Na hora de decidir para onde viajar, dificilmente alguém pensa: “vou para Orlando”. Isso porque as pessoas sempe pensam em ir à DisneyWorld – a não ser que a viagem para a maior cidade da Flórida seja a negócios. O nome “Disney” não só é sinônimo de Orlando como também uma forma de resumir a peregrinação pelos parques temáticos. Mas a cidade vai muito além e é fácil fazer um roteiro com atividades interessantes para quem não quer enxergar nem a ponta da orelha do Mickey Mouse.
Para começar, Orlando tem uma enorme concentração de campos de golfe: são 170, além de 20 academias especializadas. É a cidade que mais recebe golfistas no mundo, segundo a Visit Orlando, entidade local de promoção do turismo. Além da excelente estrutura, o clima ameno é perfeito para a prática desse esporte. Afinal, passar horas em um campo aberto enfrentando baixas temperaturas, como acontece em outras cidades americanas, pode ser mais desafiador do que alcançar handicap zero.
O Tranquilo Golf Club, dentro do Four Seasons, é um campo com 18 buracos, de par 71, e paisagens inigualáveis. Ele foi projetado por Tom Fazio, um dos grandes nomes do design de campos de golfe no mundo. Após a partida, a sugestão para continuar aproveitando o cenário é degustar um daiquiri no Plancha. O restaurante de comida cubana do hotel tem vista para um belo lago. Já no resort Grand Cypress há ainda mais opções para os jogadores. São três trajetos de nove buracos, cada um de par 36, além de um campo com 18 buracos que homenageia o Old Course de St. Andrews, na Escócia, um dos mais antigos e famosos do mundo. O estilo escocês privilegia vegetação rasteira e tem poucas árvores, o que deixa o campo bastante sujeito à ação do vento. A programação dentro do Cypress continua no Nine18, um restaurante com quatro estrelas no Forbes Travel Guide.
Ao norte de Orlando, cerca de 20 minutos de carro a partir do centro, está uma charmosa cidadezinha chamada Winter Park. O município de pouco mais de 28 mil habitantes reúne natureza, gastronomia e cultura. Vale aproveitar um passeio de barco pelo lago Osceola. Aliás, a cidade tem várias lagoas e no final do século 19 elas eram um dos atrativos para as ricas famílias do norte dos Estados Unidos. Foi nessa época que Winter Park começou a se desenvolver como uma espécie de resort de inverno para os americanos que queriam fugir das rigorosas temperaturas. A tranquilidade do local era perfeita para passar as férias e relaxar.
Quase 130 anos após sua fundação, a cidade ainda consegue preservar sua doçura. Em uma caminhada pela Park Avenue, uma das principais vias locais, é possível notar alguns elegantes moradores idosos tomando chá da tarde. Acomodados em mesas na calçada, instaladas pelo comércio local, eles se distraem com um jovem que passeia com seu cachorro. Até o trem na estação próxima aos cafés parece colaborar para o sossego da região, disfarçando o ruído de sua chegada com o balançar das muitas árvores do entorno. Mas não pense que a Park Avenue se transformou em um reduto de velhinhos. Ela é também endereço de badalados restaurantes, como o Luma Park, que atrai americanos de diferentes partes de Orlando.
Pertinho dali está o museu Morse, dono da mais abrangente coleção de obras do artista americano Louis Comfort Tiffany (1848-1933), um dos grandes expoentes do movimento art nouveau mundial. Louis era filho de Charles Lewis Tiffany, fundador da Tiffany & Co., mas conseguiu construir uma sólida carreira como artista plástico. O acervo conta com pinturas, trabalhos em cerâmica, vidro e, é claro, joias. Louis não conseguiu se desvencilhar totalmente dos negócios da família e, em 1902, tornou-se diretor de design da Tiffany, época em que criou o departamento artístico de joias da loja da 5ª Avenida.
De volta a Downtown, a noite chega com moradores de roupas de academia correndo em torno do Lago Eola. De uma das margens se vê prédios comerciais iluminados e uma colorida fonte no meio da água. Do outro lado, um bairro ao mesmo tempo bucólico e agitado: Thornton Park. Ele abriga bares para todos os gostos — dos especializados em cerveja aos dedicados a amantes de vinho —, além de restaurantes descolados como o recém-inaugurado Soco, especializado em culinária contemporânea do sul do país. Na mesma calçada, uma sequência de imóveis inusitados chama atenção. De madeira e pintadas em cores pastel, as construções lembram casinhas de boneca. Placas pequenas e igualmente graciosas penduradas em suas entradas desfazem o mistério e informam que lá funciona uma firma de advocacia. É como se a arquitetura com ares infantis tentasse abafar a agressividade da indústria de processos dos Estados Unidos.
Próximo dali está o Dr. Phillips Center. Inaugurado em novembro do ano passado, ele é uma espécie de Lincoln Center de Orlando, embora seus administradores não gostem muito da comparação. Há o entendimento de que instituições como a de Nova York ou The Music Center, de Los Angeles, nasceram com o propósito de mostrar espetáculos para um público endinheirado que desejava apenas “ver e ser visto”. O fato é que vale a visita ao luxuoso Dr. Phillips nem que seja apenas para admirar seu contemporâneo projeto dominado por vidro e estrutura aparente, é assinado pelo conceituado arquiteto americano Barton Myers. Estão na programação de 2015 musicais da Broadway como Pippin, A Bela e a Fera e I Love Lucy, além de espetáculos de balé e óperas.
Também em Downtown está a moderníssima arena do Orlando Magic, a Amway Center. Lá, o espetáculo começa logo na entrada com entusiasmados welcome dos funcionários para os torcedores. Em quadra, o tradicional do basquete americano: apresentações de dança, fogos de artifício e cheerleaders animadíssimas. Já o time da casa não empolga como nos tempos de Shaquille O’Neal. Apesar dos esforços do jovem armador Elfrid Payton, o time figura entre as últimas posições do campeonato regional. Além dos jogos, a arena tem uma eclética programação de shows para 2015. Elton John se apresentou no começo de março e a casa ainda deve receber artistas como Ricky Martin e Jimmy Buffett.
O deslocamento em Orlando pode ser um problema, principalmente nos horários de pico. Turistas perdidos, dirigindo em baixas velocidades, agravam a situação. Durante a espera nos engarrafamentos, a vontade é escapar para um dos diversos spas espalhados pela cidade. O Marilyn Monroe, dentro do hotel Hyatt Regency, está entre as mais recentes inaugurações. Fotos gigantes da musa do cinema dos anos 1950 instaladas pelas diversas salas de tratamento inspiram homens e mulheres. Se sobrar tempo para as compras, o Millenia é um dos melhores shopping centers da cidade e concentra grifes como Chanel, Louis Vuitton, Prada e Gucci. Afinal, mesmo se o dólar ainda estiver em sua longa subida de montanha- russa, não dá para sair da capital mundial da diversão sem alguns brinquedinhos.