Um dos atletas mais vitoriosos da história pendurou as botas. Na verdade, pendurou as raquetes. Estou falando de Roger Federer, 20 vezes campeão de Grand Slam e o segundo tenista que ficou por mais tempo no topo do ranking. Uma despedida em grande estilo, com direito a evento transmitido mundialmente, partida de encerramento e homenagens.
Assistindo àquele “show”, eu não parava de pensar: e a minha aposentadoria, como vai ser? Confesso que reflito sobre isso com uma certa frequência. A carreira de executivos é mais curta do que parece. CMOs com mais de 50 anos de idade, por exemplo, são tão difíceis de encontrar quanto jogadores de futebol com mais de 40. Depois dessa idade somos “convidados” (leia-se: empurrados) a fazer outras coisas. Ou a desfrutar uma aposentadoria diferente. Independentemente do que você vai querer fazer quando se retirar, o dia da sua despedida vai chegar. Como ele será?
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Não estou perguntando se haverá fogos de artifício ou um grande evento. Quero saber como o seu coração vai estar quando você tiver que parar de produzir o que produziu por tanto tempo.
O que define se uma safra foi boa não á qualidade da última laranja que foi colhida. O que determina se um jantar foi saboroso não é apenas a última garfada do prato. Da mesma forma, o que vai acontecer no seu último dia de trabalho não é o que vai garantir que você fique feliz com a sua carreira. Uma prova disso é que o próprio Roger Federer perdeu em seu jogo final. Nesse dia o filme de longuíssima metragem chamado “Os muitos anos em que vivi trabalhando” vai terminar. E eu quero saber se a história vai ser de terror, comédia, romance ou aventura.
Pense na seguinte situação: vamos fazer de conta que você vai trabalhar no mesmo local onde está hoje até o fim da sua carreira. Você pode crescer em cargo, responsabilidade ou tamanho, mas vai ficar no mesmo negócio. E no dia que tiver que parar, as pessoas com quem você trabalhou vão fazer uma despedida. Nesse momento, eles te prepararão uma surpresa e vão mostrar vídeos com depoimentos de todos os profissionais que trabalharam com você ao longo da sua carreira. Estou falando das pessoas que foram seus chefes, seus pares, sua equipe, seus clientes, seus fornecedores. Também estão incluídos relatos da pessoa que servia o café para você, da equipe de limpeza e até dos seus concorrentes. O que eles falariam sobre como foi trabalhar ao seu redor?
Acredite se quiser: competidores do Federer choraram nesse momento. Apesar de saberem que suas tarefas vão ficar mais “fáceis” agora, algo fez com que eles ficassem tristes. Talvez tenha sido porque vão perder uma referência tão positiva ou talvez eles tenham memórias agradáveis do que viveram juntos. Mas o que passou, não vai mais voltar. E lembrar dessas marcas emociona.
Qualquer um de nós pode deixar rastros assim. Você não precisa ser o melhor tenista do mundo para deixar saudade nos colegas de profissão.
Trabalhar todos os dias ao lado de alguém talvez seja uma das formas mais práticas de mostrarmos o nosso caráter. Certamente alguém do seu convívio profissional já viu você em situações difíceis. Eles já presenciaram a sua versão quando precisa decidir algo muito importante. Ou a pessoa que você vira quando recebe muitos elogios. Em todos esses momentos estamos mostrando quem somos e deixando marcas nos outros.
No “jogo” da carreira e da vida fazer muito pontos é interessante. Mas atravessar a linha de chegada com a sensação de missão cumprida é ainda melhor. Se você também quer uma aposentadoria emocionante e recheada de lembranças positivas, lembre-se de construí-las hoje. Precisa ajustar seu “estilo de jogo” para que isso aconteça? A hora é agora.
João Branco é CMO do McDonald’s. linkedin.com/in/falajoaobranco/
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