Desde abril, a LVMH levou seu glamour ao maior campus de startups do mundo, a Station F, em Paris. Seu programa de aceleração, batizado de La Maison des Startups, é um verdadeiro laboratório do luxo: são 89 estações de trabalho espalhadas por 220 metros quadrados. Atualmente estão incubadas 23 startups, e até o fim de 2018 mais 27 devem ser recepcionadas no espaço, cumprindo a meta do grupo de ter, a cada ano, 50 novos negócios.
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FORBES conversou com Isabelle Faggianelli, diretora de transformação digital da LVMH. De Paris, a executiva, há 13 anos no grupo (sete deles atuando na área de negócios digitais), contou como eles estão levando o legado do luxo “rumo ao futuro” e qual é, afinal, a pretensão do bilionário Bernard Arnault com a iniciativa.
FORBES – O que vocês buscam nas startups?
Isabelle Fagianelli – Nós selecionamos startups e empreendedores que são inovadores e relevantes em todos os cinco setores que temos no grupo [vinhos e bebidas, moda e artigos de couro, perfumes e cosméticos, relógios e joias e varejo seletivo] a fim de trazer melhorias para nossas marcas, para o serviço e para os clientes. As soluções têm que se encaixar com a nossa indústria – e nós exigimos isso porque queremos muito que eles façam negócios com a gente, queremos ter uma oportunidade real com eles. É uma relação ganha-ganha. Além de novos negócios, parcerias e colaborações, queremos modificar nossa cultura interna, misturar o ambiente de startups com o da empresa. No espaço não apenas temos startups, mas também funcionários da LVMH que estão com novos projetos e que desejam se aventurar como empreendedores. Para selecioná-los, promovemos uma competição.
Você já sente alguma diferença nos resultados e na cultura das pessoas envolvidas?
O que posso dizer é que ambos os lados jogam o jogo. Nossas marcas embarcaram nessa e realmente estão interessadas em conhecer as startups, promover parcerias reais, discutir com os fundadores. O engajamento é ótimo. Já temos cerca de 50% das startups aceleradas trabalhando com algumas marcas.
Como a LVMH está andando em direção ao futuro, considerando a transformação digital?
São muitas frentes de ataque. Estamos renovando nossa cultura, permeando novos conhecimentos pelo grupo e encorajando o empreendedorismo. Este ano aconteceu a segunda edição do prêmio LVMH Innovation, durante o evento Viva Technology, promovido pelo jornal de economia francês “Les Echos” (da LVMH) e pela agência Publicis [na última edição, foram 800 inscritos de várias partes do mundo, sendo 30 selecionados para a final]. Tudo isso impulsiona as mudanças internas.
Como balancear um legado histórico de luxo com a necessidade de inovar?
Todas as nossas marcas têm essa imagem de serem tradicionais e ao mesmo tempo inovadoras. Quando foram criadas do zero, também inventaram suas tecnologias, sua identidade e seus produtos. Então tudo acaba se misturando. Na prática, é um equilíbrio que os funcionários fazem todos os dias, nunca esquecendo o passado e essa herança. Mantemos os artesãos e ao mesmo tempo buscamos formas de otimizar e melhorar os processos com uso de novas tecnologias. Para um exemplo concreto, realizamos agora a terceira edição do Les Journées Particulières, que é quando as maisons abrem as portas ao público para mostrar o backstage e o trabalho manual.
AS ACELERADAS
Conheça quatro startups que já estão sob a tutela do grupo LVMH:
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Divulgação Aveine
O fundador Nicolas Naigeon vem de uma família de vinicultores da região de Bordeaux, mas optou por se aventurar na tecnologia. A Aveine produz um aerador de vinhos conectado a um aplicativo, que recomenda a que temperatura o vinho deve ser consumido, assim como ajuda o usuário a selecionar, parear e acessar informações sobre cada rótulo.
Nas palavras de Nicolas, “o vinho é uma bebida feita para ser consumida em convívio social. Assim que realizei isso, criei um aerador que proporciona ao usuário a bebida nas melhores condições, de forma imediata”.
Foram produzidas 2 mil unidades. Quando adquirido em pré-venda, custa € 150; o preço de mercado será por volta de € 200. Nicolas foca em crescer nos mercados europeu, norte-americano e asiático.
