Há 88 anos, o então presidente Getúlio Vargas regulamentou, com a assinatura do decreto 23.196, a profissão de engenheiro agrônomo no Brasil, profissionais responsáveis pela criação de técnicas e estratégias voltadas ao setor agropecuário.
Segundo o Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), existem atualmente 108.981 engenheiros agrônomos registrados no país, número que deve acompanhar a demanda crescente dos próximos anos, visto que a projeção do Ministério da Agricultura aponta que, em uma década, só a área do plantio de soja crescerá 30%.
Para celebrar o Dia Mundial do Engenheiro Agrônomo, a Forbes convidou Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola SA, um dos maiores grupos agrícolas do país, para conversar sobre sua trajetória no setor.
Graduado em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Santa Maria, o executivo entrou na empresa em 1993, como assessor técnico. Ao longo dos 28 anos de casa, Aurélio Pavinato atuou em inúmeras funções e projetos do grupo, além de ser considerado o melhor CEO dentro da sua área de atuação na América Latina por uma pesquisa da revista norte-americana “Institutional Investor”.
No comando das 22 unidades de produção da SLC espalhadas por sete estados brasileiros, incluindo cerca de 470 mil hectares plantados com soja, milho e algodão, o executivo teve o primeiro contato com lavores ainda criança, na fazenda do pai em Vista Gaúcha, Rio Grande do Sul.
Veja a entrevista a seguir:
Forbes: Como surgiu seu interesse pela agronomia?
Aurélio Pavinato: Sou filho de pequeno produtor, de Vista Gaúcha-RS, e cresci ajudando o meu pai a lavrar a terra com arado de boi, plantar com máquina manual (saraquá) e capinar com enxada. Tive a oportunidade de cursar o ensino médio no Colégio Agrícola de Frederico Westphalen, onde conheci o ensino agronômico, me apaixonei pelos assuntos técnicos da produção agrícola e decidi cursar Agronomia, em Santa Maria – RS. Gostei de trabalhar com pesquisa e inovação e na sequência cursei o Mestrado e posteriormente o Doutorado, ambos em Ciência do Solo.
F: Ao contrário de muitos executivos, sua primeira formação não é em administração ou gestão. Você acredita que isso tenha feito alguma diferença – positiva ou negativa – na sua trajetória até o cargo de CEO?
AP: A formação agronômica fez muita diferença positivamente, pois me possibilitou desenvolver um forte trabalho de desenvolvimento tecnológico e promover o intercâmbio entre as diferentes fazendas da empresa. Através da implantação de centro de pesquisa nas fazendas e formação de uma equipe de planejamento agrícola foi possível desenvolver as habilidades de gestão de equipe e promoção do engajamento de todas as lideranças na implantação dos projetos de maior eficiência para cada fazenda.
F: O Brasil conta, atualmente, com cerca de 105 mil profissionais agrônomos. Com tanta concorrência, qual é a melhor maneira de se destacar da multidão e chamar a atenção de grandes companhias?
AP: As formas para se destacar são muito similares para todas as profissões, as quais podem ser através do profundo conhecimento técnico ou através das habilidades de gestão, mas quando você trabalha com as duas combinadas é sucesso na certa.
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F: Você trabalha na SLC há 28 anos, e, nesse período, já atuou como assessor técnico, gerente de fazenda, gerente de planejamento agrícola, entre outras funções. Como foi essa jornada até o topo? Houve algum momento em que você percebeu que poderia almejar a posição de CEO?
AP: Foi uma jornada de muito trabalho e dedicação, sempre focado nos projetos e na execução com eficiência, vislumbrando o crescimento profissional com consequência do trabalho bem-feito e excelentes resultados entregues. Eu cursei o doutorado concomitante com o trabalho e defendi a tese logo após ter sido promovido para Diretor de Produção, em 2008. A partir de então, o meu foco foi formação em gestão. Em 2010, fiz um curso chamado PDLI-Programa de Desenvolvimento de Lideranças Individual, em 2012 cursei o STC-Skills Tools and Competencies, na Fundação Dom Cabral (FDC) em parceria com a Kellogg School of Management-Chicago-USA e em 2016 cursei o PGA-Programa de Gestão Avançada, também pela FDC em parceria com o INSEAD-França. No momento, estou cursando o OPM- Owner President Management, na Harvard Business School-USA. Na medida em que passei a investir na formação em gestão, passei a sonhar em um dia chegar à posição de CEO, felizmente chegou antes que o previsto, em dezembro de 2012.
F: Por outro lado, como essa passagem por diferentes cargos agregou na sua forma de gestão?
AP: Agregou muito conhecimento e habilidades para trabalhar com diferentes profissionais e diferentes níveis hierárquicos, através do desenvolvimento da empatia e do conhecimento das diferentes visões sobre os processos e operações. Sou muito grato pelas oportunidades que tive na empresa de conhecer as diferentes áreas ao longo do tempo e adquirir profunda experiência no negócio de produção agrícola.
F: Estamos vivendo tempos atípicos desde o início da pandemia de Covid-19 no início de 2020. Como líder, qual você acredita que tenha sido seu papel para os demais colaboradores? E para a sociedade?
AP: A principal orientação nossa foi adotar medidas de proteção para evitarmos ao máximo as infecções dos colaboradores, com foco especial no grupo de risco. Além disso, o nosso setor de Recursos Humanos desenvolveu uma série de treinamentos virtuais para que nossos colaboradores compreendessem o momento que estavam vivendo e suas interferências nas rotinas do trabalho e familiar e, com isso, administrar de forma mais eficiente as dificuldades enfrentadas.
F: Que conselhos você daria para jovens profissionais que pretendem seguir os seus passos?
AP: Existe um ditado “você colhe o que planta, então tome muito cuidado com o que você semeia”. Você deve estudar muito, cultivar boas relações, pensar sistemicamente, pensar no longo prazo e, especialmente, muito trabalho e dedicação. O crescimento será consequência. Existe outro ditado que gosto muito também: “as pessoas observam, as pessoas comentam”, ou seja, quem promove você são os seus colegas.