Um dos maiores problemas enfrentados hoje pela indústria da maconha é a falta de acesso ao setor bancário. As empresas do ramo usam de criatividade para fazer negócio apenas em dinheiro, quando não com “criptomoedas” e tecnologia blockchain, formas de contornar a regulamentação federal atual. No entanto, se acreditarmos no CEO da Canopy Growth, Bruce Linton, esse obstáculo deve ser removido até janeiro de 2019, quando, segundo ele, as empresas dedicadas à cannabis poderão começar a se bancar legalmente. Linton chama a iniciativa de “presente de Natal” para a indústria da erva.
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Ao participar de uma conferência sobre maconha em Montego Bay, na Jamaica, há duas semanas, de jeans e camiseta, Linton mostrou confiança na resolução da questão bancária em poucos meses. Primeiro, o executivo fez uma retrospectiva do ano. Mais tarde, em sua apresentação, entrou no assunto. Ele disse ter recebido propostas de vários bancos para a sua empresa.
Com a legalização da erva no Canadá, na última quarta-feira, 17 de outubro, o Scotia Bank, instituição com filiais no mercado jamaicano, vai passar a atender empresas do setor maconheiro canadense. Sua parceria com o Bank of America também é uma boa notícia para o setor: os fundos depositados no Scotia Bank estão disponíveis para saque nos caixas eletrônicos do Bank of America e nas bocas do caixa, e vice-versa.
Enquanto um pequeno público da conferência assistiu a um comercial de vídeo da Canopy Growth dominado por brancos — as poucas mulheres brancas que figuram no vídeo parecem ser colhedoras de maconha ou operárias, não executivas — que recebeu uma salva de palmas ao fim da exibição, nem todo mundo se empolgou. Talvez porque o discurso de Linton tenha falhado nas expectativas. Mas ele mesmo parecia feliz só de estar na Jamaica, em uma viagem gratuita.
O youtuber Major Twang ironizou a situação, e criticou Linton, que, para ele, “não tem contato com a indústria da maconha”, o que aliás não parece preocupá-lo nem um pouco.
Já enquanto relata uma conversa ouvida na palestra sobre responsabilidade social corporativa, Linton se mostra um pouco irritado. Ele admite que seu ponto de vista pode soar inadequado: “As corporações têm um propósito e esse propósito é ganhar dinheiro”. No entanto, aponta que adquirir itens auxiliares localmente, mesmo que por preços um pouco mais altos, começando com banheiros químicos para locais de obra, estimula a economia regional. É um propósito benéfico, se não necessariamente altruísta.
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Linton aposta no efeito dominó: se ele contrata banheiros químicos de um fornecedor local, esse empresário terá renda extra para sair para jantar com a
namorada, o que, por sua vez, criará melhores restaurantes e, em seguida, incrementos na rede de transportes e concessionárias de automóveis.
Linton faz uma pausa depois de expor seus ideais de gentrificação. Pausa recebida com o silêncio atordoado da plateia. Os poucos jamaicanos presentes têm o olhar incrédulo. Vale lembrar que há muitas companhias emergentes de cannabis que adotam ativamente a responsabilidade social corporativa, como como a Papa & Barkley.
Banheiros químicos e comentários semelhantes aos dos “países do poço” de Trump à parte, Linton expressa a confiança de que, se a Bolsa de Valores de Nova York se abriu para a sua empresa – embora ela não pudesse tocar no sino de abertura -, o setor bancário naturalmente deve seguir o exemplo.
Estar listado em bolsa, diz o executivo, explicita a adesão às regras contra a lavagem de dinheiro. O que também significava que, há cerca de um mês, o Bank of America poderia emprestar à Constellation Brands Inc. — a empresa por trás da cerveja Corona — cerca de US$ 5 milhões para dar a ele. O acordo revolucionário da Canopy Growth com os produtores da Corona mais do que dobrou o preço das ações do produtor. Linton, no entanto, atribui a valorização do Canopy ao mercado global de maconha medicinal. De qualquer forma, ele está confiante de que essa sequência de eventos fornece “força e peso suficientes para fazer com que o enigma bancário seja resolvido em breve”.
Ele também observa que, enquanto 22 países querem exportar maconha medicinal, apenas dois até o momento, Brasil e Polônia, querem importá-la. Isso não é necessariamente verdade. A Alemanha atualmente a importa principalmente do concorrente da Canopy Growth, o Cronos Group. Espero que as informações privilegiadas de Linton sobre o setor bancário sejam mais precisas do que seus comentários sobre a importação da maconha.
O Natal está logo aí.