“Seguir os passos do meu pai, Nelson Pessoa, me tornou o cavaleiro que eu sou hoje. Mas foi uma faca de dois gumes, porque isso veio carregado de muita pressão e responsabilidade”, relembra o cavaleiro Rodrigo Pessoa, 46 anos, o primeiro e único atleta brasileiro da modalidade a conquistar um ouro olímpico (Atenas 2004), depois que o primeiro colocado, o irlandês Cian O’Connor, foi desclassificado por doping…do cavalo. Nas Olimpíadas, além do ouro individual, Rodrigo tem dois bronzes em equipe (Atlanta 1996 e Sidney 2000) e uma prata, também por equipe, nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011. A relevância do atleta para o Comitê Olímpico Brasileiro é tamanha que, nos Jogos Olímpicos de Londres (2012), ele foi escolhido para ser o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura.
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Pioneiro do hipismo no Brasil na década de 1950, quando nem existia a profissão de cavaleiro, Nelson fez carreira na Europa e colocou o filho Rodrigo na mesma rota. Nelson – que participou das Olimpíadas de Melbourne (1956) e Tóquio (1964) – costuma dizer que, se tivesse continuado no Brasil, hoje seria corretor de seguros na empresa que era de seu pai. Mais do que incentivar o filho a seguir a carreira internacional, foi decisivo para fazer o hipismo do Brasil entrar em um novo caminho ao investir na criação de um centro de treinamento na Bélgica.
De múltiplas vezes campeão a atual técnico da seleção da Irlanda, Rodrigo divide seu tempo entre os treinos de sua equipe e o retorno às competições olímpicas – de olho em Tóquio –, após um hiato de oito anos longe da disputa que reúne os melhores atletas do mundo a cada quatro anos. Rodrigo nasceu em Paris, morou em Chantilly por alguns anos, mas fincou raízes na Bélgica, onde permaneceu por mais de 30 anos, por motivos puramente profissionais. Não faz muito tempo, mudou-se para Wilton, Connecticut, junto com a família: ele é casado há dez anos com a amazona Alexa Weeks, com quem tem duas filhas. A primogênita, Sophia, já demonstra afinidade com os cavalos aos 8 anos de idade.
Em sua trajetória, é inegável o papel de seu pai como protagonista no interesse de Rodrigo pela modalidade. “Ele viajava muito, me levava para os campeonatos. Era uma forma de ficarmos juntos, e ele queria ver se eu era picado pelo vírus do hipismo – e eu fui”, conta o cavaleiro. Juntos, mesmo vivendo grande parte de suas vidas fora do país, foram fundamentais para a promoção do esporte equestre no Brasil – e seguem sendo ícone máximo para outros atletas e admiradores.
Os recordes e medalhas foram sendo acumulados desde cedo. No total, são mais de 70 prêmios, que incluem vitórias nos Jogos Equestres Mundiais (1998, em Roma) e três vitórias consecutivas na Copa do Mundo de Salto Equestre (1998, 1999 e 2000), atualmente rebatizada com o nome Rolex FEI World Cup.
Em 2008, o cavaleiro perdeu o recorde de atleta mais jovem da história a participar da competição individual de hipismo em uma Olimpíada, quando tinha apenas 19 anos, em Barcelona, 1992. Coincidentemente quem bateu seu recorde foi a amazona brasileira Luiza Almeida, nos jogos de Pequim, quando fez sua estreia aos 16 anos. Diferentemente de Rodrigo, ela compete na modalidade de adestramento.
"Para qualquer atleta que está no hipismo, ele é um ícone por tudo o que conquistou e como colocou o Brasil no patamar mais alto de uma Olimpíada" - Luiza Almeida, amazona que "roubou" um recorde de Rodrigo Pessoa“Para qualquer atleta que está no hipismo, ele é um ícone por tudo o que conquistou e como colocou o Brasil no patamar mais alto em uma Olimpíada. Ele seguirá inspirando muitos atletas. Fiquei muito feliz por conseguir esse recorde [de atleta mais jovem]. O mais bonito disso é que nós inspiramos outros atletas – e a idade não importa, mesmo em um esporte em que a experiência conta bastante”, diz Luiza.
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Apesar de aparentar ser um esporte solo, para qualquer atleta de hipismo as parcerias são fundamentais – e tudo começa com o cavalo. Rodrigo Pessoa teve, por quase uma década, a parceria de Baloubet du Rouet, da raça Sela Francesa. Juntos foram tricampeões mundiais e subiram ao pódio em Atenas. Juntos também passaram por momentos desagradáveis, como em Sydney, em 2000, quando Baloubet refugou três vezes e não saltou um obstáculo. “As experiências negativas, se você conseguir revertê-las, acabam sendo ótimas para construir o seu caráter. Claro que Sydney foi ruim, mas quando voltei para a Olimpíada, em 2004, não poderia ser pior do que aquilo que tinha acontecido em Sydney. Você tem que ser o mestre da sua mente e resolver a situação sozinho, porque ninguém mais conseguirá fazer isso por você”, comenta Rodrigo.
Em 2019, completam-se duas décadas desde que a suíça Rolex firmou laços com Rodrigo. O cavaleiro é o mais antigo embaixador da relojoaria. “Eles se tornaram uma família, mais que patrocinadores. O relacionamento e o apoio para seus atletas é único. O suporte que a Rolex nos dá mostra o comprometimento com o esporte, e muito do progresso que fizemos não seria possível sem a marca elevando o nível”, conta. Para os curiosos, a coleção preferida de Rodrigo Pessoa é a Oyster.
No circuito de competições de saltos, o The Rolex Grand Slam tornou-se um dos mais importantes campeonatos da modalidade. Para levar o prêmio, é necessário ganhar quatro campeonatos: The Dutch Masters (Holanda), The World Equestrian Festival (Alemanha), The CSIO Spruce Meadows (Canadá) e The CHI Geneva (Suíça). “A premiação gera um buzz enorme no esporte. É muito difícil alcançar o prêmio, mas o escocês Scott Brash provou que isso é possível [em 13 de setembro de 2015]. Esse é o exemplo perfeito de um dinheiro gasto de maneira que favorece a modalidade”, comenta o brasileiro.
A competição começou em 2013 com apenas três torneios. A partir de 2018, passou a ter quatro. O escocês – até agora o único a conseguir a proeza – recebeu o prêmio de € 2,37 milhões.
Com esperança no futuro das próximas gerações, Rodrigo acredita que o país se desenvolveu positivamente nos últimos anos, e que muitas crianças estão se interessando pela modalidade. Pelo jeito, novas medalhas estão a caminho. Quem sabe, trazidas até por suas próprias filhas…
Reportagem publicada na edição 69, lançada em julho de 2019
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