Essa semana um participante do reality show mais assistido do Brasil falou em rede nacional uma frase de impacto: “Eu quero ser famoso nível Beyoncé, quero não conseguir ir a um McDonald’s”. Luciano falou várias vezes sobre o seu sonho de ser bilionário e isso reverberou. Afinal, existe algum problema em querer ser muito rico e famoso?
Aprendi com o livro “A surpreendente ciência do sucesso”, de Eric Barker, que “sonhamos acordados” cerca de 2 mil sonhos todos os dias. Estamos o tempo todo conversando com a nossa consciência. Contando histórias, interpretando a realidade, processando informações. E despertando ações. Sim, nossa mente é capaz de provocar reações apenas com a imaginação. Duvida? Vamos fazer um exercício rápido: pense na sua língua. Ela está parada aguardando por algo que virá. Imagine que você está abrindo a sua boca e pega um copo com limão espremido puro, beeeeem azedo. Você abre a boca e então despeja esse suco ácido na sua língua. Concentre-se e pense nessa cena como se ela estivesse acontecendo de verdade. Limão puro batendo na sua língua.
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Conseguiu imaginar? Aposto que você salivou. Esse é um exemplo usado em cursos que provam que o nosso cérebro tem uma capacidade imaginativa tão forte a ponto de fazer cenas hipotéticas gerarem consequências reais. O mesmo vale para as coisas que imaginamos e sonhamos. Elas podem mudar o nosso humor, nossos sentimentos e nossas ações. Talvez seja por isso que existe um conselho tão impactante registrado na Bíblia: “Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos”.
Felicidade não está só nas realizações
“Se você não conquistou, é por que não desejou de verdade”, “você é do tamanho dos seus sonhos”... você já ouviu alguma dessas frases? São exemplos de bravatas usadas para nos fazer pensar positivo e imaginar conquistas. A mesma imaginação que usamos no suco de limão. Suas redes sociais estão cheias de vídeos com esse tipo de mensagem. A capa do seu caderno talvez tenha uma frase assim. O palestrante motivacional falou isso naquela convenção que você participou. São narrativas usadas para lhe fazer visualizar um oásis no deserto, um lugar de destaque no pódio. Isso solta em seu organismo uma pequena dose de sensação de vitória, assim como a sua língua salivou no exercício. Mas que cria uma referência. Estabelece o padrão do que é sucesso. Determina qual é o mínimo aceitável para que você possa se dizer feliz. Como se a sensação de realização só estivesse nisso.
Alerta vermelho. Essa é uma zona de extremo perigo. Pense bem: se você começar a viver em função de uma promoção para ser feliz, o que vai acontecer? Se você achar que a única forma de ter satisfação na vida é virando o vendedor “categoria diamante ultra power mega” que está no topo daquele esquema de pirâmide, onde você pensa que essa história vai terminar? Se toda a sua felicidade for colocada apenas na hipótese de atingir um sonho desses, você acaba de se aplicar uma pena de ser infeliz para o resto da vida. E não digo isso porque você tem chances de não conseguir, mas porque tenho certeza que não é aí que está a verdadeira alegria de viver.
Afinal, para quê você quer ser famoso? Para quê ser muito rico? Eu não sou contra histórias bonitas, muito pelo contrário, elas nos inspiram, nos fazem acreditar, nos ajudam a ir além e nos fazem querer conhecer coisas novas. Mas uma coisa é despertar o nosso melhor. Outra coisa é nos impedir de ficarmos contentes com algo muito bom apenas porque o vizinho está com algo melhor. A falta de significado no dia a dia nasce quando definimos o que é sucesso de uma forma equivocada. A felicidade não está nas conquistas, na fama ou na fortuna. Elas não são ruins. Apenas não são suficientes.
João Branco é CMO do McDonald’s. linkedin.com/in/falajoaobranco / Instagram @falajoaobranco
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