Resumo:
- Depois de experiências não muito agradáveis, a CEO da startup Pashion Footwear criou o sapato com salto removível;
- A startup é formada 80% por mulheres e tem como objetivo servir à multifuncionalidade da mulher moderna;
- Especialistas e analistas apontam os benefícios à saúde do Pashion Footwear.
A maioria das mulheres tem uma relação de amor e ódio com os sapatos de salto alto. Eles são fantásticos de se ver, alongam as pernas de uma maneira linda e dão um algo a mais a qualquer roupa. O fator “várias-horas-depois” é que mata todo esse cenário. Afinal, não dá para negar que eles causam dor. É simples assim. Bolhas no pé e dores nas costas se tornam insuportáveis.
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Você lembra quando o personagem Jack Colton, interpretado por Michael Douglas, arrancou o salto alto do sapato italiano de Joan Wilder (da atriz Kathleen Turner) no clássico filme de 1984 “Tudo por uma Esmeralda”? Tudo bem, eles estavam presos em uma floresta e precisavam de praticidade. Mas existem dias em que seria ótimo se algum estranho nos salvasse da nossa selva de concreto.
Não é necessário, no entanto, ir mais tão longe: o primeiro sapato de salto completamente conversível está disponível online. Ele não é só um alívio para amantes de sapato, mas também uma história inspiradora.
A Pashion Footwear é criação da empreendedora e CEO de 23 anos Haley Pavone, que lançou a empresa em 2016 diretamente do dormitório que ocupava enquanto cursava o segundo ano da faculdade Cal Poly San Luis Obispo.
Tudo começou em uma noite em que ela saiu para dançar com as amigas e a inspiração atingiu dolorosamente seu pé direito. Com sapatos de salto alto, ela logo começou a sentir dor em ambos os pés. Haley então fez o que a maioria das pessoas faria: tirou o sapato. Logo em seguida, porém, uma das amigas, que ostentava um sapato de salto bem fino, pisou no seu pé. O incidente levaria à criação do primeiro sapato de salto completamente conversível.
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Imediatamente, a jovem começou a trabalhar e pesquisar sobre saltos altos. O que ela descobriu rapidamente foi que esses ícones de moda causam vários problemas. “Saltos altos são a causa número 1 de dores no pé nos Estados Unidos. Mulheres já estão familiarizadas com as dores nas costas decorrentes do acessório, mas o que elas não percebem é que, quando a dor nas costas se instala, os pés, tornozelos, joelhos e quadris já estão comprometidos.”
Em questão de meses, Haley trouxe dois amigos estudantes para o projeto: Tyler Unbehand, que se especializou em tecnologia industrial, e Seiji van Bronkhorst, um engenheiro mecânico especialista em design de sapatos.
Ela montou um time de experts no produto e assumiu a missão de criar um sapato de salto confortável, capaz de mudar com a mulher ao longo do dia, da sala de conferência ao estádio esportivo. Seu objetivo era empoderar as mulheres e oferecer uma solução para que elas nunca mais tivessem que escolher entre estilo e praticidade. Haley se refere ao seu time 80% feminino como uma companhia “fashiontech”, criada por mulheres para mulheres.
Sua equipe apresentou o conceito na competição anual de empreendedorismo da faculdade de Haley, a Cal Poly’s Annual Elevator Pitch Competition. A jovem ganhou o primeiro e o segundo lugares. Nos meses seguintes, o time desenvolveu o primeiro protótipo e o apresentou na competição anual Innovation Quest, da qual saiu vencedor e com um prêmio de US$ 15 mil. Não muito depois, a equipe foi aceita no programa SLO HotHouse Summer Accelerator, um acampamento intensivo para startups da universidade.
Nos dois anos seguintes, Haley trabalhou duro e juntou US$ 1,7 milhão em capital semente. Os dois maiores apostadores foram os investidores anjos Forrest Fleming e a Entrada Ventures. A jovem empreendedora e seu time rapidamente começaram a fazer o design e a engenharia por trás do mecanismo do salto, em um processo de criação de protótipos que consumiu 10 etapas. Eles conseguiram a patente (pendente) em 30 países, incluindo os Estados Unidos, a China e todos os membros da União Europeia. O resultado foi um lindo sapato de salto alto que se converte em um modelo sem salto em menos de cinco segundos.
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“Durante esses dois anos e meio de jornada, claro que encontramos obstáculos, mas o que me fez persistir foi a forma como as mulheres reagiam a essa ideia”, diz Haley. “A qualquer momento eu posso sair andando na rua, mostrar o sapato a uma mulher e seu queixo vai cair. Isso sempre acontece! Sei que estamos fazendo algo que as mulheres realmente querem, precisam e que as anima. E essa animação é contagiante e foi nosso combustível para chegarmos onde estamos hoje.”
A Pashion Footwear tem sua sede em San Luis Obispo, Califórnia, no centro para inovação e empreendedorismo Hot House Startup Incubator, da universidade Cal Poly. A empresa tem também um escritório em Portland, no estado do Oregon, onde contratou um time de desenvolvimento de sapatos. No momento, existem cerca de 10 funcionários e seis membros em um conselho.
