Logo após a virada do século 20, as bicicletas estavam em voga. Baratas, silenciosas, refinadas e mais elegantes (e exigindo muito menos “manutenção” intensiva) do que a forma popular de se locomover então – cavalos e charretes – as bikes vendiam rapidamente durante os anos de 1899 e 1900.
Mas uma nova e barulhenta invenção também estava se tornando conhecida: o motor a gasolina de combustão interna. No início dos anos 1900, ele já era bastante refinado, confiável e pequeno o suficiente para encaixar no quadro de uma bicicleta, dando origem às primeiras motocicletas utilizáveis, e comercializáveis. Alguns caras em Wisconsin decidiram entrar no ramo, e a empresa que conhecemos tão bem hoje nasceu oficialmente em 1903 como Harley-Davidson Motor Company. Mas muito antes de uma V-Twin Cruiser ver a luz do dia, os primeiros produtos da H-D eram pequenos motores feitos para várias utilidades, incluindo uma bicicleta motorizada reforçada, que ficou conhecida internamente pelo apelido de “série um”. Ela até tinha pedais.
Depois de 117 anos, a história parece estar se repetindo, de certa forma. Algumas tradições se foram, outras permaneceram, mas o ciclismo está experimentando outro renascimento, desta vez com “ebikes” se beneficiando da força motriz da eletricidade em vez da gasolina. E, mais uma vez, a Harley-Davidson tenta ocupar seu lugar.
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Após vários anos de sugestões, protótipos e uma mudança de CEO que deixou os esforços da ebike em suspenso, a empresa lançou uma nova submarca de ebike, a Serial 1 Cycle Company, e um modelo de protótipo que visa o futuro, mas homenageia suas raízes.
O mais importante primeiro: a bela máquina Serial 1 vista aqui provavelmente não estará nos showrooms tão cedo. O diretor de marca, Aaron Frank, diz que ele e sua equipe a construíram como uma peça de demonstração de “protótipo único” nas últimas semanas. Mas o modelo parece ser feito sobre as bases de outros protótipos que a H-D mostrou, incluindo várias variantes vistas no salão de motocicletas EICMA de Milão em 2019, então nunca diga nunca e não se engane: bicicletas elétricas chegarão em breve na Harley-Davidson, com a janela de lançamento definida para o 4º trimestre de 2021, de acordo com o executivo.
Se o nome Aaron Frank soa familiar, provavelmente é em função de seu cargo à frente da revista “Motorcyclist” por um período antes de passar para a esfera do marketing, onde trabalhou com a Indian e a Victory (ambas sob o guarda-chuva Polaris), bem como Ferrari e Nissan. O homem também entende de Harleys, tendo escrito “The Harley-Davidson Story: Tales From the Archives” (“A História da Harley-Davidson: Contos dos Arquivos”, em tradução livre). Ele está trabalhando no projeto da ebike há cerca de dois anos e conversou com a Forbes sobre a bicicleta “Serial 1” antes do lançamento.
Frank reafirmou que a moto apresentada nesta história é um “tributo cosmético” àquela motocicleta original e, provavelmente, não será a máquina (ou um dos vários modelos) a que os compradores terão acesso no próximo ano a partir de Serial 1. O modelo foi montado por sua equipe para anunciar a marca e incluir as bicicletas elétricas no portifólio da Harley-Davidson ao longo de mais de um século. Ainda assim, a máquina de aparência arrojada me lembra de outra ebike que usei recentemente, então espero que, em algm momento, ela seja produzida.
Mas, afinal, como serão as novas bicicletas elétricas? Frank disse que, em vez desse “tributo” visto aqui, os protótipos mostrados no EICMA de Milão em 2019 estão mais próximos dos formatos de produção futuros. Até o momento, as especificações técnicas e os preços não foram anunciados para os próximos modelos, mas as notícias anteriores os colocavam na faixa de US$ 2.500 a US$ 5.000, o que é esperado para um produto de nível superior de uma marca como a Harley-Davidson.
