Maturidade. Essa é a palavra escolhida por Ana Marcela Cunha, 29 anos, para descrever sua trajetória até o ouro na Olimpíada de Tóquio.
Filha de um nadador e de uma ginasta, a nadadora, que nada tanto em piscina quanto em mar aberto, aprendeu a dar as primeiras braçadas quando tinha apenas dois anos. Uma década depois, já estava na Seleção Brasileira. Depois disso, vieram 12 medalhas em mundiais, o ouro no Pan-Americano de Lima, o prêmio FINA (Federação Internacional de Natação, na sigla em português) de melhor nadadora de águas abertas do mundo e o título de melhor atleta do ano pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro), em 2015. Essas são apenas algumas das conquistas da atleta – são tantas, que fica até difícil escolher quais citar.
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A carreira que hoje parece impecável, no entanto, foi marcada por um obstáculo. E dos grandes.
Resiliência
Ana Marcela viveu um árduo ciclo olímpico, que começou em Pequim, em 2008, quando, aos 16 anos, conquistou o 5º lugar na maratona de 10 km. “Eu não tive estratégia e nem preparação, mesmo assim fiquei fora do pódio por dois segundos”, lembrou a atleta, durante live realizada na última quarta-feira (1) com Antonio Camarotti, Publisher e CEO da Forbes. O resultado inesperado a colocou no centro das expectativas de treinadores e atletas da natação. Cotada como uma das favoritas para a edição de Londres, em 2012, viveu sua primeira decepção: não conseguiu se classificar para a competição.
“Foi o melhor e o pior momento da minha vida”, conta. O balde de água fria veio durante o Mundial de Xangai, em 2011, cujo resultado da prova de 10 km valia dez vagas para os Jogos Olímpicos. Ana finalizou a prova na 11a posição – apenas uma atrás do que seria necessário para a classificação. “A competição ainda não tinha acabado, teriam outras disputas, então eu avisei aos meus pais que iria continuar.” Três dias depois, na maratona de 25 km, veio o título de campeã mundial.
“Depois daquela vitória, eu assumi a responsabilidade de estar na próxima Olímpiada”, diz a atleta. No Rio de Janeiro, em 2016, uma nova pedra no caminho: das três pausas para alimentação que os atletas normalmente fazem durante a prova, Ana só conseguiu realizar uma. Na época, ela contou que um dos sacos de comida caiu na água, enquanto o outro passou longe demais para que ela pudesse pegar. O incidente lhe rendeu a 10a posição na classificação geral. Apesar da própria decepção com o resultado, a maratonista aquática avisou a equipe técnica que queria se preparar para competir novamente na próxima edição.
“Eu sempre tentei ver os lados positivos das perdas. Eu já saí chateada de provas que eu venci e muito feliz de competições que eu perdi”, afirma. Treinando há 12 anos para chegar no pódio olímpico, Ana finalizou seu ciclo de percalços no último mês, após uma hora, 59 minutos, 30 segundos e 8 milésimos dentro da água. Enfim, o ouro.
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Próxima parada
Hoje, Ana Marcela se dá conta que a atenção à saúde mental foi tão importante quanto o preparo físico. “Desde a primeira derrota, na época de Londres, eu faço acompanhamento com a mesma psicóloga. E manter a cabeça boa foi algo que fez muita diferença”, diz.
Há meses longe de casa, em um esporte disputado individualmente, os treinadores, médicos e integrantes da equipe se tornaram membros da família. Ana diz que seu foco era retribuir tanta dedicação. “A gente só consegue se manter em cima quando a base é muito forte”, acredita.
Agora, com o ouro olímpico finalmente no peito, Ana já tem seu próximo passo definido: percorrer a nado os 33 km do Canal da Mancha, uma das provas aquáticas mais difíceis do mundo. Para a campeã, o desafio ainda será dobrado: “É a São Silvestre das águas. Decidi que vou fazer ida e volta”.
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