Nos escritórios da Heidrick & Struggles em São Paulo, uma das principais firmas de headhunting do mundo, é cada vez mais comum que os candidatos a vagas da alta gestão experimentem um processo seletivo invertido e façam a entrevista de emprego antes mesmo de terem seu currículo analisado em detalhes.
Claro que, quando se chega a este nível de carreira, boa parte dos cotados à vaga já tem uma trajetória conhecida, mas a inversão acontece para que as qualidades emocionais dos executivos fiquem mais evidentes durante o processo. “A primeira coisa que queremos saber são as experiências difíceis e transformadoras pelas quais aquele profissional já passou”, diz Paulo Mendes, sócio responsável pela América Latina da Heidrick & Struggles.
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Os perfis mais “humanizados”, que conseguem maior conexão com as equipes e atingir resultados por meio de pessoas estão mais valorizados em comparação aos que dão conta das demandas a qualquer custo. “As empresas querem, sim, ver os resultados, mas entendem que as pessoas têm que estar engajadas com eles”, diz Paulo Dias, diretor da Page Executive, braço C-level da consultoria de carreira.
Perguntamos aos dois headhunters as características em alta quando buscam candidatos a vagas de alta gestão atualmente.
Jeito para lidar com gente
O líder de hoje tem que ter a habilidade de lidar com pessoas. Saber entender o outro é um ponto positivo, mas é necessário também aprender com ele. “Cada um tem a sua realidade. Tentamos entender como o candidato proporcionaria cuidado à equipe, para que todos exerçam ao máximo o seu potencial”, diz Dias.
Empatia junto com os resultados
Acabou o tempo em que a vulnerabilidade de um chefe era sinal de incompetência. As corporações querem líderes que reforcem a ideia de que ter uma dificuldade não é sinal de fraqueza. “As empresas querem líderes que demonstrem seus sentimentos, que são feitos de carne e osso”, diz Mendes. A empatia gera a capacidade de se conectar com os outros e fortalecer a equipe.
Diversidade na liderança
Tempos atrás, a formação de um C-level era o destaque de seu currículo. As primeiras perguntas em uma entrevista mudaram de “Quantos idiomas você fala?” para “Quais contatos você teve com realidades diferentes da sua?”. O conhecimento técnico é importante, mas os headhunters querem profissionais capazes de se conectar com diferentes camadas sociais e de conhecimento.
Comunicação assertiva
Dar notícias boas faz com que qualquer chefe fale com eloquência e clareza. Mas em anos pós-pandêmicos, a habilidade de comunicar notícias ruins com empatia se tornou mais importante do que uma boa oratória. “Observamos durante a entrevista se o candidato dá muitas voltas para falar algo ruim”, diz Dias. É necessário ser objetivo e demonstrar afinidade com a situação das pessoas. O mercado não quer mais líderes que terceirizem as notícias ruins ao RH.
Facilidade em mudar de rota
São muitas as variáveis que podem exigir mudanças no mercado. Só nos últimos anos, mudanças políticas, pandemia, guerra e flutuação das moedas internacionais foram algumas delas. Por isso, um executivo deve saber corrigir a rota de um plano de longo prazo de forma rápida. Em uma entrevista investigativa, os consultores observam como os candidatos agiram em situações de mudança de planos e quanto tempo eles levaram para isso.
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