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Frank, no entanto, confirmou que a montadora fará parceria com uma empresa experiente, mas ainda não identificada, para produzir as bicicletas elétricas, mas o trabalho de design será feito na base em Milwaukee por engenheiros da Serial 1. O executivo disse que as novas bicicletas não seguirão o padrão, onde uma empresa maior apenas coloca seu nome em uma linha de produtos existente. “Este é um projeto totalmente desenvolvido, 100% projetado pela Harley-Davidson.”
Além disso, algumas especificações técnicas mais amplas foram confirmadas para a Forbes, incluindo design com um motor de montagem central (diferindo de uma configuração de cubo traseiro), uma bateria integrada e iluminação embutida, bem como pedal auxiliar em todos os próximos modelos. Olhos atentos também notarão um acionamento por correia em vez de uma corrente, algo que está se tornando mais popular em bicicletas elétricas sofisticadas.
Um porta-voz da Harley-Davidson acrescentou que “a Serial 1 espera oferecer um portfólio completo para todas as categorias de bicicletas elétricas”. Essa é uma declaração ampla, e enquanto esperamos para confirmar informações mais específicas, pode indicar que os planos de design incluem entradas nas três classes atuais de ebikes dos Estados Unidos e na zona do euro, que incluem modelos com capacidade de “apenas aceleração” de roda livre (Classe 2) e bicicletas com velocidades máximas de 45 km/h (Classe 3). As bicicletas Classe 1 apresentam apenas assistência de pedal (sem aceleração) com uma velocidade máxima de 30 km/h nos EUA. Frank disse que teria mais informações sobre os próximos modelos antes do lançamento no último trimestre.
Mas só a revelação da marca Serial 1 e da bicicleta conceito é um bom presságio para o segmento de bicicletas elétricas nos EUA e, por extensão, às vendas de motocicletas da Harley-Davidson, que não têm sido tão animadoras nos últimos tempos. Em uma história recente sobre o aumento inesperado das vendas de bicicletas e motocicletas durante a pandemia de Covid-19, um membro da indústria de motocicletas, Robert Pandya, disse que sentiu que as vendas de bicicletas elétricas poderiam ter um forte impacto no desempenho comercial das motos, já que seus usuários acabam se surpreendendo com a experiência.
As vendas de motocicletas também tiveram um aumento repentino e surpreendente durante a pandemia, já que as pessoas tentavam se locomover sem dividir espaço em carros ou transporte público, e Frank acredita que oferecer uma bicicleta elétrica aos consumidores pode ajudar a criar o interesse necessário para colocá-los em um motocicleta e, com sorte, uma Harley. “Eu acho que as bicicletas elétricas podem, com certeza, impulsionar as vendas de motocicletas”, disse, observando que as ebikes de montanha de repente se tornaram populares e parecem estar gerando vendas de motos off-road (ou pelo menos mais interesse).
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Mas Frank diz que também está notando um movimento contrário, já que alguns amigos do motociclismo off-road estão optando por mountain bikes elétricas. Mas um elemento-chave com a Serial 1 é a oportunidade que ela dá aos usuários de ebike, “de participarem da marca Harley-Davidson sem ser um motociclista”, disse ele. “A bicicleta elétrica é uma maneira muito mais acessível de ter essa experiência motorizada sobre duas rodas.”
O executivo acha que as ebikes oferecem às pessoas a opção de se locomover fora do transporte público ou de dirigir um carro, e concordou que elas são um mercado em rápida expansão, muito parecido com o de motocicletas há mais de um século. “Naqueles primeiros dias, a Harley-Davidson era realmente mais uma empresa de mobilidade do que uma empresa de motocicletas”, disse Frank. Mas o foco aumentou com a máquina Serial One em 1903. Naquela época, “a motocicleta era realmente a vanguarda da mobilidade pessoal”. Se os fundadores tivessem formado uma empresa hoje, eles poderiam muito bem ter decidido formar uma empresa de bicicletas elétricas, disse ele.
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