As matérias que escrevo são geralmente baseadas em maneiras de encontrar um novo emprego ou obter sucesso na carreira. Eu ofereço insights, incluindo ações proativas para fazer suas próprias pausas na vida cotidiana. Contudo, percebi recentemente que existe algo importante que nunca compartilhei. Muitas vezes, o sucesso ou o fracasso se dão devido à sorte – ou ao azar.
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Um gerente pode estar conduzindo uma entrevista e, durante o processo, influências externas acabarem com as chances do entrevistado, por exemplo. Ele recebe um telefonema da escola informando que seu filho está doente e vai ter que buscá-lo, pode estar atrasado para o trabalho por conta de uma briga, pode estar de mau humor por que ainda não almoçou ou porque o ar condicionado da empresa está quebrado e todos estão reclamando. Ele pode estar com calor, fome, preocupado com o filho ou irritado. Ele pode simplesmente não conseguir se concentrar.
O candidato pode fazer de tudo com o objetivo de conquistar o emprego e o entrevistador, que por sua vez, pode estar passando pelos mais diversos problemas. Vamos supor que esse mesmo entrevistador interrompa a entrevista e agradeça a presença. Isso, consequentemente, faz com que o entrevistado pense que, por algum motivo, estragou o processo e acabou com a oportunidade.
Se o filho do entrevistador estivesse bem, e não passando mal na escola, pode ser que ele tivesse tomado um bom café da manhã, saído para trabalhar de bem com a vida, recebido boas notícias sobre uma possível promoção e até finalizasse os planos das férias em família. Assim, o mesmo candidato teria, provavelmente, uma entrevista completamente diferente. Em vez de sair dela desanimado, poderia ter deixado o local cheio de esperança de conseguir uma ótima oferta de emprego. A má sorte de encontrar o suposto chefe em um dia ruim pode mudar totalmente o destino da contratação.
Quando Mark Zuckerberg começou o Facebook, seu colega de quarto, Dustin Moskovitz, juntou-se a ele. Dustin deixou a rede social em 2008 e tem um patrimônio de US$ 11 bilhões, segundo a FORBES. Por sorte, Moskovitz, que não conhecia Zuckerberg antes da faculdade, ficou rico por conta dessa curiosa amizade.
Há mais de 20 anos, encontrei Peter Gay, um recrutador de executivos, que me perguntou se eu gostaria de participar de sua empresa de recrutamento. Na época, ele acreditou que eu tinha o necessário para ser bem-sucedido. Eu ainda não havia pensado nisso. No entanto, sempre foi um sonho começar um negócio. Eu conversei com um colega sobre a oferta, que por acaso tinha um amigo de infância que administrava uma grande empresa de recrutamento de executivos em Nova York. Depois disso, eu encontrei o proprietário – um rapaz bacana, generoso, que me ofereceu seus insights sobre o que fazia. Olhando ao redor do escritório, percebi algo curioso: o CEO parecia uma versão mais velha de mim. Ele não chamava atenção e parecia trabalhador. Saí da reunião acreditando que, se ele conseguiu aquela posição tão importante, eu também conseguiria. Aceitei a oferta de Peter Gay e me tornei seu sócio. Algum tempo depois, comecei minha própria empresa de recrutamento. Se não fosse pelo fato de o meu colega de trabalho conhecer um rapaz que, na época, dirigia uma empresa de recrutamento cujo CEO era uma pessoa bem comum, eu nunca teria tido a coragem de entrar nesse ramo ou de começar e administrar um negócio.
Fred Trump é outro exemplo: ele construiu um império imobiliário nos bairros mais periféricos da cidade de Nova York, como Brooklyn, Queens e Staten Island. No início dos anos 1970, Donald Trump assumiu o negócio de seu pai. Não satisfeito em permanecer nos bairros afastados, ele voltou-se para Manhattan, o mais chique distrito da cidade. O empreendedor fez alguns acordos de risco imobiliário no local – o Grand Hyatt Hotel, na East 42nd Street, o Trump Tower, na Quinta Avenida, e o Trump Plaza, na Terceira Avenida, todos com ótimos resultados. O início da década foi terrível para Manhattan, que ainda não era o lugar luxuoso que é hoje. A cidade era mais suja, com alta criminalidade e muitos problemas financeiros. Em meados da mesma década, a cidade estava à beira da falência e o presidente dos Estados Unidos da época, Gerald Ford, fez um discurso no qual negava ajuda federal para evitar uma catástrofe. A primeira página do “The Daily News” publicou a seguinte manchete: “Fodr para NY: morra”.
Graças ao dinheiro conquistado por seu pai e à experiência em imóveis, Trump investiu em algo que todos queriam evitar: Manhattan. Alguns dizem que ele teve sorte de se mudar para Nova York, que mais tarde se recuperou e fez com que ele se tornasse extremamente conhecido por seu negócio. Com base nesse sucesso inicial, ele recebeu ótimos empréstimos de bancos, assim como várias oportunidades, e usou isso para deslanchar ainda mais seu nome com a construção de hotéis, clubes de golfe e outros empreendimentos. Tudo isso o levou ao “O Aprendiz”, um programa de televisão famoso nos EUA e, finalmente, à presidência do país.
Às vezes, tudo se resume a estar no lugar certo, na hora certa. Contudo, também podemos estar no lugar errado, na hora errada. Tudo depende da sorte.
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Todo mundo já ouviu falar de Steve Jobs, o cofundador da Apple. Mas e Ron Wayne? Você já ouviu esse nome? Ele foi, junto a Jobs e Steve Wozniak, também um dos cofundadores da atual gigante da tecnologia. Wayne detinha 10% das ações depois da inauguração, e escreveu um post no Facebook dizendo: “Eu saí porque não me vi trabalhando ali, ainda mais durante a vida toda. Eu tinha certeza de que a empresa seria bem-sucedida, mas não sabia quando, nem mesmo o que eu teria que fazer, ou até mesmo sacrificar para chegar no topo”.
Ele vendeu suas ações por US$ 800 – participação que valeria, hoje, cerca de US$ 35 bilhões. Se Wayne tivesse investido um pouco mais de tempo na empresa, é certo que ele teria faturado milhões. Ele estava no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas, mas tomou a decisão errada.
Isso é algo que acontece com frequência. Às vezes, o trabalho parece incrível para nós, mas não é a hora certa de outras pessoas embarcarem nele. Elas podem dizer: “Obrigado pela oferta, mas neste momento não estou interessado. Estou esperando um bônus, uma promoção ou um aumento, mas podemos manter contato”. Depois de alguns meses, você pode receber uma ligação e ouvir: “Ei, o trabalho que você me ofereceu ainda está disponível? O aumento não foi suficiente, o bônus foi menor do que eu imaginava ou não fui promovido. E meu chefe disse que vou ser transferido para outra cidade. Se eu não aceitar, serei demitido”. E, naquele momento, a pessoa que aceitou aquele emprego na época pode já estar feliz e financeiramente bem. Se a gerência tivesse dito ao candidato anterior a verdade sobre o futuro da empresa e a possibilidade de mudanças na vida pessoal, pode ser que ele tivesse aceitado o novo trabalho.
Trabalhar e se esforçar é algo de extrema importância, mas ter a sorte de estar no lugar certo, na hora certa, pode ser melhor ainda.