ANO DE CRIAÇÃO: 2016
PROPOSTA: aerador inteligente de vinhos
FUNDADOR: Nicolas Naigeon
CAPTAÇÃO DE RECURSOS: € 480 mil via investidores anjos -
Divulgação Smartzer
Karoline começou a desenvolver o conceito da Smartzer quatro anos atrás. Com a ferramenta, é possível comprar peças de roupas apenas clicando sobre imagens de vídeos distribuídos pelas redes sociais e sites.
“Com o crescimento dos e-commerces, as marcas devem produzir conteúdo para contar suas histórias, exibir os produtos e aumentar as vendas. Especificamente na área de vídeos, descobrimos também que a Smartzer pode ser usada para mapear e medir os canais de compras”, diz ela.
A Smartzer já atuou em parceria com Louis Vuitton, Dior (divisão de moda) e outras marcas não pertencentes ao grupo LVMH, como a Valentino e a Jimmy Choo.
ANO DE CRIAÇÃO: 2012
PROPOSTA: fazer compras clicando em vídeos
FUNDADOR: Karoline Gross
CAPTAÇÃO DE RECURSOS: não divulgado -
Divulgação Daumet
É possível fabricar ouro sustentável e bonito? Para o fundador Cyrile Deranlot, isso já é uma realidade. Seu produto principal, o “mais branco dos ouros brancos”, é uma liga de ouro e tungstênio que, diferente da liga tradicional (ouro, paládio e ródio), é muito mais abundante no meio ambiente, o que colabora para diminuir o impacto que a indústria de joias causa.
Isso rendeu à startup um reconhecimento formal da União Europeia. Para Deranlot, o fundamental é “aumentar a capacidade de produção, já que estamos desenvolvendo alguns produtos finais e principalmente protótipos”. Mais do que joias, o objetivo é comercializar o ouro para grifes que o utilizem em detalhes de bolsas, roupas, peças de design.
Além disso, com a tecnologia da Daumet, é possível criar ligas únicas e customizadas, o que abre as portas para o promissor mercado das personalizações.
ANO DE CRIAÇÃO: 2016
PROPOSTA: produzir ouro sustentável
FUNDADOR: Cyrile Deranlot
CAPTAÇÃO DE RECURSOS: não divulgado -
Divulgação Heuritech
Os caçadores profissionais de tendências, mais conhecidos como cool hunters, existem desde os anos 1990, quando a rapidez das mudanças que assolavam o varejo criou a demanda por profissionais de marketing capazes de prever o que viria a seguir. A Heuritech, alinhada com esse mundo acelerado, inventou uma ferramenta de inteligência virtual que analisa mais de 1 bilhão de imagens das redes sociais todos os dias e identifica tendências, revelando quais são os próximos produtos que irão “bombar”.
O fundador e CEO Tony Pinville (foto) é Ph.D. em IA, atuou 15 anos no mercado financeiro, mas acertou a mão quando migrou para o mercado de moda e venceu o prêmio Innovation Awards em 2017.
Agora, além do espaço dentro da Station F, tem um escritório em Paris e outro em Nova York.
ANO DE CRIAÇÃO: 2013
PROPOSTA: caçador de tendências digital com inteligência artificial
FUNDADORES: Tony Pinville e Charles Ollion
CAPTAÇÃO DE RECURSOS: € 1,1 milhão em novembro de 2016, do fundo Serena Capital e de investidores privados como Renaud Visage (cofundador do Eventbrite)
Aveine
O fundador Nicolas Naigeon vem de uma família de vinicultores da região de Bordeaux, mas optou por se aventurar na tecnologia. A Aveine produz um aerador de vinhos conectado a um aplicativo, que recomenda a que temperatura o vinho deve ser consumido, assim como ajuda o usuário a selecionar, parear e acessar informações sobre cada rótulo.
Nas palavras de Nicolas, “o vinho é uma bebida feita para ser consumida em convívio social. Assim que realizei isso, criei um aerador que proporciona ao usuário a bebida nas melhores condições, de forma imediata”.
Foram produzidas 2 mil unidades. Quando adquirido em pré-venda, custa € 150; o preço de mercado será por volta de € 200. Nicolas foca em crescer nos mercados europeu, norte-americano e asiático.
ANO DE CRIAÇÃO: 2016
PROPOSTA: aerador inteligente de vinhos
FUNDADOR: Nicolas Naigeon
CAPTAÇÃO DE RECURSOS: € 480 mil via investidores anjos
Reportagem publicada na edição 63, lançada em novembro de 2018
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