que quem trabalha com a noite trabalha com qualquer coisa. O nível de exigência é absurdo. Cheguei a ter 12 casas ao mesmo tempo, foi uma ‘baita’ escola. Abri uma boate chamada Royal no centro de São Paulo, uma região perigosa. Levei a ideia a um patrocinador e ele disse: ‘Vou apostar porque gostei de você. Porque para vir aqui, só de carro-forte, nem blindado!”, conta Buaiz.
“Um dia, o Luciano Huck me falou: ‘Você vai trabalhar com isso até quando?’ Respondi que, naquele momento, era para sempre. Ele disse então que a vida era feita de ciclos, que a gente tinha que fechar algumas portas e abrir outras. Em 2015 eu estava com um faturamento importante no segmento, mas meus filhos tinham nascido havia pouco tempo – e eu acabei adotando o conselho do Huck. Era o melhor momento das casas, o melhor faturamento… Era a hora de sair por cima. Me capitalizei, criei uma empresa de investimento e aí comecei a ter uma outra história.”
A “outra história” nasceu da soma entre o bom momento para sair do negócio e o momento especial em sua vida – casado (com a cantora Wanessa Camargo desde 2007) e com dois filhos. E significou a troca da noite pelo dia.
Prezar a vida em família e sair por cima nos negócios se tornaram dois mandamentos pétreos na vida de Buaiz. A Act10n, que faz gestão de imagem de celebridades e empresas, por exemplo, é fruto direto da experiência com a 9ine, empreendimento mais midiático de Buaiz, criado em sociedade com o ex-jogador Ronaldo Nazário. “Criamos a empresa assim que Ronaldo parou de jogar – ele é padrinho do meu filho, eu sou padrinho da filha dele –, e em quatro, cinco anos, a empresa ficou muito mais de entretenimento do que de esportes. Aí surgiu a Act10n”, conta Buaiz, que levou grandes clientes para a nova empresa, como Neymar, Cláudia Leitte e Paolla Oliveira. “Reforçam na mídia que a 9ine fechou, mas no tempo em que ela esteve aberta foi uma grande companhia. E que bom que a gente tomou essa decisão – que foi melhor para todos – enquanto a empresa estava no auge”, diz.
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Claro que nem só de vitórias vive um empreendedor, e com ele não foi diferente. Perguntado sobre qual fracasso mais doeu na alma e no bolso, Buaiz responde, sem titubear: o primeiro ano da sociedade no Expresso 2222, trio elétrico de Gilberto Gil, com Buaiz ainda na Host, em 2004. “Foi quando Gil virou ministro e saiu na imprensa que a gente estava entrando no negócio para sermos testas de ferro, um absurdo. O projeto demandava patrocínio, não tinha venda de ingresso. Nesse quesito, foi um fracasso. Passamos os cinco dias do Carnaval sorrindo para todo mundo, mas quebrados. Ali eu perdi tudo o que tinha ganhado em um ano de empresa. De qualquer forma, foi um orgulho ter participado, ter sido sócio da Flora Gil, que é craque”, conta. Menos mal que, no ano seguinte, eles recuperaram o prejuízo.
Outra barca furada: “Fizemos um restaurante japonês em sociedade com o arquiteto Marcelo Rosenbaum, outro craque. Restaurante lindo, na principal rua gastronômica de São Paulo na época, a Amauri. Ganhou prêmio de arquitetura e tal… mas não foi”.
Hoje a agenda concorrida abre espaço para uma volta às origens – seu negócio mais recente e promissor, a WMM Company. Desde dezembro, a fusão entre a expertise de Buaiz com marcas e patrocínios, a experiência em shows internacionais da MoveConcerts e a vivência da WorkShow em eventos regionais criou uma das maiores empresas de eventos ao vivo do mundo.
O primeiro teste da WMM ocorreu poucos dias antes desta entrevista: o Skuta Festival, um evento de 12 horas de música no Allianz Parque, em São Paulo. “Nesse caso, discutimos todo o processo em conjunto, e o resultado é fruto disso. Todo mundo já fez um pouco de cada coisa, eu já montei festival do zero. Me deu até um déjà vu da época do Vitória Pop Rock vendo aquelas 46 mil pessoas…”, conta o empresário. Uma volta à noite? “Não, o evento foi de dia!”
Muito trabalho? Gerencie o tempo
“Sempre acreditei que ‘não tenho tempo’ é uma desculpa para não realizar o que se tem que fazer. Eu tenho uma vida absolutamente corrida, mas não deixo de estar presente com a minha família, de fazer meus exercícios físicos diários… O que é prioridade, eu realizo. Tenho uma agenda muito bem definida e eu cumpro. Treino das 12h até 13h – deu 11h45, entrou alguém na sala, já sabe que estou indo embora. Moro em Alphaville e gasto duas horas de locomoção, o que é um problema. Às 7h também treino em casa, mesmo nos dias em que estou cansado, destruído, maldormido. Levo as crianças à escola – acho importante, a gente vai conversando… Não adianta esquecer da saúde e depois ter de gastar tudo com médico”, ensina Marcus Buaiz.
Os domínios de Buaiz
WMM Company (entretenimento) com Wander Oliveira (Workshow) e Phil Rodriguez (MoveConcerts)
Act10n (gestão de carreiras de celebridades) com Marco Serralheiro e Paula Gertrudes
Agência Spark (relacionamento entre marcas e influenciadores digitais) com Rafael Coca e Raphael Pinho
BR Sports (gestão de marcas esportivas como Topper e Rainha) com o grupo Sforza, fundo de investimentos de Carlos Wizard Martins
Neymar Sports (rede de academias de futebol) com Neymar da Silva Santos e Charles Martins
Geiko-San (restaurante japonês) com Bruno Setubal, Philipe Klein, Marcelo Goldfarb e o chef Fabrizio Matsumoto
Reportagem publicada na edição 59, lançada em maio de 2018