Colegas de trabalho criam laços de convivência; conhecem bem as qualidades e defeitos um do outro, passam por frustrações parecidas – recebendo salários parecidos –, e falam sobre o mesmo chefe na hora do café. Isto acaba sendo importante para manter um ambiente confortável, causando impacto até no rendimento destes funcionários.
Poucas coisas mexem tanto com o equilíbrio destes relacionamentos quanto uma mudança de cargo dentro do grupo. O que fazer quando, ao ter seu trabalho reconhecido, você é promovido e passa a chefiar pessoas que antes eram apenas seus colegas? Esta é uma situação especial que deve ser analisada e entendida com cuidado pelo novo chefe, pois afeta aspectos diferentes da função e da dinâmica entre o grupo.
Para Alexandre Benedett, gerente financeiro da empresa de recrutamento executivo Talenses, não existem verdades absolutas sobre a liderança – tudo depende da cultura e dos valores da companhia. Segundo ele, o primeiro passo para este novo cenário de relações é simples: prepare-se para ele. Qualquer funcionário que estreia em um cargo precisa afirmar-se nesta nova posição; isso é ainda mais importante ao comandar pessoas que já te conhecem. Leia livros sobre o assunto, converse com outros profissionais que passaram por situações similares e educa-se para entender bem os desafios que chegarão.
Nicholas Weiser, CEO da VIS Corretora, viu-se por estes caminhos: a empresa de seguros foi fundada com mais 4 parceiros. Com as necessidades da companhia mudando – por exemplo, seu tamanho triplicou em dois anos -, o quarteto sentiu que era hora de outra mudança: um CEO. Chamara um profissional de fora para organizar uma avaliação, e a média mais alta foi de Weiser. Para ele, todas as funções do líder são intensificadas ao lidar com pessoas com que já possui uma relação.
“Incentivar o engajamento dos funcionários e manter um bom canal de comunicação já fazem parte das obrigações do chefe. Ao conduzir um cenário como este, a atenção para essas diretrizes deve aumentar para manter as relações em equilíbrio”, diz. Conversar – e, na mesma proporção, ouvir – é a melhor estratégia para este e qualquer outro momento de adaptação dentro das empresas.
Allesandra Ferreira, sócia e palestrante da AlleaoLado, empresa focada em palestras, treinamentos e coaching, diz que o passo mais seguro a ser dado nesta situação é encontrar novas formas de se relacionar com os colegas sem perder bons vínculos criados anteriormente. “Essa relação prévia, antes da dinâmica entre chefe e empregado, pode ser uma grande aliada na hora de comandar”, diz.
A criação de uma equipe 100% de confiança é uma dessas vantagens. Outro aspecto positivo é conhecer os pontos fortes e fracos de cada funcionário, o que é essencial para que o chefe delegue tarefas e avalie os desempenhos de forma correta.
Allesandra destaca que o papel do líder “é despertar no outro a vontade de fazer algo” – e fazer bem feito. Uma das desvantagens de já conhecer as pessoas que irá comandar é o desafio em manter essa premissa e definir os limites certos para que o trabalho de todos seja confortável.
“O bom chefe já está atento a todos estes aspectos – comunicação, senso crítico, posicionamento -, mas nesta situação é preciso ter ainda mais consciência do cenário ao seu redor”, completa Allesandra. Além disso, manter o senso de realidade entre todos da equipe garante que nenhum erro passe despercebido.
Estar seguro de sua gestão e, também, das boas relações que já foram construídas, é importante para fazer um trabalho estável, justo e confortável para todos – sem conhecer do happy hour.