
Os preços do bitcoin e das criptomoedas sofreram uma forte queda nesta semana, com os investidores em pânico de que a guerra tarifária de Donald Trump possa desencadear um “cenário de crise”. Apesar disso, o valor da criptomoeda foi menos afetado do que as ações listadas nos índices de Wall Street. A performance levou o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, a afirmar que o bitcoin pode ser uma reserva de valor capaz de fazer frente ao ouro.
Na mesma semana, Larry Fink, CEO da BlackRock, alertou sobre o fato do governo americano ter arcado com quase US$ 1 trilhão (R$ 5,84 trilhões) em juros da dívida pública, no último ano. Em meio a isso, os bancos de Wall Street estão diante de uma crise “existencial” envolvendo o bitcoin e as criptomoedas, enquanto Trump pressiona por uma nova legislação radical.
“Isso é uma ameaça existencial para o setor bancário, assim como para o sistema financeiro como um todo”, disse Arthur Wilmarth, professor emérito de Direito da Universidade George Washington, à Reuters, acrescentando que, no fim das contas, quem pode acabar arcando com os custos são os contribuintes.
O Congresso está correndo para aprovar uma nova legislação importante sobre criptomoedas, na forma de um projeto de lei (PL) sobre stablecoins — conhecidas como moedas estáveis, que são criptomoedas pareadas a ativos do mercado tradicional –. O PL pode viabilizar o pagamento de juros a pessoas que detenham criptomoedas atreladas ao dólar. Bo Hines, que lidera o Conselho de Assessores de Trump para Ativos Digitais, afirmou no mês passado que a Casa Branca quer que o projeto sobre stablecoins seja aprovado antes de agosto.
No momento, há a discordância quanto à cobrança de juros. Outro PL, que está prestes a ser votado na Câmara, proíbe os emissores dessas criptomoedas de pagarem juros aos detentores, enquanto uma proposta paralela no Senado exclui o pagamento de juros em alguns tipos de stablecoins, mas não chega a bani-los completamente.
A febre das stablecoins
O mercado de stablecoins, liderado pela USDT da Tether, avaliada em US$144 bilhões (R$840,96 bilhões), cresceu rapidamente nos últimos anos. Empresas de tecnologia financeira e gigantes de Wall Street — do PayPal ao Bank of America — estão correndo para lançar suas próprias moedas nos mesmos moldes, atraídas pelo lucro massivo de US$13 bilhões (R$75,92 bilhões) que a Tether registrou em 2024, resultado dos investimentos em bitcoin, ouro, títulos do Tesouro americano e outros instrumentos financeiros que dão lastro à USDT.
“Está bem claro que vai haver uma stablecoin”, disse Brian Moynihan, CEO do Bank of America, em entrevista no Economic Club, conforme reportado pela DL News. “Se isso for legalizado, vamos entrar nesse mercado.”
A opinião de quem trabalha com cripto
Caso o projeto de lei inicial se mantenha, ele pode levar as pessoas a tirarem seu dinheiro de contas bancárias seguradas e se exporem significativamente ao risco em uma eventual falência dessas empresas de criptoativos. “As stablecoins estão surgindo como o primeiro caso de uso real da blockchain a ser totalmente integrado ao sistema financeiro tradicional, e estamos presenciando os primeiros estágios dessa transformação”, disse Hina Sattar Joshi, diretora de vendas de ativos digitais da TP ICAP, em comentários enviados por e-mail.
“Um forte impulso global nessas criptomoedas deve atrair o interesse institucional em um ativo digital com potencial de crescimento no longo prazo, ao mesmo tempo em que atua como uma ponte confiável entre os ativos tradicionais e o mercado cripto”, explica Joshi.
À medida que o Congresso trabalha para unificar os dois projetos de lei sobre a moeda digital nas próximas semanas, os parlamentares terão que decidir se as stablecoins se tornarão a ferramenta padrão de contas correntes tanto para bancos quanto para empresas de criptoativos ou se continuarão como algo secundário.
“O governo não deveria favorecer um setor em detrimento de outro”, publicou o CEO da Coinbase, Brian Armstrong, na rede X no início desta semana. “Tanto os bancos quanto as empresas de criptoativos deveriam ter permissão e incentivos para compartilhar os juros com os consumidores.”