Muito falado por dar suporte à moeda virtual Bitcoin, o Blockchain tem inúmeras outras aplicações possíveis. A tecnologia de registro permanente que propõe a descentralização como medida de segurança, embora pensada inicialmente para o mercado financeiro, tem se mostrado revolucionária outras áreas e transformado desafios em grandes oportunidades de empreendimento e inteligência. Uma das principais vantagens do uso do Blockchain é a globalização, sem interferência de dados, produtos, capital ou até mesmo órgãos estatais locais.
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Segundo o canadense Don Tapscott, palestrante e consultor especializado em estratégia corporativa e transformação organizacional, alguns governos já entendem a necessidade da tecnologia nos dias atuais. “Em São Paulo, por exemplo, foi criada, recentemente, uma ‘parceria’ entre o governo do Estado e as pesquisas de Blockchain com o intuito de tornar a tecnologia disponível para companhias brasileiras a um preço acessível”, conta. “No Brasil, o uso ainda está no início. Algumas empresas até investem parte de seus recursos no Blockchain, mas muitas ainda não confiam totalmente no serviço”, explica.
“Manter um documento original é algo que está ao nosso alcance. Enviamos uma cópia e mantemos a matriz em nossas mãos. Mas isso não funciona para muitas coisas, principalmente quando elas podem afetar a economia, a identidade governamental, cultural e a lealdade de um governo perante a nação”, afirma. Segundo o especialista, manter contratos, finanças e documentos confidenciais replicados pode ser uma má ideia.
“O objetivo do Blockchain é atingir todas as instâncias, desde a cultura e o entretenimento até o sistema democrático no que diz respeito à política. É uma tecnologia não só de informação. Tudo pode ser gestado e transacionado pela segurança de privacidade, e a confiança não é alcançada por um intermediário, mas sim pela criptografia e por programas de software. As aplicações, assim como qualquer atividade econômica, podem ser diretamente asseguradas. É por isso que a apelidamos de protocolo da confiança’’, diz Tapscott.
Segundo o especialista, além de gerar lucros, a tecnologia Blockchain também gera altas taxas de empregabilidade, não só no meio tecnológico diretamente, mas também no agronegócio, na indústria e em várias outras iniciativas e atividades, de forma indireta, porém em grandes proporções. Além disso, o Bitcoin revolucionou a forma como a sociedade enxerga o dinheiro, ao dispensar intermediários.
Na política, o Blockchain pode ser visto como um “objeto democrático”. Tapscott diz que o sistema de votação tradicional nos EUA, por exemplo, pode ser corruptível, sem contar os problemas técnicos, o que pode resultar na exclusão da vontade eleitoral de uma grande parcela da população. “Quando falamos de Blockchain e política, o que se pode afirmar é que a tecnologia evita esses inconvenientes e oferece um voto incorruptível e permanente, onde o resultado é transparente e de fácil acesso a todos. Por que não utilizar a tecnologia para mudar as instituições democráticas e, consequentemente, dar uma cara nova para o sistema eleitoral?
No que diz respeito ao ambiente regulatório, o especialista afirma que é muito cedo para fazer qualquer previsão. “Existem boas universidades, com ótimos estudos sobre tecnologia da informação, mas ainda precisamos de mais lideranças de pensamento”, explica.
Entusiastas, Tapscott e seu filho Alex, que trabalhava em uma instituição bancária, decidiram escrever juntos o livro “Blockchain Revolution”, já traduzido para mais de 20 idiomas. Para Tapscott, é indispensável a presença de um bom ambiente regulatório e de um forte apoio governamental para fazer com que o país cresça economicamente com a tecnologia. Países como Suíça, Singapura e Estados Unidos são citados como grandes “paraísos” do Blockchain. “Mas estamos apenas começando”, afirma.