No domingo (27), o ator e cantor Tiago Abravanel desistiu oficialmente da edição 22 do BBB – e um dos motivos que ele apresentou para a saída foi estar sozinho. Desde o início do programa, ele planejou a postura de viver o jogo a partir das relações e não criar embates, o que o deixou sem aliados e trouxe uma crise psicológica. A postura alto astral de Tiago foi logo rotulada como positividade tóxica pela audiência. O comportamento de evitar conflitos e fazer esforço para animar os outros participantes mesmo em momentos de grande mal-estar emocional era recorrente.
Após a desistência, Tiago declarou que não soube “jogar o jogo” em uma live em seu perfil Instagram. “Às vezes somos teimosos em acreditar que determinada situação pode ser conduzida de uma forma mais humana e saudável e nos damos conta de que é mais difícil do que imaginávamos”, diz a psiquiatra Paula Dione.
No ambiente de trabalho, positividade demais também pode atrapalhar, já que impede manifestações mais profundas de empatia, uma das soft skills mais valorizadas entre as lideranças atualmente. Entenda o que é, como funciona, e o que fazer quando um colega está vivendo maus bocados – e nem sempre é tentar levantar o astral. Aqui, a médica explica o que é a tal positividade tóxica que ficou famosa com o BBB e como lidar com colegas em situações difíceis.
O que é positividade tóxica?
Os maus momentos fazem parte da vida e os maus sentimentos são parte do ser humano. Negar esses fatos e desconsiderar a realidade do outro, cobrar uma postura sempre positiva, mesmo quando a situação não permite, pode ser considerado um comportamento tóxico. “Às vezes a gente soa como se estivesse invalidando o problema do outro”, diz Dione.
Quais os efeitos negativos?
Estar sempre de bem com a vida é um estado de espírito cômodo, mas pode não se sustentar no longo prazo e nem todas as situações podem ser resolvidas pelo lado positivo. Muitas vezes, passar por dores emocionais pode ajudar a amadurecer. “O principal perigo é ficar com a impressão de que as coisas são simples quando na verdade são complexas e profundas. Existe um ponto em que é preciso se dar conta da situação e chorar. Só assim é possível crescer”, diz.
O que fazer para ajudar?
Quando colegas de trabalho estarem passando por situações difíceis, ouvir é mais importante do que parecer positivo. “Tudo começa com a empatia. É necessário entender o que a pessoa precisa naquele momento. Talvez ela precise só ser ouvida”, diz Paula. E como oferecer apoio quando não se tem a solução? Paula explica que, por vezes, nem mesmo psiquiatras e psicólogos têm uma solução para os pacientes. O que importa é criar uma rede, oferecer um pouco do seu tempo para que a pessoa se sinta melhor. Se o colega tem alguma habilidade especial, como cozinhar, por exemplo, vale a pena demonstrar interesse.
Como as empresas podem ajudar?
No trabalho, o pertencimento é o que vai segurar a onda quando a situação sair do controle. “A proposta é dar espaço para a escuta e as trocas no ambiente organizacional, justamente para que as pessoas se conheçam. Entendendo as potencialidades de cada um, você foge do artificialismo do ‘vamos pensar positivo’”, diz Paula. Quando os problemas são sérios e envolvem o trabalho além de questões pessoais, é essencial que a empresa entre em cena. “No trabalho há hierarquia, cargos, tudo isso complica. Há muitos aspectos particulares na hora de tentar oferecer um feedback, então o ideal é que exista alguém que possa ajudar nesse manejo.”