O conglomerado industrial Votorantim teve salto no resultado do 3º trimestre, impulsionado por melhora dos preços de commodities como metais, celulose e laranja, além do recuo menor na demanda por cimento no Brasil e crescimento em países como Estados Unidos e Turquia.
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O grupo teve lucro líquido de R$ 519 milhões, avanço sobre os R$ 149 milhões obtidos um ano antes. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 1,3 bilhão, em linha com o mesmo período de 2016. A relação de endividamento caiu de 4,29 para 3,01 vezes, com apoio dos recursos de venda de ativos e do IPO do negócio de mineração.
Para o 4º trimestre, a avaliação do vice-presidente financeiro, Sergio Malacrida, é de crescimento no desempenho do grupo tanto na comparação trimestral como na relação anual. “Se tudo o mais se mantiver constante, deveremos ter um resultado melhor no 4º trimestre, até porque no ano passado tivemos impacto de efeitos não recorrentes que não espero que se repitam neste trimestre”, disse. “O 4º trimestre também costuma ser melhor sazonalmente que o 3º”, acrescentou.
Segundo ele, dos três termômetros da economia operados pela Votorantim no Brasil – alumínio, aço e cimento – apenas o último ainda não começou a sentir efeitos mais pronunciados da melhora da economia. “Cimento tem um atraso natural…Vai demorar um pouco para começarmos a sentir a retomada”, disse Malacrida.
Na semana passada, a associação de fabricantes de cimento do Brasil, a Snic, informou queda de 0,5% nas vendas de cimento no país em outubro, sobre um ano antes, estimando queda de 6% a 7% em 2017 e estabilidade em 2018.
É essa lentidão na retomada do consumo de cimento no Brasil que tem segurado os planos de IPO da unidade, principal do grupo Votorantim, disse Malacrida. Nem a alta de 23% do Ibovespa neste ano e o bem-sucedido IPO de sua área de mineração na América do Norte no fim de outubro foram fatores para convencer o grupo a retomar os planos de oferta de ações da área cimenteira, engavetados em 2013.
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“Hoje com a capacidade ociosa que ela tem [no Brasil], muito provavelmente teria uma questão sobre como se atribuir valor para isso. O principal motor do cimento é o PIB. É natural que tenha que haver uma perspectiva melhor da economia para voltarmos”, disse o executivo. “Apesar das tendências positivas, tem uma série de eventos ano que vem que podem mudar o curso das coisas [da economia]. As pessoas estão discutindo o impacto do Brexit, Catalunha, Coreia do Norte, eleições no Brasil”, disse Malacrida.
A Votorantim Cimentos fechou setembro com ociosidade de cerca de 50% de sua capacidade de produção no Brasil, de 34 milhões de toneladas por ano. Sessenta por cento das vendas da unidade no Brasil ocorrem em sacos e são destinadas ao chamado “comércio formiga”, de pequenas obras, que dependem da recuperação da renda da população.
No 3º trimestre, a área de cimentos da Votorantim teve queda de 27% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) sobre um ano antes, a R$ 521 milhões. O resultado foi impactado por efeitos não recorrentes no Brasil. Sem esses efeitos, o recuo no Ebitda seria de 8%.
Apesar da queda no Brasil, nos Estados Unidos o Ebitda da área de cimentos da Votorantim subiu 13%, com a empresa ocupando toda a capacidade de 5,2 milhões de toneladas, concentradas na região dos Grandes Lagos. “Vimos preços melhores [de cimento] no 3º trimestre e perspectiva super positiva na região”, disse Malacrida, acrescentando que uma fábrica nova do grupo, com capacidade para 600 mil toneladas anuais, deverá iniciar operações no primeiro semestre de 2018 com perspectiva de ter todo o volume ocupado.
CELULOSE
O resultado do grupo também foi impulsionado pela participação na maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, a Fibria, que tem se beneficiado nos últimos meses de um quadro de demanda aquecida e seguidos aumentos de preços no mercado mundial.
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A Fibria, na qual a Votorantim tem cerca de 29%, divulgou no final de outubro que teve crescimento de 23 vezes no lucro líquido do período sobre um ano antes.
Questionado sobre os movimentos de consolidação da indústria de celulose no Brasil, Malacrida disse que a Votorantim hoje “não tem nenhuma conversa” com outras empresas do setor. Em setembro, a empresa perdeu a disputa pela rival vizinha Eldorado Brasil para a holandesa Paper Excellence.
A expectativa do mercado com a consolidação da indústria de celulose vem de recorrentes declarações de executivos do setor. Na semana passada, o presidente da Suzano, Walter Schalka, afirmou a analistas que a consolidação do setor “é alternativa para se gerar valor” aos investidores.
Malacrida citou relatórios de analistas do mercado de celulose que calculam que o setor tem cerca de R$ 6 bilhões a R$ 8 bilhões em sinergias que poderiam ser aproveitadas em caso de consolidação. “Com esse dinheiro na mesa, é óbvio que todo mundo fala sobre isso…Tudo o que fizer sentido para o nosso portfólio nós vamos fazer. Mas hoje não tem conversa acontecendo”, afirmou.