Como a tecnologia da Pashion só afeta a parte de baixo dos sapatos, o time de Haley consegue fazê-los de qualquer forma ou estilo. A sola é confeccionada de termoplástico e nylon, que permite uma flexibilidade entre o salto e o sapato baixo somente com a assistência do próprio peso da pessoa. A inovação principal que permite a conversão do sapato vem do próprio salto removível e do Pashion Stelo, um arco-suporte também removível. A invenção permite que a sola do sapato fique completamente lisa. As mulheres podem simplesmente virar o salto e desencaixar o Stelo com facilidade e, em seguida, encaixar uma sola de sapato sem salto. Colocar o Stelo de volta é tão fácil quanto encaixá-lo no local certo e virar o salto para sua posição original.
A empresa vende o pacote completo, batizado de Convertible Tech Package, por US$ 165: são duas solas de sapato, dois saltos, dois Stelo, capas de salto de borracha para proteger os sapatos quando usados sem salto e uma sacola para guardar tudo. Kits de saltos adicionais são vendidos por US$ 35 (saltos substitutos ou saltos de alturas diferentes).
“O valor está de acordo com outras marcas de sapato de qualidade parecida”, diz Haley. “E são dois sapatos pelo preço de um, o que mais que justifica o preço. À medida que formos crescendo, lançaremos sapatos a preços variados, dependendo do estilo e do material, assim como fazem outras empresas do segmento.”
A Pashion Footwear está lançando duas versões: a Pasionista e a Girl Boss em preto. “No entanto, nós temos várias cores e estilos adicionais e novos materiais vindo nas próximas duas estações”, explica a proprietária.
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O primeiro salto conversível do mercado já entrou em pré-venda, com rendimentos de US$ 26 mil. Os primeiros 300 pares foram enviados a suas novas donas em janeiro. Elas deram aos sapatos uma nota média de 5.6/6 na métrica da companhia de conforto, facilidade de uso, estilo e qualidade.
Como projeção, a empreendedora estima que, assim que vender toda a primeira leva, vai arrecadar, aproximadamente, US$ 206 mil na primeira estação. “Nós temos um caminho claro para triplicar esse número no outono. A atual capacidade da nossa linha de produção nos permite crescer em US$ 6,6 milhões mensalmente sem mudar nossos atuais fornecedores. Nós construímos a companhia com seu crescimento em mente.”
Beth Goldstein, analista de acessórios e sapatos do grupo NPD, vê uma oportunidade de sucesso se alguns fatores forem considerados. “Moda, conforto e narrativa precisam estar perfeitos e, mesmo assim, é difícil entrar no mercado.”
Em relação ao preço, Beth disse que não deve ser um problema, já que são dois sapatos em um. “Produtos com elementos adicionais, funções e valor agregados vão bem no mercado. Já vimos grande sucesso com esse tipo de produto nos últimos anos, como no caso do sapato à prova d’água e da bolsa conversível que pode ser usada de várias formas. Esses produtos dois-em-um são muito atraentes para os consumidores.”
Além da multifuncionalidade, Beth reitera que, no caso dos sapatos, conforto é fundamental. “Conforto virou a coisa mais importante da atualidade. Para os calçados, a categoria de lazer e esportes tem liderado o mercado há anos, então as consumidoras estão acostumadas ao conforto e querem a mesma coisa quando usam sapatos mais formais. Por isso, as marcas estão incorporando elementos atléticos em modelos mais sérios, como, por exemplo sandálias com solados de tênis.”
As mulheres não sacrificam mais a moda pelo conforto. “Elas estão muito ocupadas fazendo várias coisas em um mesmo dia e querem produtos intercambiáveis entre si e multifuncionais”, diz Beth. “No entanto, só porque o sapato não tem salto, não significa que ele é confortável, então é preciso do fator conforto, com ou sem salto. É necessário ter uma mistura de moda e conforto.”
Haley garante que seus sapatos têm o conforto como característica. “De um ponto de vista material, nossos modelos têm mais em comum com versões esportivas do que com versões de salto, ou seja, são extremamente confortáveis.”
O quiroprático Scott Kolofer diz que os benefícios existem a curto e longo prazos. “A habilidade de mudar o modelo de um sapato de salto para um sapato baixo oferece às mulheres a oportunidade de escolher algo muito mais estável. Na versão sem salto, os sapatos da Pashion oferecem um arco excelente e o suporte para o salto alivia o estresse imediatamente no pé e na perna quando convertido. Com o uso contínuo da tecnologia, as mulheres terão benefícios a longo prazo, como um andar muito mais seguro, liberando tensão crônica potencial nos pés, calcanhares, pés, quadris e espinha lombar.”
Beth diz que, com tantas marcas, ganhar um espaço no mercado não é fácil. “A Rothy’s é um grande exemplo. A grife teve muito sucesso, mas mesmo com os relatados de US$ 140 milhões em vendas em 2018, isso é menos do que a metade de um share point no mercado feminino.”
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De acordo com o serviço de rastreamento de consumidores do NPD, nos últimos 12 meses (finalizados em maio de 2019) o mercado de sapatos femininos, excluindo os modelos atléticos, cresceu para US$ 30,2 bilhões nos Estados Unidos, uma alta de 3% em relação a 2018. Ainda segundo o levantamento, as vendas de saltos altos nas categorias de sapatos da moda, sandálias e botas caíram 4%.
Talvez os sapatos conversíveis de Haley ajudem a incrementar esses números. Ela tem grandes planos de expansão. “Botas, plataformas, sandálias de todas as alturas, de couro e camurça… Se as nossas clientes quiserem, nós podemos – e vamos – fazer. Afinal, se as mulheres fazem tudo, seus sapatos também devem fazer.”
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