A saída do CEO e do CFO da Americanas na quarta-feira (11), depois que a gigante do varejo anunciou um rombo de R$ 20 bilhões, foi, entre as decisões de carreira possíveis para executivos desse porte, talvez a menos pior. Os dois haviam assumido os postos nove dias antes de o problema vir a público e reduzir a quase zero as ações da empresa. “A melhor decisão seria nem ter aceitado, mas já que não foi possível, o melhor é sair rapidamente”, diz Augusto Carneiro, headhunter especialista em contratação de executivos para grandes empresas.
Aparentemente, a decisão de saída foi muito mais ligada à preservação da imagem de Rial – e do CFO que ele contratou, André Covre -, do que necessariamente ao problema que a empresa vem enfrentando. Parte dos analistas de mercado entende que nove dias talvez sejam insuficientes para que os dois tivessem a real dimensão do problema e tomassem uma decisão mais pensada em cima do caso.
Como a situação é muito recente, pouco se sabe do que há por trás das decisões de Rial e vai levar algum tempo para entender se foi o melhor movimento. “Assumir esse cargo sem saber de um problema desse tamanho pode sugerir que um executivo esteja mal informado sobre o que vai enfrentar. Ou que se deu conta que o desafio da gestão é bem maior do que ele imaginava”, diz Luciana Ferreira, professora de liderança e comportamento organizacional da Fundação Dom Cabral. “Vale lembrar que CEOs que assumem grandes desafios têm oportunidades importantes de carreira.”
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Funcionários afirmam que Rial já estava circulando pelos corredores da companhia e conversando com colaboradores há algumas semanas, algo esperado por seu estilo de gestão, direta, assertiva e, às vezes, polêmica. Em poucos dias de gestão, o novo CEO anunciou mudanças no dress code e chamou todos os funcionários que estavam em home office de volta ao escritório.
Gestão assertiva e polêmica
Rial é um executivo experiente e foi o responsável por levantar a rentabilidade do Santander em apenas dois anos de gestão, colocando-o entre os melhores desempenhos entre os grandes bancos brasileiros. Na Americanas, a expectativa era que ele liderasse algo semelhante, levando em conta a queda que as ações da varejista registraram durante a pandemia.
A palavra “transparência”, que o executivo usou no comunicado que a Americanas levou a público, é algo que faz parte de sua carreira. Aparentemente, Rial optou pelo lema da mulher de Cesar, de que não basta ser honesto, tem que parecer honesto, ao se demitir e não permitir que os problemas financeiros da Americanas manchassem sua carreira até então sem máculas. Só vai pairar a dúvida se não foi cedo demais para isso.
Remuneração variável
O Fato Relevante da Americanas de quarta-feira (11) pegou os funcionários de surpresa e, segundo fontes internas, tinha gente fazendo as contas da aposentadoria já que a maior parte da remuneração variável da empresa é atrelada à realização das ações – que caíram consistentemente nos últimos meses.
Um headhunter contratado pela empresa para vagas de alta gerência afirmou ser muito difícil fechar um contrato por conta da extensa duração do processo seletivo e da remuneração fixa e benefícios serem medianos em comparação ao resto do mercado. O atrativo são os ganhos variáveis, que chegavam a oito ou mais salários no final do ano. “Acontece que havia uma pressão no ar para que as pessoas optassem por ações da Americanas e quem não fizesse isso era muito mal visto, era tido como alguém que não confia na empresa.”