“Não me traga problemas, traga-me soluções” é uma máxima que surgiu com as melhores intenções. Gerações de empresários repetem essa frase, talvez na esperança de encontrar funcionários que resolvam problemas de maneira inovadora. O problema é que, em vez de formar uma força de trabalho criativa, essa abordagem provocou um grande receio em pedir ajuda a um superior.
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Após o lançamento, em 2013, do livro “Dar e Receber”, de Adam Grant, diversas organizações começaram a entender que pedir ajuda não deve ser considerado um sinal de fraqueza. Em seu bestseller, o psicólogo organizacional e professor da Wharton School da Universidade da Pensilvânia apresenta interações humanas básicas sob outra visão, ao oferecer a teoria de que aqueles que pedem por auxílio e ajudam são mais fortes psicologicamente e com mais chances de avançar em suas carreiras do que seus colegas.
O livro foi recebido com entusiasmo por líderes de negócios, incluindo o presidente-executivo da Estée Lauder Companies, William P. Lauder, que chamou a obra de o “único e necessário kit de ferramentas” que devemos ter. Kenneth Frazier, CEO da Merck & Co., classificou o livro como “leitura esclarecedora para líderes que visam criar significativas e sustentáveis mudanças para seus meios”.
No entanto, por mais revolucionário que tenha sido, “Dar e Receber” foi apenas uma leitura. Para realmente engajar uma cultura de generosidade, empregadores precisam de soluções mais concretas e crescentes.
Empresas pediram ajuda a Grant e, em março deste ano, ele respondeu aos apelos com Givitas, uma plataforma que divide conhecimento e pretende oferecer um caminho simples para apoiar funcionários. A tecnologia é baseada nos princípios apresentados em sua obra, assim como no trabalho de Wayne e Cheryl Baker, cocriadores do “Reciprocity Ring”, um exercício em grupo que encoraja a abordagem colaborativa para a solução de problemas. Juntos desde o ano passado, os três se tornaram o time fundador da Give and Take, Inc., a empresa que produz o software da Givitas.
“Nosso objetivo é apoiar o movimento de uma cultura de se ajudar, em que pedir por auxílio é visto como algo positivo”, diz o CEO da Give and Take, Larry Freed. “Achamos que o processo de pedir ajuda e de ajudar é essencial para o sucesso de empresas, portanto, merece ter seu próprio foco.”
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Givitas, versão digital do “Reciprocity Ring”, permite que empregadores criem círculos, ou canais para departamentos específicos, para os quais os usuários possam enviar perguntas para todo o grupo, por meio de um formulário online. “Na maioria das vezes, nós não sabemos nem sequer a quem pedir ajuda”, diz Freed. “Na plaataforma, você tem a capacidade de alcançar uma grande quantidade de pessoas e criar vínculos com milhares”.
Todos os dias, os usuários recebem um email que detalha as perguntas enviadas para o seu círculo. Se alguns dos integrantes do grupo achar que pode responder, apenas loga no Givitas e oferece ajuda. Se não, podem simplesmente seguir com o resto do dia. Quando os pedidos estão resolvidos, ficam marcados como tal. “A parte mais difícil de ajudar alguém é entender quando há um pedido por isso”, diz Freed. “Pretendemos facilitar o processo, para que todos possam fazê-lo pelo menos 5 minutos ao dia”.
Com o passar do tempo, o sistema marca as perguntas mais frequentes, suas melhores respostas e cria um recurso que vai além da empresa. Mais do que isso, toda comunicação é transparente, como uma tentativa de eliminar o estigma associado à procura de ajuda. “Se você vê outras pessoas que pedindo, se torna muito mais fácil de fazer o mesmo. Torna-se algo comum”, aponta Freed.
É grande o potencial da Givitas, claro, ao considerarmos que as 500 maiores corporações do mundo perdem US$ 31,5 bilhões anualmente, quando seus funcionários falham em passar informações de modo eficiente. Também pode ser algo vantajoso para trabalhadores que, em média, passam 25% de seus dias à procura de informações internas.
Quando funcionários participam ativamente de uma cultura beneficente, não apenas se tornam mais bem informados, mas parte de uma rede, em seu trabalho, muito maior e mais engajada. “As melhores influências no envolvimento dos funcionários não são as vantagens como as cafeterias, o bagel gratuito na terça-feira ou um dia para levar o cachorro ao trabalho, mas sim as relações construídas e a confiança nas pessoas”, ensina Freed. “Ao ajudar uns aos outros, isso é fortalecido.”
É provável que aqueles que oferecem apoio e pedem por ajuda serão os que subirão mais dentro das empresas. “Eles mostram, dessa forma, que estão dispostos a colocar seus locais de trabalho à frente dos próprios egos”, diz Freed. “A habilidade de ajudar os outros é sempre vista como um grande atributo de liderança. Como líder, você está lá para auxiliar sua equipe a ser bem-sucedida.”
Givitas é uma plataforma recente e ainda não muito conhecida, portanto, Freed sugere que aqueles que desejem começar a ajudar e a pedir auxílio comecem por pedir algo a um colega de trabalho. “A maioria das pessoas estão predispostas a ajudar. O problema é que ninguém pede. Tomar esse risco vale a pena”, completa.