Ser anti-racismo envolve explorar e entender as maneiras únicas em que a “anti-negritude” se manifesta na nossa vida cotidiana, seja na vida pessoal seja na carreira. Ao tentar entender as experiências de uma pessoa, a interseccionalidade é uma consideração importante.
A interseccionalidade, um termo cunhado pela estudiosa Kimberlé Crenshaw, foi inicialmente definida como as formas únicas de opressão que as mulheres pretas enfrentam. Agora, o termo se tornou mais popular e é conceituado como as experiências enfrentadas por aqueles com identidades que se assemelham. Um termo mais recente, “misogynoir” ou “misoginia preta”, cunhado por Moya Bailey, descreve “o ódio, a antipatia, desconfiança e preconceito específicos dirigidos às mulheres pretas”. Deste modo, uma educação e os estudos anti-racistas devem explorar esta experiência única sofrida por mulheres pretas, como ela se manifesta e como pode ser mitigada.
A misoginia preta está em todos os lugares de maneiras que podem passar despercebidas. A hashtag #SayHerName (ou em português #DigaONomeDela) foi criada em 2014 para destacar a “misogynoir” e como as histórias de mulheres e meninas pretas em geral, costumam passar despercebidas pela sociedade. Essas experiências variam de violência policial a agressão sexual, que muitas vezes não são denunciadas, e preconceito no ambiente profissional. Dois exemplos muito aparentes de “misogynoir” na esfera pública podem ser encontrados nas histórias das vítimas do músico R. Kelly e, mais recentemente, nos eventos chocantes que aconteceram com a ilustre rapper Megan Thee Stallion.
Ao longo dos 30 anos de carreira de R. Kelly, várias mulheres e meninas, principalmente negras e menores de idade, fizeram alegações de que ele abusava delas sexualmente. Apesar do crescente número de acusações feitas, só recentemente, quando o documentário “Surviving R. Kelly” foi lançado, essas histórias ganharam credibilidade. Em geral, mulheres e meninas pretas que compartilham experiências de abuso, trauma e agressão são amplamente evitadas, criticadas e ignoradas. Essas experiências são questionadas, escrutinadas e dissecadas mais do que qualquer outro grupo étnico.
Em julho, um vídeo com a rapper Megan Thee Stallion com o que parecia ser ferimentos no pé quando ela foi detida pela polícia emergiu nas redes sociais. Em agosto, ela compartilhou que, de fato, foi baleada no pé pelo rapper Tory Lanez. Após o compartilhamento dessas informações, uma enxurrada de críticas dirigidas a Megan The Stallion se seguiu nas redes sociais, com muitos questionando a veracidade de sua história. Alguns até a rotularam de “dedo duro” por nomear publicamente Lanez como seu atirador.
Apesar da riqueza, da fama e da notoriedade que Megan The Stallion acumulou –principalmente os últimos meses com os hits “Savage”, com Beyoncé, e “WAP” com Cardi B–, a quantidade de comentários ásperos e insensíveis dirigidos a ela é um doloroso lembrete de que a “misogynoir” está viva, mesmo em Hollywood. E, aparentemente, não importa quantidade de prestígio, dinheiro ou fama das vítimas.
Inclusive, o dinheiro não impede que as mulheres pretas vivam a misoginia diariamente. Se aquelas em posições de poder e privilégio não estão protegidas desse tipo de racismo único, então, que proteção as mulheres pretas comuns realmente têm?
Muitas pessoas ainda desconhecem a misoginia preta e como ele se manifesta para prejudicar coletivamente as mulheres pretas. O primeiro passo para desmontar e interrompê-la é a conscientização. A educação anti-racista deve explorar a “misogynoir” para aumentar a consciência e compreensão.
LEIA MAIS: Rede anuncia aplicativo para conectar consumidoras e empreendedoras negras
Mas o componente mais crítico para combater a misoginia preta é ouvir as mulheres negras. Quando as mulheres negras compartilham uma experiência, em vez de questioná-las ou envolver racismo e política no assunto, é fundamental simplesmente ouvir. Também é importante evitar tentar desviar a conversa para que o foco seja os brancos e ficar na defensiva, como na expressão “nem todo branco é racista”. Isso é válido como exercício profissional com as colegas negras todos os dias.
As vozes das mulheres pretas são frequentemente abafadas e silenciadas. Pergunte a si mesmo o que você está fazendo atualmente na sua empresa para ajudar as mulheres negras ao seu redor. Por fim, considere como você está usando seu privilégio, acesso e oportunidade para erradicar esse racismo único dirigido a essas mulheres, pois ele mostra suas garras a todo momento em nosso cotidiano.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.