Elas conciliam maternidade com uma carreira de sucesso, mas não sem percalços. Como todas as mães, enfrentam reuniões depois noites mal dormidas, se sentem culpadas ao sair mais cedo para ver o teatro da escola e gostariam que o dia tivesse mais horas para colocar os filhos na cama diariamente. “Não tem como dar conta de tudo, você tem que abrir mão do controle”, diz Thaís Azevedo, CMO do Zé Delivery.
Abrir mão do controle, aliás, é um dos aprendizados que vêm com a educação de um filho. Resiliência, tolerância e gestão de tempo são outros citados por essas mulheres. Um estudo feito pela consultoria Filhos no Currículo em conjunto com o Movimento Mulher 360 mapeou a experiência e as expectativas de mais de 800 pais e mães durante o período da pandemia. Segundo o levantamento, 98% dos entrevistados desenvolveram alguma habilidade que pode ser aplicada na vida profissional a partir do contato maior com os filhos – com destaque para paciência, priorização, empatia e criatividade.
Aqui, mães executivas contam seus principais aprendizados ao criar filhos e que levam para dentro do escritório.
Fiamma Zarife, diretora geral do Twitter Brasil, mãe de uma adolescente e um menino
“Eu sempre quis ser uma mãe com uma carreira. Para mim, o trabalho é fonte de energia, conhecimento e independência. E a maternidade me fez desenvolver habilidades. A principal delas foi a capacidade de ser “essencialista”. Para dar conta de tantas funções é preciso saber fazer escolhas. Isso passa por revisar onde e com quem eu invisto o meu tempo, o que eu leio e por aí vai. Desenvolvi a capacidade de perguntar muitas vezes ao dia: “Isto é realmente essencial ou vou gastar uma energia desnecessária que poderia destinar para a minha família?”. Ser essencialista foi, sem dúvida, um dos grandes aprendizados da maternidade.
Luciana Rodrigues, CEO da agência Grey, mãe da Manuela e da Isadora
“Respeitar o tempo das coisas. Muitas vezes tentamos viver uma fase sem ter passado pelo aprendizado de uma anterior. Experienciar todas as fases de uma criança nos ajuda a ter noção de que você não tem controle de nada. É no caminho que tudo vai se revelando. Me sinto uma profissional mais completa, hoje, pelo privilégio de ser mãe.”
Duda Kertész, presidente da Johnson & Johnson Consumer Health, mãe de dois adolescentes
“A jornada da maternidade me ensinou e continua me ensinando todos os dias. E claro, os aprendizados se aplicam na vida profissional também – a necessidade de dividir a direção e dar autonomia para que o aprendizado aconteça com a vivência, a necessidade de flexibilização, negociação, o cuidado com as pessoas. E muito mais entendimento e empatia com a necessidade de pais e mães atingirem um balanço entre vida pessoal e profissional.”
Thais Nicolau, diretora de branding do Mercado Livre, mãe do Gustavo
“O que mais me marca sobre a maternidade atualmente e que levo para minha carreira se refere a um equilíbrio entre liberdade e autonomia. Meu filho tem 2 anos e meio e está naquele momento de querer explorar tudo sozinho. Em alguns momentos, ele vai se machucar, em outros ele vai conseguir fazer o que quer. Com ele, sempre tento dar a liberdade dentro dos limites para que ele não se machuque, criando incentivos e “ferramentas” para que ele possa explorar seu mundo sozinho. Na gestão das minhas equipes, essa mentalidade é verdadeira. Não adianta querer dar todos os pequenos detalhes prontos para as pessoas que trabalham com você. Elas precisam receber um direcionamento mais geral e chegar ao “como” executar sozinhas.”
Maria Clara, head de marketing insights no Google, mãe da Sofia, da Beatriz e da Isabel
“Não teve desafio maior que a maternidade na minha carreira. Ou melhor, as maternidades. Tive minhas três filhas trabalhando no Google e cada uma delas me trouxe aprendizados diferentes e me transformou. Aprendi com elas a praticar o cuidado com as pessoas no dia a dia, ser tolerante ao erro e aceitar que não tenho respostas para tudo.”
Kelly Gusmão, cofundadora e Chief People Officer da Warren, mãe do Antonio e da Serena
“Não sou uma fã da romantização da maternidade. Acho que tem três principais coisas que eu levo da maternidade para a vida profissional. Uma delas é planejamento financeiro. Claro que nem todo mundo consegue se planejar quando o assunto é filho, mas se organizar financeiramente para executar um projeto na carreira ou para ter um filho ajuda. A segunda coisa que conecto com a carreira é a rede de apoio. Na maternidade e no trabalho, ela é muito importante ter com quem dividir as tarefas. A terceira é comunicar aos meus filhos o meu amor pelo trabalho. Quando estou com eles, consigo ser uma mãe mais feliz e realizada pois posso trabalhar com o que amo. Mas tenho consciência de que isso é um privilégio e que muitas mães são obrigadas a trabalhar no que não gostam para sustentar a casa, enquanto preferiam estar com suas crianças.”
Roberta Bicalho, diretora executiva de gente e gestão do grupo SOMA, mãe de Anne e Mark
“Eu já era produtiva, mas depois que me tornei mãe, isso ficou exponencial. Isso porque as 24 horas que tinha quando era jovem, antes da chegada dos filhos, são as mesmas que tenho hoje, com marido, três filhos (sendo uma enteada), seis gatos e quatro cachorros. Ainda encontro dificuldades para dizer ‘Hoje vou sair mais cedo porque vou levar o filho ao médico’. Aprendi ser importante fazer, mas – além da minha responsabilidade -, existe o sistema, que não é acolhedor para uma mulher nessa situação. Ser uma executiva de alta performance não é trabalhar 24 horas por dia.”
Gabriela Al-Cici, Chief Human Resources Officer da seguradora Prudential, mãe do Noah
“A maternidade me trouxe serenidade, novas perspectivas e novas prioridades. Também me fez voltar mais para o autoconhecimento, o que me trouxe um olhar mais cuidadoso comigo e com os outros. Aumentou minha escuta e a possibilidade de me mostrar vulnerável. Quero ser uma melhor pessoa, e não só uma melhor profissional.”
Thaís Azevedo, CMO do Zé Delivery, mãe da Laura
“Ser mãe tem sido uma experiência de resiliência, de aprender que nem sempre meus planos se consolidam da forma como eu imagino e que não é possível ter o controle de tudo. E sim, tudo isso me tornou uma profissional mais tolerante com diferenças. Parece tudo lindo, né? Mas não quero que outras mães leiam isso e se culpem, porque a verdade é que não é um processo fácil conciliar todos esses papéis e eu também sofri e sofro muito em como encontrar o equilíbrio.”